“A certa distância, surgia a Terra, não na forma esférica, porque nos achávamos não longe da Crosta, mas como paisagem além, a interpenetra-se nas extensas regiões espirituais. O Sol resplandecia, rumo ao poente, como enorme lâmpada de ouro (...). Indiferentes à nossa presença, os transeuntes passavam apressados, de mente chumbada aos problemas de ordem material. Buzinavam ônibus repletos(...). No longo percurso, através de ruas movimentadas, surpreendia-me, sobremaneira, por se me depararem quadros totalmente novos. Identificava, agora, a presença de muitos desencarnados de ordem inferior, seguindo os passos de transeuntes vários, ou colados a eles, em abraço singular. Muitos dependuravam-se a veículos, contemplavam-nos outros, das sacadas distantes. Alguns, em grupos, vagavam pelas ruas, formando verdadeiras nuvens escuras que houvessem baixado repentinamente ao solo. Assustei-me. Não havia anotado tais ocorrências nas excursões anteriores ao círculo carnal (...). Não dissilumalava, entretanto, minha surpresa. As sombras sucediam-se umas às outras e posso assegurar que o número de entidades inferiores, invisíveis ao homem comum, não era menor, nas ruas, ao de pessoas encarnadas, em contínuo vaivém(...). Receios imprevistos instalavam-se-me nalma, desagradáveis choques íntimos assaltavam-me o coração, sem que lhes pudesse localizar a procedência. Tinha a impressão nítida de havermos mergulhado num oceano de vibrações muito diferentes, onde respirávamos com certa dificuldade”. O relato pertence ao Espírito André Luiz e descreve no livro OS MENSAGEIROS (feb,1944), sua primeira incursão em nossa Dimensão com fins de observação e aprendizado. Propicia-nos uma ideia da intensa influência do Plano dos desencarnados sobre todos nós, momentânea e circunstancialmente encarnados. Como revelado a Allan Kardec e, ele a nós, n’ O LIVROS DOS ESPÍRITOS. Mais informações interessantes nos fornece o médico Waldo Vieira que no período 1959/1966, desenvolveu profícuas atividades no campo da mediunidade na cidade de Uberaba (MG), construindo importantes obras juntamente com Chico Xavier. Em 1980, após anos de silenciosa ausência, ressurgiu com a publicação do livro PROJEÇÕES DA CONSCIÊNCIA – diário de experiência fora do corpo físico (lake), com que lançava as bases da PROJECIOLOGIA, técnica da pratica de desprendimentos do corpo físico com lucidez. Mais de 60 experiências efetuadas ao longo de um semestre são relatadas, mostrando a interatividade entre os diferentes Planos Existenciais. Destacamos um que exemplifica como é forte a presença espiritual em nossas vidas. Relata ele: “- 28/11/79, quarta-feira(..). O Espírito José Grosso avisou-me categoricamente que haveria uma projeção consciente relatável assim que me deitasse(...). Ao deixar o corpo físico, a minha consciência despertou de imediato junto de uma entidade desencarnada que informou que iríamos dar um giro aqui no Rio mesmo. Em momentos, deixávamos o edifício do apartamento e saiamos observando as ocorrências na rua e no trânsito. Estava ainda claro. Pela primeira vez percebi diversos espíritos desencarnados andando nos carros junto com os encarnados, perto do motorista, inclusive num posto de gasolina e dentro de um bugre com jovem casal dentro. Alguns encarnados transitavam acompanhados por um ou mais Espíritos desencarnados intimamente relacionados, formando na verdade “pessoas conjugadas” nos processos visíveis de obsessão. Um rapaz falava alto dentro de um automóvel aberto, impulsionado por uma entidade aderida à ele. Impressionante assistir ao fenômeno da influenciação às claras, friamente, sem quaisquer subterfúgios ou envolvimento da matéria. Meu Deus, como as pessoas podem ser influencidas. Que coisa inverossímil! Isso é pior do que sempre pensei. O obsessor é um verdadeiro dreno vibratório. Incrível o fato, só vendo a interrelação “interpessoal”, justaposição perfeita ou imantação da entidade humana e da desencarnada. Um verdadeiro assalto corpo-a-corpo, vivo e atuante, fazendo lembrar a coexistência ou coincidência existente entre o psicossoma do encarnado e o seu próprio físico. Não sei se foi a possibilidade de visualização ampliada fora do físico, mas estava distinguindo tudo entre as duas criaturas ‘soldadas’ uma na outra. Na psicosfera do rapaz, o desencarnado era um homem de meia idade alimentando-se com a mente desprotegida do jovem encarnado dos seus 25 anos, louro, forte, espadaúdo, queimado de praia, falando, ou sendo ‘falado’ pelos pensamentos inoculados, em altos gritos e gesticulando muito com os braços erguidos nas brincadeiras aparentemente naturais com os amigos em outros carros, ao ar livre. Até que ponto haveria a influência dos tóxicos nesse caso de obsessão? Dali deslizamos para outros locais, e muitas minúcias associadas à projeção(...) foram prejudicadas na minha memória, pela poderosa reação emocional causada pelo fato de presenciar o processo íntimo da obsessão declarada em plena atividade”.
