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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

FAMÍLIA; ASCENDENTES ESPIRITUAIS DAS DOENÇAS; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 




CAUSA E EFEITO. A grande preocupação do momento, a COVID-19. Muitos questionamentos sobre o sentido espiritual da pandemia, como este: “A COVID-19, doença causada pelo novo coronavirus, está fazendo vítimas no mundo todo. Para boa parte das pessoas, o vírus não causará maiores danos; nalgumas a doença não se manifestará, em outras ela causará um pequeno dano que logo é curado, noutras ainda poderá exigir até uma internação com alguns dias de sofrimento, mas numa minoria (entre elas as dos grupos de risco), a doença levará as pessoas a óbito. A pergunta é: essas diferentes condições que a infecção do vírus provocará estão no carma de cada pessoa? A pessoa realmente deveria passar por isso?”

Abrindo O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, no capítulo 5, “Bem aventurados os aflitos”, onde Allan Kardec esclarece, no item 4: “As vicissitudes da vida são de duas espécies ou, se assim se quer, têm duas fontes bem diferentes que importa distinguir: umas têm sua causa na vida presente, outras fora dela.”  Depois disso, Kardec esclarece cada uma dessas situações em dois itens: “Causas Atuais das aflições” e “Causas Anteriores das Aflições”.

 Apesar de a questão estar muito bem clara na obra de Kardec, há uma tendência, mesmo no meio espírita, de se atribuir as aflições humanas somente a condutas de vidas passadas; esquecem dos erros que estão sendo cometidos nesta vida, agora, neste momento Este é um primeiro ponto sobre o qual chamamos atenção.

 A palavra “carma” não é espírita. Ela foi trazida do hinduísmo, mas quando utilizada no meio espírita ela vem com essa conotação de expiação do passado.  Kardec preferiu o termo expiação, embora o termo “carma” já existisse. No Espiritismo temos os conceitos de expiação, prova e missão.

 Outro ponto é a confusão que se faz entre expiação e prova, razão pela qual é comum se ouvir a respeito de alguém, que está sofrendo muito, a seguinte observação:  “É uma prova que fulano está passando.”   Prova ou expiação? Geralmente não há a preocupação de se fazer essa distinção. É o segundo ponto de nossa conversa de hoje.

 Comecemos por provas e expiações. As expiações são as consequências naturais de nossos erros, de qualquer erro – grande ou pequeno, cometido nesta vida ou em outras, agora ou anteriormente. Vamos utilizar a palavra “erro”, que é mais fácil para entender como se se dá a resposta da natureza. Se você der uma forte martelada no dedo, porque não tomou cuidado ou não soube manejar o martelo, com certeza, sentirá dor imediatamente e provavelmente perderá a unha;  e se você varar o ano letivo sem estudar, no final do ano se surpreenderá com um resultado negativo de aproveitamento.

 Essas duas situações retratam o que é expiação: expiação é você sofrer as consequências de seus erros e enganos. Não é Deus que castiga, é o efeito natural do que você fez. O resultado pode ser imediato ou futuro, mas não vai deixar de aparecer. Dependendo do erro cometido (muitas vezes a gente vem cometendo o mesmo erro durante toda a vida), o resultado pode ser imediato, a médio ou a longo prazo. Mas, uma coisa é certa, não é você que escolhe o resultado, cedo ou tarde ele virá.

 Nas provas, sim, é você que decide. Por isso, as provas são situações difíceis e sofridas, a que o Espírito se submete, reconhecendo suas necessidades e pensando em dar um impulso na sua evolução. Logo, a prova é escolhida, demonstrando que o Espírito já tem consciência de seus erros e se sente responsável por ele. Enquanto na expiação o Espírito não aceita o revés e se revolta contra o sofrimento, na prova geralmente ele o recebe com paciência e resignação, porque este é o estado natural de quem tem certeza de que nada acontece por acaso.

 Após tais distinções podemos voltar à questão das vítimas da pandemia. De fato, após a pandemia, teremos alguns resultados, mostrando que: 1º) uma grande parte não foi contaminada pelo vírus; 2º) outra parte foi contaminada, mas a doença não se manifestou; 3º) outra parte foi infectada, ficou doente, passou pelo tratamento, e ficou curada; 4º) uma minoria morreu.

Considerando os princípios acima expostos, não seria correto afirmar que todos os casos, mesmo dos que foram a óbito, dependeram única  e exclusivamente de erros do passado, porque, então, estaríamos ignorando as causas do presente.

Em Espiritismo não existe fatalidade no sentido absoluto dessa palavra, até porque o Espírito é livre para redirecionar seu destino a qualquer momento. É nisso que consiste o seu livre arbítrio. Se a sua sorte estivesse determinada antes desta encarnação, com certeza, nada que ele fizesse em contrário valeria a pena. Mas o livre arbítrio existe justamente para dar ao Espírito a liberdade de escolher ou modificar  o caminho que deseja trilhar.

 A doença, tanto quanto a morte – ou qualquer adversidade que surja na vida do Espírito – depende de vários fatores: depende do que ele veio fazendo em encarnações anteriores e depende do que ele está fazendo agora, na presente encarnação. Desse modo, o fato de um indivíduo ser acometido da COVID 19 e morrer desta doença depende da trajetória espiritual que veio fazendo, mas depende principalmente do que ele está fazendo agora em termos de cuidados com a saúde. Assim, o individuo pode vir a falecer, por negligência ou por abuso, porque não se preveniu, não fez o que deveria ter feito para se livrar da doença.

 Allan Kardec afirma que, diante de uma aflição, devemos primeiro verificar se ela adveio de alguma falta cometida nesta vida. Só no caso de não se verificar nenhuma causa presente (o que é muito difícil).  é que se pode deduzir que se trata de uma expiação apenas do passado. Eis porque o próprio Kardec, com relação à pandemia do Cólera, que aconteceu no seu tempo, recomendou que todos adotassem as medidas de prevenção. Na edição de outubro de 1865 da REVISTA ESPÍRITA, em pleno surto de cólera, a pandemia da época, respondendo a uma carta de um leitor de Constantinopla, Kardec deixou bem claro a necessidade de todos seguirem as recomendações das autoridades sanitárias, afim de prevenirem a doença que se espalhava.

 É preciso considerar, portanto, que o momento presente é sempre o mais importante de nossa vida, pois é o único momento em que podemos agir e interferir na realidade à nossa volta. O passado já foi e o futuro depende do presente. Os erros do passado devem estar refletindo em nossa vida hoje, mas só hoje é que conseguimos atenuar ou até mesmo anular seus efeitos, se soubermos agir com discernimento e vontade. Eis a importância do livre arbítrio.

Sabemos, portanto, que nada acontece por acaso; que por alguma razão estamos aqui neste momento, que muitos serão infectados pelo coronavirus e que alguns poderão vir a óbito e retornando ao mundo espiritual. Contudo, as causas que determinaram os sofrimentos individuais não são fáceis de se situar, embora saibamos que, coletivamente, acometidos por essa pandemia todos, como indivíduos e como coletividade, temos muito a aprender.
















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