Eis um questionamento que nos fizeram esta semana. Se o Espiritismo já tem 160 anos e só diz a
verdade sobre a vida espiritual do homem, antes e depois desta vida e, se nós
precisamos da verdade para tomar boas decisões e seguir em frente, por que os
Espíritos não se encarregam de revelar tudo de uma vez? Muitos erros seriam
evitados e a humanidade caminharia com mais segurança.
Não é
tão simples assim. O Espiritismo nos informa que cada verdade vem a seu tempo,
mas essa verdade não satisfaz todos os homens de uma só vez, porque nós, habitantes
da Terra, estamos em diferentes níveis de compreensão da realidade. Quando a
doutrina surgiu, há 160 anos, foi um número muito reduzido de pessoas que pôde
captar a profundidade e a amplitude de sua mensagem; os demais não estavam
preparados para isso: ou ficaram indiferentes ou combateram a doutrina, como
muitos fazem até hoje.
Moisés
falou para seu povo há cerca de 2.300 anos atrás, mas ele falou da forma que o
povo podia entender e de acordo com os conhecimentos e a cultura da época. Só
13 séculos depois é que Jesus veio no mesmo povo trazendo uma nova revelação,
assim mesmo sabendo que apenas uma minoria aceitaria de pronto sua mensagem. Não
deu outra; ele foi perseguido e executado. Mas Jesus, também, não disse tudo (
e nem tinha como dizer), pois a assimilação da verdade é um processo lento e
sofrido, como lenta e sofrida é a forma como aprendemos a viver. Afinal,
estamos prendemos a vida toda.
Conforme Kardec explica na sua última obra, A
GÊNESE, a verdade é um caminho e não uma meta definida onde vamos chegar e tudo
estará esclarecido. Não. Ela vai se configurando ao longo dos séculos através das
experiências dos Espíritos, porque a compreensão da verdade depende da
vivência, da assimilação de conhecimentos e do aprimoramento dos sentimentos
humanos. Por isso temos inúmeras encarnações. Tanto assim que ao ser indagado sobre a
verdade por Pilatos, Jesus se calou. Pilatos não estava em condições de
compreender a sua verdade.
Há
uma teoria interessante do pesquisador suíço, Jean Piaget, que se notabilizou
pelos estudos sobre aprendizagem. Ele dedicou sua vida para pesquisar como a
criança aprende e percebeu que o processo de aprendizagem é semelhante ao
processo do metabolismo dos alimentos pelo corpo. É por isso que não se pode dar um alimento sólido ao bebê;
ele não tem condições de digerir o alimento e muito menos de assimilar seus
nutrientes. Cada faixa de idade tem seus próprios alimentos e suas próprias
necessidades.
O conhecimento também é assim. Há verdades
para as quais nós, cidadãos do século XXI, não estamos espiritualmente preparados.
Mesmo que elas nos fossem ditas hoje, não teríamos como compreendê-las e muito
menos como aceitá-las. No entanto, o caminho da evolução ( Evolução é uma lei
da natureza) nos leva a isso um dia –
num dia que pode estar próximo, que pode
estar mais ou menos distante ou muito distante, dependo do crescimento
espiritual de cada um de nós. Isso também acontece com a humanidade como um
todo. Há pessoas que, até hoje, acreditam que a Terra é plana; outras se acham
muito além da crença comum da população.
Além
do mais, precisamos analisar, do ponto de vista da verdade, os interesses que
prevalecem no mundo. A humanidade terrestre, de uma maneira geral, ainda está
presa aos interesses materiais e, portanto, tem dificuldade de compreender o
que é espiritual. Quem fabrica armas não tem motivos para compreender a
necessidade da paz. Nicodemus, por exemplo, não entendeu quando Jesus falou que
é necessário nascer de novo e muitos, ainda hoje, não entendem.
Nós,
humanidade, ainda palmilhamos apenas sobre o terreno material. Aceitamos
verdades práticas – ou seja, aquelas que dão resultados e vantagens imediatas,
mas temos imensa dificuldade de compreender as verdades amplas e eternas, por
estarmos plantados no presente. Logo, mesmo que a Espiritualidade se propusesse
a promover uma revelação em massa de uma verdade, não obteria êxito, por causa
dos interesses que prevalecem no mundo. É preciso esperar que a humanidade
amadureça para muitas verdades, que estão ditas hoje, possam ser assimiladas.
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