Cristiano, em mais uma de suas
participações, pergunta se “o entendimento contido na frase ‘o amor cobre a
multidão de pecados’ poderá futuramente ser aplicado na justiça humana.
Bem oportuna a questão, Cristiano. Esta
afirmativa, “o amor cobre a multidão de pecados” está na epístola de Pedro,
capítulo 4, versículo 8. Trata-se de um
entendimento bastante lógico de Pedro, pelo qual podemos deduzir que o único
instrumento capaz de derrotar o mal é o bem. Combater o mal que ainda existe em
nós é nos dedicar aos atos de amor ou caridade.
Foi o
que aconteceu com ele próprio, Pedro que, como todos sabemos, negou Jesus na
hora decisiva e depois passou a amargar profundamente a culpa por ter traído a
confiança do mestre que muito o amava. Nem por isso, Pedro ficou lamentando ou se
entregou ao pessimismo. Tampouco desistiu de trabalhar pelos princípios que o
Mestre lhe ensinara. Pelo contrário: reergueu-se da queda moral e partiu com
mais força para a difusão do evangelho. Pedro é um dos maiores exemplos de auto
superação que conhecemos.
O mesmo viria acontecer com Saulo de Tarso–
que passou a chamar-se Paulo - que era o
mais ferrenho perseguidor dos cristãos, mas que, ao chamado de Jesus – diante
da visão que teve do mestre – no caminho de Damasco – foi tocado no seu coração
e despertou para uma visão ampla da vida, passando à condição de maior apóstolo
do Cristianismo em todos os tempos. Com o seu amor, transformado em difícil
missão, Paulo se transformou e ajudou Jesus a transformar o mundo, sendo o
grande responsável pela doutrina de Jesus que chegou até nós.
Esse princípio, segundo o qual o mal pode ser
apagado com o bem, pode ser mais bem entendido se considerarmos que o mal é
simplesmente a ausência do bem, de modo que onde oi bem existe o mal desaparece.
Felizmente, tal princípio já é aplicado na legislação humana, Cristiano, até
porque – de Jesus para cá – muitas concepções vêm mudando no mundo.
Evidentemente, no tempo dos apóstolos, ainda estávamos bem atrás em matéria de
lei, porque pouco sensibilizados com a mensagem do amor. Hoje, apesar das
contradições que ainda persistem, nossas leis são mais humanas e, porque não
dizer, mais divinas.
Assim, a Lei de Execução Penal
brasileira, por exemplo, prevê o instituto da chamada “progressão da pena”.
Trata-se de um dispositivo legal que dá ao preso a chance de diminuir sua pena,
se se dedicar seriamente a um trabalho. A cada três dias numa determinada
atividade laborativa ele diminui um dia de sua pena; isso após ter cumprido,
pelo menos, um sexto de sua condenação. É claro que esse benefício não se estende a todos os
presos indiscriminadamente, pois há alguns crimes muito graves cujos autores
não são contemplados.
O mais importante na progressão de pena é o
esforço da lei em ressocializar o preso, para que ele, aos poucos, dedicando-se
a uma atividade útil e construtiva, vá se reintegrando na sociedade, para mais adiante voltar a ser um cidadão
comum. Veja, portanto, que se trata de uma medida de elevado valor moral e
social que pretende tirar o individuo da condição de delinquente ou pária da
sociedade para voltar a ser uma pessoa respeitável. Desse modo, a sociedade
reconhece que o criminoso pode ser recuperado.
Trata-se, portanto, de um instrumento
inspirado no princípio de que o ser humano é bom por natureza, como dizia Jean-Jacques
Rousseau. Muitas vezes, ele acaba se resvalando no crime por falta de oportunidades,
por falha da própria sociedade que somos nós. Por isso mesmo, somos todos
responsáveis pelos problemas que nos atingem individual e coletivamente, mas
enquanto não tomarmos consciência de que podemos evitar o crime, agindo na raiz
do problema pelo bem estar de todos, continuaremos a sofrer os efeitos da
ausência do amor.
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