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domingo, 24 de janeiro de 2021

OBSESSÃO; CARIDADE; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR





 Esta questão foi formulada por um senhor de iniciais L.C.S. e diz o seguinte:  “Vejo que os espíritas dão muito valor à ciência, mas entendo que devemos seguir os evangelhos. O apóstolo Paulo disse que a ciência humana diante de Deus é loucura. O que vocês têm a dizer sobre isso?”

 Na tradução bíblica de João Ferreira de Almeida, a frase dita por Paulo foi: “Ninguém se engane a si mesmo, se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estúpido para se tornar sábio, porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus”. Ferreira de  Almeida usa, portanto, a palavra sabedoria ao invés da palavra ciência para traduzir o pensamento de Paulo. Os textos bíblicos passaram por inúmeras traduções.

A frase de Paulo, por sua vez, denuncia discordâncias entre os membros daquela comunidade, o que comprometia o trabalho de divulgação do evangelho. A frase tem um sentido próprio, se procurarmos entender em que circunstâncias ela foi dita, ou seja, por que Paulo estava dizendo aquilo naquele momento e naquele lugar. Tirada do contexto, ou seja, lida isoladamente, para os menos avisados, parece que a sabedoria ou a ciência  em si é um caminho contrário a Deus. Não nos parece que era nesse sentido que Paulo falava.  

  Na verdade, Paulo estava preocupado com pessoas de dentro da igreja de Corinto que assumiram uma postura radical em relação aos ensinamentos de Jesus  e  estavam insuflando ideias de separação, ao virem com mensagens diferentes das que ele transmitia. E, naquele momento, quando muitos outros problemas ameaçavam os cristãos, um racha em Corinto seria um retrocesso de todo trabalho de evangelização que vinha sendo feito, que estava sob sua responsabilidade e que buscava, justamente, a união de todos.

 É o que acontece com todo grupo, que nasce de uma ideia central e que, com o tempo, tende a se diferenciar dentro de si mesmo por causas de interesses e visões particulares, formando segmentos diferenciados com interpretações diversas. Isso já vinha acontecendo há séculos com o próprio povo hebreu, ao qual Paulo pertencia. E ele, como um homem bem informado, sabia o que representava uma dissensão no grupo naquele momento. Jesus deixara a lição sobre os cuidados na  separação entre o trigo e o joio e Paulo, como um bom líder, tinha que ser moderado em suas decisões.

 Naquele momento, portanto – ou naquele século, como ele disse – seria desastroso favorecer uma divisão, que só viria enfraquecer o movimento cristão e foi justamente por isso que ele escreveu essa carta à igreja de Corinto, alertando para que o problema fosse combatido. Disso resulta , caro ouvinte, que é preciso ler, saber o que está lendo, de que se trata, o porquê do texto naquele momento, para interpretar o que realmente Paulo quis dizer. 

Do nosso ponto de vista, estudando com mais cuidado a situação, achamos que  a palavra  “ciência” da tradução bíblica não corresponde ao que sabemos hoje ser a ciência e, portanto, não é apropriado para o que Paulo estava querendo dizer. Pelo contrário, ele pode trazer confusão na cabeça do leitor menos avisado, porque ciência naquela época era uma coisa e hoje é outra. As palavras, caro ouvinte, assumem diferentes sentidos com o tempo, com cada povo e cada lugar. Devemos estar atentos quanto ao sentido das palavras nos textos antigos.

 Falando em sabedoria e em sábios, com certeza, Paulo se referia às pessoas que queriam assumir liderança com ideias próprias, movidas por interesses próprios, e fugindo às diretrizes dos evangelhos de Jesus. Para Paulo eles queriam se apresentar como sábios, donos da verdade, tentando convencer o povo de que a interpretação que Paulo dava à mensagem de Jesus estava errada. Naquele momento, manter o movimento sob um único comando era algo indispensável para que o povo se sentisse mais confiante e seguro.

 Hoje sabemos que a inteligência do homem provém da inteligência de Deus. Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Ele nos deu a incumbência de utilizar a inteligência para fazer o bem. Como o somos imperfeitos, só com o tempo e as amargas experiências da vida vamos aprendendo a superar o egoísmo e o orgulho e, em  consequência, aprendendo a usar a inteligência para as elevadas finalidades para as quais foi criada.

De fato, não dá pra comparar a sabedoria humana com a sabedoria de Deus, mas dá para perceber que uma derivou da outra, pois foi assim que Deus nos criou, com inteligência suficiente para progredir e evoluir sempre. Tudo que o homem descobriu, inventou e criou – desde os tempos mais recuados de sua história até hoje – veio dessa inteligência e deve servir para ajudá-lo  a buscar a o bem e a verdade. Portanto, a sua sabedoria, tanto quanto a sua ciência, não podem ser desprezadas.

 Logo, para concluir, podemos dizer que Paulo não condenava o saber dos estudiosos de sua época, mas condenava, sim, o que o homem estava fazendo de seu saber, para que estava usando sua Inteligência, pois a ciência pode ser vir tanto ao mal quanto ao bem. A questão não é condenar ou absolver a ciência humana, mas saber utilizá-la para o bem de todos. O bem, na filosofia de Jesus, é o valor supremo da vida. 


















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