1- O progresso alcançado
pela Humanidade nos últimos dois séculos, transformando a Terra num mundo
Globalizado, em tese deveria ter contribuído para a solução dos grandes
problemas sociais como a violência, a fome, as questões habitacionais. Todavia
a situação atual - incluindo o drama da tal Pandemia sobre a qual todos opinam
sem explicar a origem do mal e seus efeitos, demonstram que longe está a
criatura humana de alcançar uma realidade de Paz e Felicidade. Como, com base
no Espiritismo, explicar esse fenômeno?
Os males da Humanidade
provêm da imperfeição dos homens; pelos seus vícios é que eles se prejudicam
uns aos outros. Enquanto forem viciosos, serão infelizes, porque a luta dos
interesses gerará constantes misérias. Sem
dúvida, boas leis contribuem para melhorar o estado social, mas são impotentes
para tornar venturosa a Humanidade, porque mais não fazem do que comprimir as
paixões ruins, sem as eliminar. Em segundo lugar, porque são mais repressivas
do que moralizadoras e só reprimem os mais salientes atos maus sem lhes
destruir as causas. Aliás, a bondade das leis guarda relação com a bondade dos
homens; enquanto estes se conservarem dominados pelo orgulho e pelo egoísmo,
farão leis em benefício de suas ambições pessoais. A lei civil apenas modifica
a superfície; somente a lei moral pode penetrar o foro íntimo da consciência e
reformá-lo. Reconhecido, pois, que o atrito
oriundo do contato dos vícios é que faz infortunados os homens, o único remédio
para seus males está em se melhorarem eles moralmente. Uma vez que nas
imperfeições se encontra a causa dos males, a felicidade aumentará na proporção
em que as imperfeições diminuírem.
2- Os sistemas
legislativos idealizados por aqueles que, na estrutura das Nações, são os
responsáveis por isso, em muitos aspectos parecem criar regras baseadas na
ânsia de resolver as distorções observadas no coletivo. Porque não produzem os
efeitos esperados?
Por melhor que seja uma
instituição social, sendo maus os homens, eles a falsearão e lhe desfigurarão o
espírito para a explorarem em proveito próprio. Quando os homens forem bons,
organizarão boas instituições, que serão duráveis, porque todos terão interesse
em conservá-las. A questão social não tem, pois, por ponto de partida a forma
de tal ou qual instituição; ela está toda no melhoramento moral dos indivíduos
e das massas. Aí é que se acha o princípio, a verdadeira chave da felicidade do
gênero humano, porque então os homens não mais cogitarão de se prejudicarem
reciprocamente. Não basta se cubra de verniz a corrupção, é indispensável
extirpar a corrupção. O princípio do melhoramento está na natureza das crenças,
porque estas constituem o móvel das ações e modificam os sentimentos. Também
está nas ideias inculcadas desde a infância e que se identificam com o
Espírito; está ainda nas ideias que o desenvolvimento ulterior da inteligência
e da razão podem fortalecer, nunca destruir. É pela educação, mais do que pela
instrução, que se transformará a Humanidade.
3- Ilusão
acreditar então que os problemas crônicos da sociedade ampliados pela explosão
demográfica dos últimos 70 anos possam ser resolvidos um dia na Dimensão
Existencial em que nos encontramos?
O homem que se esforça
seriamente por se melhorar assegura para si a felicidade, já nesta vida. Além
da satisfação que proporciona à sua consciência, ele se isenta das misérias
materiais e morais, que são a consequência inevitável das suas imperfeições.
Terá calma, porque as vicissitudes só de leve o roçarão. Gozará de saúde,
porque não estragará o seu corpo com os excessos Será rico, porque rico é
sempre todo aquele que sabe contentar-se com o necessário. Terá a paz do
espírito, porque não experimentará necessidades fictícias, nem será atormentado
pela sede das honrarias e do supérfluo, pela febre da ambição, da inveja e do
ciúme. Indulgente para com as imperfeições alheias, menos sofrimentos lhe
causarão elas, que, antes, lhe inspirarão piedade e não cólera. Evitando tudo o
que possa prejudicar o seu próximo, por palavras e por atos, procurando, ao
invés, fazer tudo o que possa ser útil e agradável aos outros, ninguém sofrerá
com o seu contato. Garante a sua felicidade na vida futura, porque, quanto mais
ele se depurar, tanto mais se elevará na hierarquia dos seres inteligentes e
cedo abandonará esta Terra de provações, por mundos superiores, porquanto o mal
que haja reparado nesta vida não terá que o reparar em outras existências;
porquanto, na erraticidade, só encontrará seres amigos e simpáticos e não será
atormentado pela visão incessante dos que contra ele tenham motivos de queixa. Vivam
juntos alguns homens, animados desses sentimentos, e serão tão felizes quanto o
comporta a nossa Terra. Ganhem assim, passo a passo, esses sentimentos todo um
povo, toda uma raça, toda a Humanidade e o nosso globo tomará lugar entre os
mundos ditosos.
