Ariovaldo D’Nicolai, residente no Jardim
Mondrian, atendendo solicitações de amigos, pergunta se o centro espírita pode
realizar cerimônias de casamento, como acontece nas igrejas em geral.
Não, Ariovaldo. O Espiritismo não adota nenhum tipo de ritual
ou ato celebrativo, e nisso ele se
diferencia em muito das religiões tradicionais. Nesse sentido, lendo as obras
de Allan Kardec, percebemos que um dos pontos fundamentais da doutrina é
valorizar o pensamento, como fonte
de nossa vontade.
Mesmo
no ato da prece, que é um elemento de grande importância na doutrina, o que
realmente nos liga a Deus é o sentimento
de quem ora e não os adornos exteriores. Na sua admirável simplicidade, foi
assim que Jesus ensinou a orar, sem necessidade sequer de usar muitas palavras. Basta consultemos as
suas palavras nos evangelhos, especialmente em Mateus, e vamos verificar que,
durante o chamado Sermão da Montanha, quando falava ao povo, ele mostrou no que
consiste a oração.
Naquela época, cerca de dois mil anos atrás, os judeus utilizavam de uma série de símbolos
e rituais cerimoniosos que, segundo o
Levítico, terceiro livro da Bíblia, teriam sido exigidos por Deus para que ele
sentisse realmente adorado. Dentre as
inúmeras práticas litúrgicas ( muitas das quais foram retomadas depois pelas
religiões cristãs), havia, por exemplo, o uso de roupas especiais, hinos e
louvores, a circuncisão, as oferendas (geralmente sacrifícios de animais).
Entre
suas obrigações, o judeu deveria procurar Deus no templo de Jerusalém, para
onde ia pelo menos uma vez ao ano, deslocando-se de qualquer ponto da província
onde morava para fazer essa jornada até a capital. Acreditava-se que Deus
estava no templo, no altar dos altares, lugar sagrado, onde deveriam se
encontrar também as tábuas das leis, recebidas por Moisés.
Jesus,
ao se dirigir ao povo, afirmou que o encontro com Deus pode dar-se em qualquer
tempo e lugar, sem necessidade de qualquer aparato especial, pois Deus deve ser
encontrado no coração de quem ora. Ele valorizou, portanto, o sentimento e não
o ato em si, quando disse que, antes da oferta diante do altar, devemos buscar
o adversário para se reconciliar com ele. A reconciliação – ou seja, a busca do
bem dentro de si – esta é a verdadeira oferta.
Assim
também ensina o Espiritismo. Não é que a doutrina condena as manifestações e
rituais religiosos. Ela apenas os considera desnecessários, quando o sentimento
fala mais alto. Desse modo, o Espiritismo dispensa qualquer tipo de cerimônia
religiosa e se prende unicamente ao fato de que nos ligamos a Deus pelo sentimento.
Por outro lado, a doutrina considera que as pessoas, de um modo geral, acabam se apegando mais às manifestações
exteriores, à beleza da forma, esquecendo-se de se ligar ao essencial, que é
Deus.
Desse
modo, Ariovaldo, não há no Espiritismo qualquer tipo de ritual ou cerimônia. A
única manifestação do espírita diante de Deus é a prece humilde e sincera, que
nem precisa se exteriorizar, quando é cultivada no mais íntimo da alma. Quando
valorizamos mais o que está fora, esquecemos de dar o devido valor ao que vem
de dentro. Não foi por outra razão que Jesus criticou tanto os fariseus, que
viviam mais preocupados com os atos exteriores do que com a própria conduta.
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