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sexta-feira, 12 de março de 2021

MORRER E DESENCARNAR: DIFERENÇAS ACENTUADAS; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 

Abel Gomes está entre aqueles que acreditam na necessidade de falar-se “à mente do povo, acerca dos acontecimentos além do túmulo, com a simplicidade possível de modo a combatermos a ilusão que cobre os fenômenos da morte, em todas as latitudes”.

Segundo ele “a cerimônia dos funerais e o convencionalismo do velório dificultam, sobre maneira, a nossa cruzada de libertação mental”.

Para ele “as velas acessas, o crepe escuro, etc, usados pela Igreja que há séculos nos preside a cultura sentimental, imprimem tamanhas características nas almas recém desencarnadas que somente alguns poucos Espíritos treinados no conhecimento superior conseguem evitar as deprimentes crises de medo que, em muitos casos, perduram por longo tempo”. A seguir a parte final de nossa entrevista publicada ontem com o escritor e jornalista.

 

INFORMAÇÃO - Onde o consciência desta justiça?

Abel Gomes - "Há uma justiça imanente funcionando em nossa organização espiritual mais profunda, e, de acordo com os seus princípios, retificamos nossas faltas, enquanto nos demoramos na experiência terrestre, usando aguilhões da disciplina e recursos de corrigenda contra os nossos próprios caprichos. Os mínimos impulsos benéficos, a que nos dedicamos, são por essa mesma justiça recompensados, e a Compaixão Divina, através de mil modos diferentes, se mistura ao rigor das leis, em nosso benefício. Chegados a essa condição, reconhecemos que ainda o mais leve, mas perseverante pensamento de amor, produz alegrias e bênçãos em multiplicação imprevisível, tal qual uma só semente de árvore protetora frutifica no Bem por tempo indeterminado".

INFORMAÇÃO - E os vitoriosos na experiência do Plano Material?

Abel Gomes - "Se, além da morte do corpo, é nossa mente amadurecida e mais sutil, incorporados à individualidade eterna todos os valores que a luta humana seja capaz de fornecer-nos, então, somos naturalmente conduzidos por devotados Orientadores Espirituais a centros de cultura avançada, aperfeiçoando-se-nos as qualidades de inteligência e de coração em novos círculos de serviço mais nobre, nos quais a matéria se expressa em tipos sublimados nas menores manifestações".

 

INFORMAÇÃO - O que fazer para alcançar esse nível enquanto encarnados?

Abel Gomes - "É necessário estejam nossas energias e tendências voltadas para a vida superior, com esquecimento de tudo o que signifique exclusivismo no grande caminho. A alma, a essa altura, viverá desligada dos interesses imediatos da existência carnal, ainda mesmo em se tratando de preferências afetivas nas alianças pessoais; adejará na luz do verdadeiro amor, agora, porém, no clima da grande compreensão, em referência aos entes amados que se demoram na retaguarda. Suas paixões mais ardentes estarão transformadas na própria sublimação, e seus caprichos individuais substituídos por objetivos humanos, ligados ao progresso comum. Por esta razão, porque já se afeiçoa à alegria de todos, como sendo a sua própria, sem artificialismo e sem sacrificio, habilita-se a viver em comunhão real com extensos agrupamentos de criaturas que se afinam com as suas ideias, sentimentos e manifestações. Vive dentro da comunidade e produz com ela, sem a preocupação de vantagens isoladas, de modo algo semelhante à abelha que entrega o fruto do seu esforço à colmeia, anexando-o automaticamente à obra geral, guardando embora a individualidade e assinalando-se por valores intrínsecos, nos quadros do trabalho e do merecimento".

 

INFORMAÇÃO - E, quanto a situação em que se encontram no Plano Espiritual?