4- Isso não será
isto uma utopia, uma fantasia?
Sê-lo-á para aquele que não
crê no progresso da alma; não o será para aquele que crê na sua
perfectibilidade indefinita. O progresso geral é resultante de todos os
progressos individuais; mas, o progresso individual não consiste apenas no
desenvolvimento da inteligência, na aquisição de alguns conhecimentos. Nisso
mais não há do que uma parte do progresso, que não conduz necessariamente ao
bem, pois que há homens que usam mal do seu saber. O progresso consiste,
sobretudo, no melhoramento moral, na depuração do Espírito, na extirpação dos
maus germens que em nós existem. Esse o verdadeiro progresso, o único que pode
garantir a felicidade ao gênero humano, por ser o oposto mesmo do mal. Muito
mal pode fazer o homem de inteligência mais cultivada; aquele que se houver
adiantado moralmente só o bem fará. É, pois, do interesse de todos o progresso
moral da Humanidade.
5- Mas, que
importam a melhora e a felicidade das gerações futuras, àquele que acredita que
tudo se acaba com a vida? Que interesse tem ele em se aperfeiçoar, em se constranger,
em domar suas paixões inferiores, em se privar do que quer que seja a benefício
de outrem?
Nenhum. A própria lógica lhe
diz que seu interesse está em gozar depressa e por todos os meios possíveis,
visto que amanhã, talvez, ele nada mais será. A doutrina do “não fazer nada” é
a paralisia do progresso humano, porque circunscreve as vistas do homem ao
imperceptível ponto da presente existência; porque lhe restringe as ideias e as
concentra forçosamente na vida material. Com essa doutrina, o homem nada sendo
antes, nem depois, cessando com a vida todas as relações sociais, a
solidariedade é vã palavra, a fraternidade uma teoria sem base, a abnegação em
favor de outrem mero embuste, o egoísmo, com a sua máxima — cada um por si, um
direito natural; a vingança, um ato de razão; a felicidade, privilégio do mais
forte e dos mais astuciosos; o suicídio, o fim lógico daquele que, baldo de
recursos e de expedientes, nada mais espera e não pode safar-se do tremedal.
Uma sociedade fundada sobre o nadismo traria em si o gérmen de sua próxima
dissolução. Outros, porém, são os sentimentos daquele que tem fé no futuro; que
sabe que nada do que adquiriu em saber e em moralidade lhe estará perdido; que
o trabalho de hoje dará seus frutos amanhã; que ele próprio fará parte das gerações
porvindouras, mais adiantadas e mais ditosas. Sabe que, trabalhando para os
outros, trabalha para si mesmo. Sua visão não se detém na Terra, abrange a
infinidade dos mundos que lhe servirão um dia de morada; entrevê o glorioso
lugar que lhe caberá, como o de todos os seres que alcançam a perfeição.
6- A proposta do
Espiritismo segundo a qual a vida física é apenas parte de um processo mais
amplo que não começou na concepção nem terminará na morte do corpo, processo
que se repetira na caminhada do Espírito na direção de sua iluminação pode
alterar esse quadro?
Com a fé na vida futura,
dilata-se-lhe o círculo das ideias; o porvir lhe pertence; o progresso pessoal
tem um fim, uma utilidade real. Da continuidade das relações entre os homens
nasce a solidariedade; a fraternidade se funda numa lei da Natureza e no
interesse de todos. A crença na vida futura é, pois, elemento de progresso,
porque estimula o Espírito; somente ela pode dar ao homem coragem nas suas
provas, porque lhe fornece a razão de ser dessas provas, perseverança na luta
contra o mal, porque lhe assina um objetivo. A formar essa crença no espírito
das massas é, portanto, o em que devem aplicar-se os que a possuem.
7- Essa ideia não parece
utópica numa sociedade que fez do materialismo sua razão de ser?
