Poucos dias após a posse no
início de 1865, para um segundo mandato, Abraham Lincoln, eleito para ser o
decimo sexto presidente norte-americano, morreu aos 56 anos, atingido por um
tiro na cabeça desferido por um inimigo politico, enquanto assistia a uma peça
de teatro. Unificador dos Estados do Norte e do Sul, libertador dos escravos,
Lincoln, nascido no Kentucky, de origem humilde, depois de abandonar as rudes
tarefas na fazenda do pai aos 21 anos, fixou-se em New Salem, ali vivendo por
cinco anos, trabalhando como empregado de fábrica, caixeiro de armazém, agente
de correios, até mudar-se para Springfield, onde passou a trabalhar como
advogado entrando definitivamente para a politica, que o conduziu ao primeiro
mandato de Presidente em 1861. Antevira em sonho premonitório vivido dias antes,
seu próprio assassinato. Lincoln e a esposa participaram também de várias
sessões com a médium Nettie Colburn Maynard, conforme relatos publicados por
ela em 1891, mais tarde recuperados e traduzidos para o português pelo erudito
Wallace Leal Rodrigues e publicados sob o título SESSÕES ESPÍRITAS NA CASA BRANCA (clarim). A morte do grande
estadista repercutiu no mundo todo, gravando seu nome na História como um
exemplo de politico íntegro e honesto. Dois anos depois, Allan Kardec na edição
de março de 1867, publicava uma matéria extraída do BANNER OF LIGHT, de Boston,
EUA, que, por sua vez, veiculou a análise de uma comunicação de Abraham
Lincoln, por um médium chamado Ravenswood. Pelo que se confirma no seu
conteúdo, títulos ou posições ocupados na nossa Dimensão, não fazem nenhuma
diferença na transição dela para o Plano Espiritual em consequência da morte
física. Vamos ao texto: “-Quando Lincoln voltou de seu atordoamento e
despertou no Mundo dos Espíritos, ficou surpreendido e perturbado, porque não
tinha a menor ideia de que estivesse morto. O tiro que o feriu suspendeu
instantaneamente toda sensação e não compreendeu o que lhe havia acontecido.
Esta confusão e essa perturbação, contudo, não duraram muito. Ele era bastante
espiritualista para compreender o que é a morte e, como muitos outros, não ficou admirado da nova existência para a
qual foi transportado. Viu-se cercado por muitas pessoas que sabia de há muito
tempo mortas e logo soube a causa de sua morte. Foi recebido cordialmente por
muita gente por quem tinha simpatia. Compreendeu sua afeição por ele e, num
olhar, pôde abarcar o mundo feliz no qual tinha entrado. No mesmo instante
experimentou um sentimento de angústia pela dor que devia experimentar sua
família, e uma grande ansiedade a propósito das consequências que sua morte
poderia ter para o País. Seus pensamentos o trouxeram violentamente à Terra.
Tendo sabido que William Booth estava mortalmente ferido, veio a ele e
curvou-se sobre o seu leito de morte. Nesse momento Lincoln tinha recuperado a
perfeita consciência e a tranquilidade de Espírito, e esperou com calma o
despertar de Both para a Vida Espiritual. Booth não ficou espantado ao
despertar, porque esperava sua morte. O primeiro Espírito que encontrou foi
Lincoln; olhou-o com muita afoiteza, como se se glorificasse do ato que havia
praticado. O sentimento de Lincoln a seu respeito, entretanto, não alimentava
nenhuma ideia de vingança, muito ao contrário; mostrava-se suave e bom e sem a
menor animosidade. Booth não pode suportar este estado de coisas, e o deixou
cheio de emoção. O ato que cometeu teve vários motivos; primeiro, sua falta de
raciocínio, que lho fazia considerar como meritório e, depois, seu amor
desregrado aos elogios que o tinham persuadido que seria cumulado deles e
olhado como mártir. Depois de ter vagado, sentiu-se de novo atraído para Lincoln. Às vezes, enchia-se de
arrependimento, outras seu orgulho o impedia de emendar-se. Entretanto
compreendia quanto seu orgulho era vão, sabendo, sobretudo, que não pode
ocultar como em vida, nenhum dos sentimentos que o agitam, e que seus
pensamentos de orgulho, vergonha ou remorso são conhecidos pelos que o rodeiam.
Sempre em presença de sua vítima e não recebendo dela senão sinais de bondade,
eis o seu estado atual e sua punição”. Comentando essas informações
Kardec comenta: “-A situação destes dois Espíritos é, em todos os pontos, conforme
aquela que diariamente vemos exemplos nos relatos de além-túmulo. É
perfeitamente racional e está em relação com o caráter dos dois indivíduos”.
Comentário de uma ouvinte. “Conheci um homem que para todo mundo era
uma ótima pessoa - muito educado e
religioso - até que um dia, sem querer, vi
uma cena que me chocou, quando ele, muito descontrolado, maltratava a esposa...”
Pra
você ver como é fácil julgar. As pessoas, em geral, julgam esse homem pelo que
ele demonstrava ser fora de casa, quando enverga uma capa de respeitoso e
educado para com todos. No entanto, e para sua surpresa – se é que você não se
enganou - viu uma cena que mostrou um
lado desse homem que parece que não conhecia. E é com base no seu testemunho, que
nós, agora, passamos a julgá-lo. Não seria para nos perguntar até que ponto
podemos estar fazendo um julgamento justo apenas pelo que vimos ou ouvimos
falar?
No
capítulo “Bem aventurados os brandos e pacíficos” d’O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO, numa de suas mensagens, o Espírito Lázaro, fala sobre a afabilidade e a doçura, um texto
curto que merece toda nossa atenção. Fomos buscar justamente esse texto, porque
o exemplo que você deu parece se aplicar bem ao caso. O texto, para o qual
convidamos os ouvintes a ler ou a reler, fala sobre pessoas aparentemente educadas no meio
social em que vivem, mas que são verdadeiros carrascos dentro da própria casa.
Nesse sentido o Espírito Lázaro afirma:
“O mundo está cheio dessas pessoas que têm
o sorriso nos lábios e o veneno no coração, que são brandas contanto que nada
as machuque, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua, dourada quando
falam face a face, se transforma em dardo venenado quando estão por detrás.(...)
A essa classe – continua Lázaro – pertencem
ainda esses homens benignos por fora e que, tiranos domésticos, fazem sofrer
sua família e seus subordinados...”
O
apontamento de Lázaro é bem incisivo e pode, até mesmo, envolver muitos de nós,
principalmente pelo fato de nem sempre prestarmos a devida atenção na forma
como tratamos o próximo mais próximo, nossos familiares. Precisamos tomar cuidado na arte da
convivência, a mais difícil de todas as artes. É fácil lidar com os diferentes
que vivem distante de nós e com os quais só esporadicamente temos contato. O
difícil mesmo é a convivência diária com as pessoas que estão ao nosso lado e
cujos defeitos não queremos suportar.
Ao
recomendar o amor aos inimigos, Jesus se referia também às pessoas que não
pensam como nós, especialmente aquelas com quem convivemos no dia a dia. Neste
particular, nem sempre prestamos atenção que somos diferentes e que, entre os
diferentes, devem existir no mínimo respeito, quando for possível se amarem. O
desafio, portanto, é sabermos conviver com elas, sem cair no exagero do
desrespeito e da violência. Afabilidade e doçura são virtudes da alma, que só
se configuram de verdade, quando a convivência é difícil.
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