-“Peço licença para aditar um apontamento de Emmanuel. Perguntei a ele, em 1965, onde estavam aqueles companheiros de Allan Kardec que vibravam com a Doutrina Espírita na França, onde estava aquele contingente de almas heroicas, sublimes, que aceitaram aquelas ideias e as divulgaram com tanto entusiasmo pelo mundo inteiro. Então ele me disse que do último quartel do século 19 para cá, de 15 a 20 milhões de espíritos da cultura francesa, principalmente simpatizantes da obra de Allan Kardec, se reencarnaram no Brasil, para dar corpo às ideias da Doutrina Espírita e fixarem os valores da reencarnação. Foi assim que, nos últimos 80 anos, desenvolveu-se entre nós tal amor à cultura francesa, que milhares de nós outros sabemos de ponta a ponta a história da revolução francesa e nada conhecemos a respeito do Marquês de Pombal, dos reis de Portugal, que foram os donos da nossa evolução primária. Isso está no conteúdo psicológico de milhões e milhões de brasileiros, que estão fichados – por certidão de Cartório – como brasileiros, mas que psicologicamente são franceses”. O revelador aparte é de Chico Xavier e foi feito aos realizadores do programa radiofônico NO LIMIAR DO AMANHÃ - veiculado na década de 70 por uma emissora paulistana -, que foram a Uberaba (MG) para entrevistar o médium. Na ocasião, o jornalista e professor de Filosofia José Herculano Pires, fez a seguinte observação: - “É interessante citar aqui uma coisa muito curiosa, que ainda parece que não foi lembrada. O Brasil é a primeira grande nação do Ocidente que está se tornando basicamente reencarnacionista. A ideia da reencarnação penetrou de tal maneira em nosso país, por influência não só do Espiritismo mas também das religiões africanas que foram trazidas aqui pelo contingente negreiro, que dificilmente encontramos hoje uma pessoa que, se não aceita positivamente a reencarnação, também não a nega, não a combate. Isso é muito curioso porque no Ocidente só houve uma nação reencarnacionista no passado, que foi a França. O Brasil será, dentro em breve, a grande nação reencarnacionista do Ocidente. E o professor lan Stevenson, na sua pesquisa sobre a reencarnação, disse que no Brasil encontrou uma compreensão mais precisa, mais natural da reencarnação”. Tudo isto começou no 18 de abril de 1857, quando Allan Kardec recebeu os primeiros exemplares d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS dos 2 mil que havia encomendado em pequena tipografia a alguns quilômetros de Paris. E esta primeira obra falando do Espiritismo, seria ampliada três anos depois com o lançamento de segunda edição, didaticamente organizada em quatro partes: As Causas Primárias; o Mundo Espírita ou dos Espíritos; As Leis Morais e Esperanças e Consolações, temas abordados em 1018 perguntas e respostas através das quais o organizador da obra procurou cercar todas as questões principais e derivadas dos esclarecimentos possíveis. Sabia e afirmou em artigo na REVISTA ESPÍRITA de julho de 1866 que: -“O LIVRO DOS ESPÍRITOS não é um tratado completo de Espiritismo; apenas apresenta as bases e os pontos fundamentais, que se devem desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação”. O tempo se incumbiu de mostrar que aquele primeiro passo representava apenas o início do alicerce que no século 21 suporta um grande edifício de conhecimentos sobre essa realidade que noutra via a Física Quântica vem descortinando através da Teoria das Supercordas que afirmam existir Universos Paralelos e, mais recentemente, que “mesmo que as dimensões do espaço sejam imperceptíveis, são elas que determinam a realidade física em que vivemos”. Caminha-se para a constatação da resposta à questão 85 do livro citado de que entre o mundo material e o espiritual, o segundo é o mais importante, pois, de lá tudo vem e para lá tudo volta. Através do mesmo livro que faz 158 anos neste ano, uma das principais indagações do Ser pensante é respondida: --“A vida humana é uma escola de aperfeiçoamento espiritual e uma série de provas. Por isso é que o Espírito deve conhecer todas as condições sociais e, em cada uma delas, aplicar-se em cumprir a vontade divina. O poder e a riqueza, como a pobreza e a humildade, são provas; dores, idiotismo, demência, etc, são punições pelo mal cometido em vida anterior”. Esbarra-se nos mesmos preconceitos e nas mesmas resistências que Copérnico ou Galileu, mas observa Kardec: -“Porque não se compreende uma coisa, não é motivo para que ela não exista, visto que o que hoje é utopia, poderá ser verdade amanhã”.
Conversando
com um companheiro de estudos, ouvimos uma observação interessante e, ao mesmo
tempo, importante para esta reflexão. Disse ele que, ao que tudo indica e
conforme o Espiritismo tem anunciado, existe um plano evolutivo que encaminha a
humanidade para um final feliz. Se não totalmente feliz, pelo menos bem mais
próxima do que podemos conceber como felicidade, incluindo o tão aguardado
mundo de regeneração. A questão é a seguinte:
diante de todo transtorno que o homem vem causando no mundo e de seu
livre arbítrio na escolha dos caminhos que pode seguir, esse plano não poderia
falhar e a humanidade retornar a uma fase anterior?
O
Espiritismo tem uma visão otimista sobre o futuro do mundo. Basta ler o
capítulo, “Lei do Progresso” em O LIVRO
DOS ESPÍRITOS, e parece que tudo neste planeta
caminha para uma meta ideal, quando os ideais do bem, da justiça e
verdade prevalecerem na alma humana e pudermos viver em paz conosco mesmos e em harmonia com a vida e com as leis de Deus.
Disso resulta que, mesmo as contramarchas, que parecem comprometer o progresso,
não serão suficientes para deter o avanço moral da humanidade que, em âmbito
coletivo, sempre aconteceu.
No
entanto, o homem tem seu livre arbítrio; por ignorância ou por rebeldia ele pode
se insurgir contra as mudanças que levam ao progresso moral. É o que muitas
vezes acontece, até porque ainda vivemos uma época em que predominam os
interesses imediatistas, materialistas e egoístas de dominação, que demonstram grande
força de destruição e causam muito sofrimento. Uma grande parte das pessoas, mesmo religiosas,
não estão conscientes de que Deus tem um plano para humanidade e, por isso, mesmo
por omissão, elas acabam mais prejudicando que ajudando.
Allan
Kardec já levantou todas essas questões no seu tempo – conforme podemos ler no
capítulo Lei de Progresso de O LIVRO DOS ESPÍRITOS - , mas os instrutores
espirituais insistiram na tese de que a marcha do progresso é inevitável, mesmo que tenha de
enfrentar grandes períodos de estagnação ou aparente retrocesso. O problema não
está no planeta em si - que é a nossa casa - mas na humanidade que está
encarnada nele. Desse modo, a renovação da humanidade depende, como disse
Kardec, da renovação dos Espíritos que vêm reencarnando neste planeta e os que
ainda vão reencarnar.
Contudo,
possibilidade de retroagir a uma condição, pelo menos, materialmente pior que a
de hoje, sempre existe, porque é a vontade do homem que vai determinar seu
futuro. É por isso que o processo evolutivo tem fases de avanços e de recuos.
Nós, seres humanos encarnados neste planeta, temos muita dificuldade de
entender como isso se dá, pois contamos o tempo em anos, enquanto a Espiritualidade
contempla o progresso através dos séculos e milênios. Espíritos elevados, a
exemplo de Jesus, apesar de torcerem para que a evolução se dê o mais rápido
possível, compreendem a necessidade dos recuos que, muitas vezes, acontecem
para que, no futuro, ocorra um impulso maior.
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