Abel Gomes - "Vemos compactas assembléias de lidadores dos planos mais altos, em respeitáveis associações para empreendimentos e serviços mútuos, nos variados campos da ciência e da arte; tal vida, com atividades coletivas, só se lhes tornou possível por virtude da libertação mental. Nesses agrupamentos, imperam outros princípios para a vida em família, com excelências de moral e beleza que os círculos estreitos do homem ainda estão longe de conhecer. Dessas congregações de gênios da bondade e do trabalho, da harmonia e da inteligência partem, para outros mundos, missões de estudiosos que se interessam pela nossa esfera. Júpiter, Saturno, Marte e outros gigantes de aperfeiçoamento em nossa organização planetária, são visitados constantemente por esses vanguardeiros da luz e do amor, para a permuta de valores necessários ao nosso engrandecimento; em muitos casos, descem esses missionários à experiência carnal, em que desempenham altos misteres na política, na administração, na ciência e na fé religiosa, legando às criaturas sulcos de luz inapagável, nos exemplos e experiências que transmitem às gerações mais novas".

INFORMAÇÃO - Como ficam os que conhecem as Verdades da Imortalidade mas não conseguiram viver como pensaram?

Abel Gomes - "Nem todos se retiram da Terra na posição de heróis. A perfeita sublimação é obra dos séculos incessantes. Notamos, em toda parte, homens e mulheres de boa vontade inequívoca na aceitação das Verdades Divinas e que, no entanto, não conseguem aplicá-las, de pronto ou de todo, à própria vida. Aqui, vemos companheiros que já conseguem livrar-se dos laços asfixiantes da cobiça, na zona do dinheiro, vivendo em louvável desprendimento das posses materiais, prendendo-se, no entanto, à sexualidade, ainda incapazes de quebrar os aguilhões que os ferretoam nesse domínio; outros, aquietados em perfeita serenidade, extinguiram, na profundeza anímica, os últimos resquícios das ardentes paixões carnais, contudo, apegam-se a míseros vinténs, convertendo a vida num culto lastimável e exclusivo ao ouro que o chão reclamará. Muitos ensinam o Bem, com vigor e beleza nas palavras e com atitudes e atos que os desabonam, não obstante as intenções respeitáveis que os animam, demonstrando incapacidade no reger os próprios pensamentos e desintegrando com o verbo impulsivo as boas obras que executam com as mãos. Não raros praticam o Bem, mas simplesmente para com aqueles a quem se inclinam pela simpatia, negando-se a ajudar quantos lhes não penetram os círculos do agrado pessoal. Inúmeras pessoas se reconfortam com o ensino religioso de santificação em seu campo interior, mas o renegam na esfera de ação objetiva. Existem os que suportam o trabalho pela Humanidade, durante certo número de anos, relegando-se, em seguida, a longo período de inércia".

 

INFORMAÇÃO - Que tipo de assistência recebem?

