Por que será que as pessoas discutem
tanto religião? Hoje eu entendo que isso
não leva a nada. Ninguém é dono da verdade, e as religiões são apenas formas
diferentes de entender a vida. O incrível é que já tivemos guerras religiosas e
muita gente ainda é sacrificada por motivo religioso. Gostaria que vocês
falassem sobre isso. (Ivana)
Dias
atrás, Ivana, apreciávamos alguns pássaros disputando o alimento colocado sobre
um tablado suspenso e seguro. Havia muitos grãos apetitosos espalhados sobre o
tablado e, assim mesmo, os pássaros brigavam entre si, cada qual querendo ter
prioridade sobre a comida que estava à frente e que era suficiente para
alimentar todos. Parecia absurdo aquela disputa.
Lembramos dos seres humanos. Nós também temos
esse impulso de disputar as coisas por causa do nosso orgulho e do nosso egoísmo.
Está no instinto animal, que ainda não conseguimos superar. Cada um de nós,
Espíritos encarnados neste planeta, se sente um pouco dono da verdade, e quer
todos se curvem diante daquilo que considera certo. Veja que absurdo, Ivana!...
Absurdo, sim, do ponto de vista lógico,
pois no fundo sabemos que nossa verdade, qualquer que ela seja, sempre será relativa e imperfeita, quando não,
totalmente equivocada.
Veja o
que acontece com a ciência. Pouca gente
parou alguns minutos para refletir um pouco sobre esse enorme conjunto de
cabedal de conhecimentos que a humanidade veio adquirindo ao longo dos séculos
e que, através de muito estudo e muita pesquisa, a ciência tem conseguindo
sintetizar num conjunto de verdades. Essa busca pela verdade atende tanto à
curiosidade de se conhecer as leis da natureza, como de utilizá-las para o
conforto e o bem estar do homem. Veja quantos benefícios a ciência nos tem
trazido até hoje!
Pois
é, Ivana. Mas mesmo a ciência - que trabalha com um universo restrito para não
perder o controle – não contém toda a verdade. Ao contrário, nenhum campo de
conhecimento humano tem tanta consciência de seus limites, como a ciência. No
campo científico, o que foi verdade ontem pode não ser verdade hoje. Amanhã,
certamente, algum cientista descobrirá uma verdade diferente e que substituirá
a verdade de hoje, e assim por diante.
Ora,
será que não aprendemos com a vida? As religiões, Ivana, são instrumentos de
vida que o ser humano criou para ajuda-lo a viver melhor, com mais confiança,
com mais segurança e, sobretudo, com mais amor para com o próximo e para consigo
mesmo. O mais elevado propósito de toda religião deveria ser sempre o de
estabelecer uma convivência fraterna entre as pessoas, amando-as e
respeitando-as como elas são, ou seja, respeitando suas diferenças. O mundo
está assim, do jeito que não queremos, porque as pessoas não se entendem, os
países não se entendem.
No
seu tempo, meados do século XIX – há cerca de 160 anos - Allan Kardec, se
preocupou muito com isso, pois vivia num momento de muita intolerância
religiosa na Europa. Tanto assim que, no capítulo intitulado “Lei de Liberdade”
de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, que trata da liberdade de pensar e da liberdade de
consciência, ele fez vários questionamentos nesse sentido, deixando claro qual
é o posicionamento do Espiritismo a respeito das religiões em geral.
Na
questão 842, Kardec pergunta: “Todas as doutrinas, tendo a pretensão de
ser a única expressão da verdade, por que sinais se pode reconhecer aquela que
tem o direito de colocar como tal?” E os instrutores espirituais respondem
( ouça bem esta resposta e pense muito sobre ela):
“Será aquela que faz mais homens de bem e
menos hipócritas, quer dizer, praticante da lei do amor e da caridade na sua
maior pureza e na sua mais larga aplicação. Por esse sinal reconhecereis que
uma doutrina é boa, porque toda doutrina que tiver por consequência semear a
desunião e estabelecer uma demarcação entre os filhos de Deus, não pode ser
senão falsa e perniciosa.”
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