Deparamos com o seguinte comentário:
“Ninguém quer adoecer e muito
menos morrer. O mesmo não queremos para as pessoas que amamos ou respeitamos.
Isso é muito humano. Porém, aprendemos que esta não é a vida verdadeira. Ela é
passageira e às vezes muito breve, como ensina a Doutrina Espírita. Nós não nos
conformamos com isso e queremos que Deus nos cure de toda doença e nos salve da
morte. Por isso vamos atrás de milagres. Por que temos tanta dificuldade de
aceitar a vida como ela é, sabendo que doença e morte fazem parte de nossa
experiência na Terra?”
Mesmo
sabendo que esta vida é passageira e que, em alguns meses ou anos, não
estaremos mais aqui – ainda assim – a regra é viver o máximo possível, pois
esse apego à vida física faz parte do mecanismo da natureza. É o que acontece
com os vegetais e os animais, que lutam até suas últimas forças para sobreviver:
sobreviver é lei da vida. Observando a lei da sobrevivência é que Charles
Darwin chegou à teoria da evolução. Logo, esse impulso para superar a doença e
vencer a morte é um mecanismo de que a natureza lança mão para preservar a
vida. Encontramos este tema em O LIVRO DOS ESPÍRITOS de Allan Kardec, capítulo
“Lei de Conservação”.
Não fosse assim, ou seja, se não déssemos à
vida biológica seu justo valor, a tendência seria adoecer e morrer com
facilidade ou, então, o que é pior, pôr fim à própria vida. E, se assim fosse,
não viveríamos o tanto quanto é necessário em cada existência para o Espírito
cumprir sua tarefa educativa aqui na Terra. Logo, a vida física ou biológica
não é apenas necessária, mas ela é imprescindível à nossa evolução. Devemos dar
a ela o devido cuidado para não desperdiçarmos oportunidades.
Assim,
quando somos acometidos por alguma doença, procuramos uma forma de nos curar,
até porque não sabemos o quanto nos resta de vida. Se descuidamos, podemos
morrer antes do tempo aprazado ou comprometer a saúde de tal maneira que
ficaremos impedido de cumprir a missão para a qual nascemos, por negligência ou
falta de cuidado. O mesmo em relação à morte.
Agora mesmo, neste tempo de pandemia, estamos
vivendo um momento importante para aprendermos a valorizar a vida. Se não nos
defendermos desse vírus, se facilitarmos sua propagação – não só em nosso
prejuízo, mas em prejuízo de toda a população, poderemos partir antes do tempo
e levar muita gente conosco, o que significa “na linguagem de André Luiz”, para
cada um de nós, provocar um suicídio ou um homicídio indireto. Além dos
cuidados recomendados pelas autoridades sanitárias, temos agora a vacina, que
chega a tempo de salvar muitas vidas.
No
entanto, se apesar de nossos esforços, assim mesmo não conseguirmos debelar a
enfermidade ou impedir que a morte ocorra, é porque estávamos destinados a
viver menos ou a sofrer mais com o impacto da doença. É natural, portanto, que
as pessoas procurem se curar, evoquem Deus na hora difícil e queiram se safar
da morte. Trata-se, portanto, de um impulso natural de preservação, sustentado
pelas leis da natureza.
Este é
um lado da questão. Contudo, além disso,
há as limitações espirituais de cada um, o medo da doença e o pavor da morte, próprio
de quem ainda não adquiriu a necessária convicção nas leis da vida. Logo, é
perfeitamente legítimo que as pessoas procurem os meios de se curar, até mesmo
a cura espiritual, que muitas vezes ocorre, para despertá-las para o amplo
significado da vida, para a certeza da imortalidade e para a concepção de um Deus
justo e misericordioso. A vida na Terra está em nossas mãos.
Curar-se
de uma doença, no entanto, não significa uma cura definitiva – sabemos disso. A verdadeira cura é a cura do espírito e não a
do corpo. Muitos não foram curados por Jesus e aqueles que o foram curados
todos morreram. A cura do corpo pode ser um meio de despertar a pessoa para
Deus, mas quando ela não vem e se prolonga indefinidamente até a morte, por
mais esforços que se faça para alcançá-la, é porque essa experiência tem um
sentido espiritual profundo para o qual o espírito precisa despertar o quanto
antes.
A
nossa ânsia de viver, portanto, faz parte da vida. André Luiz, no livro
OBREIROS DE VIDA ETERNA, ao narrar a morte e a desencarnação do personagem Dimas, descreve com detalhes a extraordinária
luta que o corpo empreende para não morrer. Os instrutores espirituais nos
chamam a atenção para isso.
Em séculos passados, o valor do corpo foi
subestimado por várias ordens religiosas que pregavam o sacrifício físico como
condição para a salvação da alma. Hoje sabemos, por intermédio do Espiritismo,
que o nosso corpo tem um valor inestimável para a evolução do Espírito, mas isso
não quer dizer que ele seja mais importante. “Amai vossa alma, mas cuidai também de vosso corpo”- afirma o
Espírito Georges n’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO.
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