Abel Gomes - "Toma o Governo da Vida boa conta dos serviços, pequenos ou grandes, que hajam prestado, porquanto é da Lei que até as menores sementes da nossa vida mental produzam a seu tempo. Velho conhecido de minhas relações particulares assassinou certo companheiro de luta, em deplorável momento de insânia, e, não obstante ver-se livre da justiça humana, que o restituiu à liberdade, experimentou longo martírio da consciência dilacerada, entregando-se, por mais de quatro decênios, à caridade com trabalho ativo pelo Bem do próximo. Com semelhante procedimento, granjeou a admiração e o carinho de vários Benfeitores da Espiritualidade Superior, que o acolheram, solícitos, quando afastado da experiência física, situando-o em lugar respeitável, a fim de que pudesse prosseguir na obra retificadora. Pelos fios da amizade e da colaboração que soube tecer, em volta do coração, para solucionar o seu caso, conseguiu recursos para ir no encalço da vitima, que a insubmissão havia desterrado para fundo despenhadeiro de trevas e animalidade. Não se fez dela reconhecido, de pronto, de modo a lhe não perturbar os sentimentos, auxiliando-a a assumir a posição de simpatia necessária à receptividade dos benefícios de que era portador; e, após lutar intensivamente pela sua transformação moral, em favor do necessário alçamento, voltará às lides da carne, a fim de recebê-lo nos braços paternos. Tendo subtraido ao irmão a oportunidade de viver e lutar no campo terrestre, restituir-lhe-á o corpo perdido, ajudando-o a desenvolver-se para a educação, entre as dádivas da existência comum. Sofrerão juntos, a princípio, quando de volta à matéria espessa, as velhas antipatias do pretérito, mas o homicida regenerado conseguiu, por seus méritos, a graça de ser pai e, nessa condição, é justo esperar-lhe a vitória porque, na qualidade de progenitor, sentirá sublime alegria em renunciar e sacrificar-se. Quando os grandes inimigos adquirem o ensejo da convivência nos elos da consanguinldade, apreciável mérito já lhes assinala o caminho evolutivo, porquanto, sob o mesmo teto, quando aceitam os imperativos do verdadeiro amor, podem solidificar os alicerces da perfeita união. Quem conquistou o dom de ajudar, sem pedir remuneração, penetrou o caminho de acesso efetivo à Espiritualidade Superior. O crime passional do amigo a que me reporto não lhe valeu o Inferno sem-fim, segundo ensina a antiga teologia, mas custou-lhe vastíssimos padecimentos, em beneficio do reajuste, com enorme despesa de tempo, de vez que, se houvesse suportado o adversário, com paciência, prescindiria de tantas e tão longas canseiras de reparação.

 

INFORMAÇÃO - As Leis de Causa e Efeito projetam, portanto, experiências retificadoras permanentemente...

Abel Gomes - “Lembro-me aqui, igualmente, de velho lidador que se rodeou de muitos servidores, dos quais reclamava obediência passiva, embora prestando incontestáveis benefícios à paisagem que o viu renascer. Amparou a terra e estabeleceu para as gerações mais novas a instrução rudimentar, com o que instituiu grandes vantagens para muitas almas, atraindo a simpatia de vários Benfeitores do Plano Superior; mas era demasiado cruel para com as criaturas que presumia inferiores. E, em razão disso, instalou, com a autoridade de que dispunha, condenável sistema de punição para trabalhadores que julgava relapsos. Com a medida infeliz, alguns servos se viram depressa minados pela tuberculose fatal. Invocada por suas exigências, a morte visitou-lhe a propriedade, ceifando existências diversas e perturbando muitos programas da Direção Mais Alta para o futuro. Atingindo a Esfera Espiritual, viu-se pungido de acerbo remorso, mas, se errara por um lado, exagerando o castigo a homens pobres, que ele não socorrera nem educara suficientemente, colaborara com segurança e decisão por um padrão mais elevado de vida, no círculo que o vira renascer, fazendo quanto lhe era possível pelo progresso comum. Suas qualidades nobres acusavam superavit sobre as imperfeições, e o Governo Superior concedeu-lhe uma reencarnação expressiva, em que lhe será facultado um titulo de médico, através do qual pretende o velho lidador consagrar-se aos corpos doentes, muito especialmente no que se refere à tisiologia, aprendendo a ajudar aos companheiros de luta humana e amenizando o próprio coração".




 Será que os problemas que o povo brasileiro está vivendo hoje, com tanta violência e corrupção, é um carma da população pelos males do passado? (Roberto Silva)

 Como você sabe, Roberto, o que podemos chamar expiação individual e expiação coletiva? No Espiritismo, isso que é chamado de carma preferimos chamar de expiação. Expiação, para o entendimento de todos, é o sofrimento que decorre dos erros. Toda vez que erramos, colhemos – em seguida ou mais na frente, ou bem mais na frente  – as consequências. É a lei da vida. Se essa lei vale para os atos que praticamos hoje – com os pequenos erros do dia a dia -  também é válida para os grandes erros que cometemos em encarnações anteriores. A diferença está no tempo que decorre entre o cometimento do erro e seus efeitos.

