Uma jovem da cidade de
Lupércio nos passou, através da ouvinte Odete,
a seguinte questão, que achamos muito interessante por nos dar a
oportunidade de abordar uma faceta importante do caráter da Doutrina Espírita.
A pergunta é a seguinte: “As obras escritas pelo médium Robson Pinheiro são
confiáveis?”
Veja bem. Pela forma como
a pergunta foi feita, se devemos ou não confiar nas obras que vieram através de
um médium, não é difícil perceber duas coisas:
ou essa jovem tem lido tais obras e colocado em dúvida conteúdos que elas
trazem sob o ponto de vista da doutrina espírita (cujas bases estão nas obras
de Allan Kardec) ou, então, antes mesmo
de tomar contato com as obras de Robson Pinheiro, ela já ouviu críticas sobre
elas. Seja qual for a situação, porém, o que importa é que existem dúvidas
sobre conteúdos da obra de Robson Pinheiro e, quando esses comentários se
generalizam, é sempre bom examinar com critério o que está acontecendo. Esse é
o caráter da Doutrina Espírita.
Porém, está muito claro nas obras de Allan Kardec – onde
encontramos os fundamentos da Doutrina Espírita – que, para o Espiritismo, o
que interessa é a verdade. O Espiritismo não pode abrir mão da verdade. Mesmo
assim a doutrina sabe que a verdade é relativa ao nosso grau de evolução ( o
que é verdade para uma criança não é para um adulto). Portanto, a verdade não
nos vem pronta e acabada, mas de acordo com o nosso progresso evolutivo – tanto
o progresso intelectual quanto o progresso moral. Como o conhecimento da
doutrina deve ser o nosso ponto de partida, é preciso conhecer o Espiritismo
para fazer um bom julgamento sobre qualquer obra. E conhecê-lo é estudá-lo,
porque só estudando é que vamos desenvolver o pensamento espírita, ou seja, vamos adquirir a maneira própria
de pensar do Espiritismo.
Assim, podemos dizer em linhas gerais que existe uma LÓGICA
ESPÍRITA. O Espiritismo desenvolve em cada um de seus adeptos essa maneira de
raciocinar, de entender o mundo e a si mesmo, de compreender o sentido da vida
e de discernir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Seguindo tais
diretrizes, como seres inteligentes, somos capazes de discernir ou de fazer
juízos mais perfeitos sobre o que lemos, vemos ou ouvimos. Por isso, Allan
Kardec recomenda, primeiramente, o estudo da doutrina a fim de que possamos
adquirir essa capacidade, considerando que aprender também é uma questão de
tempo e de amadurecimento. Desse modo, o Espiritismo, como doutrina, não tem
medo da verdade, nem se assusta com possíveis distorções que queiram fazer
sobre seus conceitos, pois, segundo Kardec, a verdade prevalecerá.
Os espíritas precisam aprender a ler a REVISTA ESPÍRITA. Num dos artigos desta revista, Kardec chega a
dizer aos seus críticos: “Se eu estiver
com a verdade, você acabará pensando como eu penso; mas, se eu não estiver com
a verdade, acabarei pensando como você”. É, sem dúvida, uma forma segura e
tranquila de lidar com a verdade, sem se assustar com verdades que possam, à
primeira vista, nos chocar emocionalmente. Tanto assim que, na REVISTA
ESPÍRITA, Kardec chega a fazer comentários sobre algumas obras de seu tempo,
obras que recebiam muitas críticas dos espíritas. Mas, interessante, é que ele
deixa para os leitores espíritas fazer seu próprio julgamento, a fim de
desenvolver a capacidade de discernir ou de pensar como o Espiritismo pensa.
Com relação às obras de Robson Pinheiro, como de muitos outros
médiuns - pois temos centenas de médiuns
no Brasil publicando seus trabalhos - a obrigação moral do espírita é ler essas
obras, procurar avaliá-las segundo os critérios que o Espiritismo estabelece e
tirar suas próprias conclusões. O que não devemos fazer – mas geralmente
fazemos – é ler somente os autores que concordam conosco. Isso seria um erro grave sob o ponto de vista do Espiritismo. Não
existe obra perfeita, não existe médium perfeito e tampouco existe Espírito
perfeito. Em toda obra vamos encontrar informações que atende às nossas
expectativas, tanto quanto pontos que não parecem incoerentes com o pensamento
espírita. Cabe a nós, a cada um de nós,
diferenciá-los, sabendo que o caminho para verdade é sempre cheio de
escolhos, mas é o leitor que precisa saber removê-los.
Não fosse assim, o próprio Kardec – que no seu tempo sofreu toda
espécie de críticas – não teria deixado, como deixou entre seus últimos
escritos, uma longa lista de livros que deveriam servir de base para o espírita
montar sua própria biblioteca. E, nessa lista, não se encontram apenas as obras
espíritas ou as obras que dão alguma sustentação à doutrina, mas estão também
as obras de combatem o Espiritismo – as obras escritas pelos adversários da
doutrina – porque, mesmo nessas obras há verdades, e o leitor espírita não
poderia estar seguro de sua crença, se não conhecesse as ideias contrárias às
suas, para saber se realmente ele está no melhor caminho.
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