Ela é inata no homem. Todas
as religiões a proclamam. Por que, então, não deu, até hoje os resultados que
se deviam esperar? É que, em geral a apresentam em condições que a razão não
pode aceitar. Conforme a pintam, ela rompe todas as relações com o presente;
desde que tenha deixado a Terra, a criatura se torna estranha à Humanidade:
nenhuma solidariedade existe entre os mortos e os vivos; o progresso é
puramente individual; cada um, trabalhando para o futuro, unicamente para si
trabalha, só em si pensa e isso mesmo para uma finalidade vaga, que nada tem de
definido, nada de positivo, sobre que o pensamento se firme com segurança;
enfim, porque é mais uma esperança que uma certeza material. Daí resulta, para
uns, a indiferença, para outros, uma exaltação mística que, isolando da Terra o
homem, é essencialmente prejudicial ao progresso real da Humanidade, porquanto
negligencia os cuidados que reclama o progresso material, para o qual a
Natureza lhe impõe o dever de contribuir.
8- Porque então as
religiões Ocidentais ou Orientais nas diferentes Civilizações e Eras em que
praticamente subjugaram a Ciência e a Política do Mundo não tiveram êxito?
Por muito incompletos que
sejam os resultados, não deixam de ser efetivos. Quantos homens não se sentiram
encorajados e sustentados na senda do bem por essa vaga esperança! Quantos não
se detiveram no declive do mal, pelo temor de comprometer o seu futuro! Quantas
virtudes nobres essa crença não desenvolveu! Não desdenhemos as crenças do
passado, por imperfeitas que sejam, quando conduzem ao bem: elas estavam em
correspondência com o grau de adiantamento da Humanidade. Mas, tendo
progredido, a Humanidade reclama crenças em harmonia com as novas ideias. Se os
elementos da fé permanecem estacionários e ficam distanciados pelo Espírito,
perdem toda influência; e o bem que hajam produzido, em certo tempo, não pode
prosseguir, porque aqueles elementos já não se acham à altura das
circunstâncias.
9 – Ante os
fracassos históricos observados nas sociedades humanas, para se evitar
repetições qual ponto deve ser enfatizado nessa luta titânica do EU contra o Todo
para se operar as mudanças que muitos anseiam?
Para que a doutrina da vida
futura doravante dê os frutos que se devem esperar, é preciso, antes de tudo
que satisfaça completamente à razão; que corresponda à ideia que se faz da
sabedoria, da justiça e da bondade de Deus; que não possa ser desmentida de
modo algum pela Ciência. É preciso que a vida futura não deixe no espírito nem
dúvida, nem incerteza; que seja tão positiva quanto a vida presente, que é a
sua continuação do mesmo modo que o amanhã é a continuação do dia anterior. É
necessário seja vista, compreendida e, por assim dizer, tocada com o dedo. Faz-se
mister, enfim, que seja evidente a solidariedade entre o passado, o presente e
o futuro, através das diversas existências. Tal a ideia que da vida futura
apresenta o Espiritismo. O que a essa ideia dá força é que ela absolutamente
não é uma concepção humana com o mérito apenas de ser mais racional, sem
contudo oferecer mais certeza do que as outras. É o resultado de estudos feitos
sobre os testemunhos oferecidos por Espíritos de diferentes categorias nas suas
manifestações, que permitiram se explorasse a vida extracorpórea em todas as
suas fases, desde o extremo superior ao extremo inferior da escala dos seres.
As peripécias da vida futura, por conseguinte, já não constituem uma simples
teoria, ou uma hipótese mais ou menos provável: decorrem de observações. São os
habitantes do mundo invisível que vêm eles próprios, descrever os seus
respectivos estados e há situações que a mais fecunda imaginação não
conceberia, se não fossem patenteadas aos olhos do observador.
10- Porque devemos
acreditar no sucesso dessa nova (velha) ideia?
Ministrando a prova material
da existência e da imortalidade da alma, iniciando-nos nos mistérios do
nascimento, da morte, da vida futura, da vida universal, tornando-nos palpaveis
as inevitáveis consequências do bem e do mal, a Doutrina Espírita, melhor do
que qualquer outra, põe em relevo a necessidade da melhoria individual. Por
meio dela, sabe o homem donde vem, para onde vai, por que está na Terra; o bem
tem um objetivo, uma utilidade prática. Ela não se limita a preparar o homem
para o futuro, forma-o também para o presente, para a sociedade. Melhorando-se
moralmente os homens prepararão na Terra o reinado da paz e da fraternidade. A
Doutrina Espírita é assim o mais poderoso elemento de moralização, por se
dirigir simultaneamente ao coração, à inteligência e ao interesse pessoal bem
compreendido.