 Se cada um de nós sofre as consequências dos próprios erros, família, a comunidade, o povo, a nação também sofrem, porque se existem erros individuais, também existem erros da coletividade. Cada um de nós, Espíritos integrantes de um grupo social, querendo ou não, tem participação nos erros que a sociedade comete. Por exemplo, os preconceitos. A sociedade tem seus preconceitos e, muitas vezes, embarcamos nesses preconceitos, alimentando sentimentos de superioridade em relação a outros que são diferentes de nós. Logo, respiramos e alimentamos os preconceitos da sociedade, de modo que, mais cedo ou mais tarde, teremos que responder por isso, juntamente com os outros. É o que chamamos de expiação coletiva.

  Essa resposta da lei divina tem dois lados: o individual e o social. Cada um responde pelo que faz e a sociedade, como um todo, também responde pelo mal que causa. Nesse sentido, você tem razão. Aquilo que a sociedade brasileira semeou no passado tem repercussão no presente, até porque não estamos aqui pela primeira vez, já fizemos parte desta sociedade, já cometemos nossos erros ( ou por iniciativa própria, ou participando de uma  ação de família ou de uma ação da própria sociedade), de modo que a resposta da natureza vem, mais cedo ou mais tarde,  para nos cobrar.

Um erro dos mais graves no passado da sociedade brasileira foi a escravidão. Então, perguntamos, quantos de nós não estamos envolvidos nesse erro, direta ou indiretamente? Quem pode nos garantir que não ajudamos a promover o regime escravocrata que hoje condenamos; e, indiretamente, será que  não usufruímos dessa forma degradante e cruel de tratar as pessoas, só para levarmos vantagem?. Mas, não é só: e os roubos? E os assassinatos? E a corrupção? E a degradação moral que existiu no passado desta nação, onde diretamente ou indiretamente poderíamos estar envolvidos? Tudo isso é levado em conta, tudo tem um peso na caminha da espiritual dos Espíritos e da própria nação brasileira.

 Evidentemente, na Lei Divina, nada acontece por acaso. Contudo, não podemos justificar o que está acontecendo hoje nosso país. Se erramos, somos convocados a consertar no presente o estrago que fizemos no passado. Muitos de nós, com certeza a maioria dos brasileiros, já superamos a fase da pirataria e da exploração, da desonestidade e da corrupção e, agora, aqui estamos para ajudar a contê-las, porque infelizmente elas não desapareceram. Desse modo, são os cidadãos de bem que têm a missão de ajudar o país a se equilibrar moralmente.

 Desse modo, o sofrimento da sociedade não acontece apenas porque ela é devedora do passado, mas para que ela acorde para a necessidade da reedificação de seu edifício moral, que está em ruínas. Este é o nosso papel, Roberto – de cada cidadão brasileiro - compreendendo que violência e corrupção, pobreza e ignorância, não são exclusivos do Brasil. Em muitas partes do mundo ainda existem situações mais complicadas do que a nossa. Façamos a nossa parte, mas façamo-la bem feito, dando o melhor de nós.

 Jamais compactuemos com as coisas erradas, com as condutas incompatíveis com a moral ensinada por Jesus. Procuremos colaborar, sobretudo, com a nossa participação construtiva no dia a dia de nossa vida – a começar do ambiente da família e do trabalho . Não podemos nos impressionar com a dimensão do problema, mas devemos fazer o que está ao nosso alcance, sem jamais nos omitirmos.

 Sendo um bom cidadão, sendo um bom brasileiro, sendo um  homem de bem e nos integrando numa ação social construtiva, cada um de nós pode contribuir para o reerguimento moral do país. É das pequenas sementes que surge a floresta, é dos pequenos atos que a sociedade aos poucos vai tomando consciência de seu papel e de sua responsabilidade, no cumprimento daquele grande assertiva de Jesus, quando disse: “amai-vos uns aos outros”. Quando os bons assumirem o comando das realizações– como disseram os Espíritos a Kardec – o mundo vai começar a tomar um novo rumo, porque na Lei de Deus o Bem é que deve prevalecer.


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