(adaptação de texto elaborado por Allan Kardec)
Agora é a vez de José Donizete Dias que nos trouxe a seguinte solicitação: “Gostaria de saber se, quando a pessoa morre num acidente de carro, por exemplo, se ela sente no Mundo Espiritual o impacto da morte violenta”.
Quem aborda muito bem essa
questão da morte e da desencarnação é o autor espiritual André Luiz, pela
mediunidade de Chico Xavier. Depois das obras de Kardec, as obras de André
Luiz, foram as que mais informações trouxeram sobre o mundo espiritual ,
particularmente no que se refere aos primeiros momentos do Espírito após a
desencarnação. Há uma outra obra de
grande valor informativo, que busca sintetizar as de André Luiz, além de buscar
outras informações em diversas cartas de entes queridos desencarnados,
recebidas pelo médium Chico Xavier. Trata-se do livro intitulado NOSSA VIDA NO ALÉM, autoria de Marlene Nobre.
Não resta dúvida de que o gênero de morte
influi na condição do Espírito que acaba de desencarnar. Uma morte, que
acontece com o esgotamento natural do corpo por enfermidade, de uma maneira
geral, é mais confortável para o Espírito desencarnante, justamente porque
segue o ritmo da natureza, sem precipitação. Na ordem natural, o Espírito passa
a se desprender do corpo a partir desse momento e pode demorar horas para
desencarnar. Ou seja, desencarnação é diferente de morte. A morte é a cessação
das funções orgânicas e a desencarnação é o desprendimento do espírito do corpo
morto. Logo morte e desencarnação, no processo natural, não se dá ao mesmo
tempo: primeiro a morte e em seguida começa a desencarnação.
A morte causada por acidente, Donizete,
sobretudo a morte instantânea (aquela que se dá no local e no momento do
acidente), vai ter uma repercussão imediata
no Espírito. Muitas vezes, ela ocorre no auge da vida orgânica da pessoa –
quando ela está na plenitude da vida – e isso lhe causa um grande impacto.
Primeiro, porque a desencarnação se dá se forma instantânea, como se o
indivíduo fosse arrancado de seu corpo, e esse impacto pode lhe deixar
sequelas. É claro que o acidente não atinge o espírito diretamente, mas vai
atingi-lo através do corpo que a ele está ligado.
Contudo, Donizete, precisamos considerar um fator de grande
influência nessa situação, que é a condição moral do Espírito. Em geral, toda
desencarnação é assistida por Espíritos benfeitores, de modo a facilitar o
desprendimento do espírito. E essa assistência vai depender da condição moral
da pessoa. Quanto mais espiritualizada ela for – ou seja, quanto menos apegada
à vida material, quanto mais puros seus sentimentos e quanto mais boas ações
tenha praticado em vida – mais campo ela vai oferecer para ser atendida pelos
Benfeitores, seja nesse processo de desencarnação ou em qualquer outra situação.
Desse modo, há desencarnações motivadas por mortes em acidente em
que o Espírito está tão bem consigo mesmo, tão em paz com sua consciência pela
boa conduta que tem demonstrado, que ele nem assiste a esse desligamento brusco
do corpo. É que ele está sob uma proteção maior. Os seus protetores, que
perceberam antes o acidente que ia sofrer, o acudiram em tempo para livrá-lo de
uma situação angustiosa e dar o amparo que ele necessita.
Nesses casos, segundo as informações colhidas por cartas recebidas
pelo médium Chico Xavier, o Espírito é resgatado por benfeitores espirituais
que o encaminham para um acolhimento num posto de socorro, onde vai ser
devidamente tratado até ter condições de tomar consciência do que lhe
aconteceu, evitando o trauma da morte. Portanto, como você pode perceber,
existe no plano espiritual esse tipo de serviço de atendimento para alguns
casos. Todavia, de uma maneira geral, podemos dizer que cada caso é um caso,
pois depende do histórico do individuo; como dissemos, de como ele viveu, de
seus valores morais, de sua conduta – pois isso somado é que vai lhe
proporcionar a necessária tranquilidade de consciência, que o coloca em
prontidão para qualquer eventualidade.
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