Em artigo estabelecendo uma correlação entre o Druidismo e o Espiritismo, publicado no número de abril de 1858, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec argumenta que “os Druidas tinham uma predileção particular pelo número três e o empregavam especialmente, como mostram a maioria dos monumentos gauleses, para a transmissão de suas lições que, mediante esse corte preciso, mais facilmente era gravada na memória”. Realmente é muito interessante a formulação de conceitos através das chamadas Tríades, como reproduzido na matéria em que Kardec emite a referida avaliação há pouco citada. Os exemplos selecionados por ele incluem algumas Tríades sobre DEUS E O UNIVERSO, OS TRÊS CÍRCULOS e O CIRCULO DE ABRED, embora a literatura dos bardos – pessoas encarregadas de transmitir conhecimentos de forma oral através de poemas cantados, o equivalente aos chamados trovadores da história - tenha propagado enorme quantidade de aforismos do mesmo gênero, relativos a todos os ramos do saber humano como Ciências, História, Moral, Direito, Poesia, entre outros. Vejamos alguns exemplos de como são facilmente assimiláveis conceitos através das chamadas Tríades: DEUS E O UNIVERSO – 1 - Há três unidades primitivas e de cada uma delas não podia existir mais que uma: um Deus, uma Verdade e um Ponto de Liberdade, isto é, o ponto onde se encontra o equilíbrio de todas posição. 2- Três coisas procedem das três unidades primitivas: toda vida, todo Bem e todo poder. 3- Deus é, necessariamente, três coisas: a maior parte da vida, a maior parte de ciência e a maior parte do poder; e de cada coisa não poderia haver parte maior. 4- Três coisas Deus não poderia deixar de ser: o que deve constituir o Bem perfeito, o que deve querer o Bem perfeito e o que deve realizar o Bem perfeito. 5- Três garantias do que Deus faz e fará: seu poder infinito, sua sabedoria infinita, seu amor infinito; pois não há nada que não possa ser efetuado, que não possa tornar-se verdadeiro e que não possa ser desejado por atributo.(...) OS TRÊS CÍRCULOS - 12- Há três círculos de existência: o círculo da região vazia (CEGANT) – exceto Deus – não há nada vivo nem morto e nenhum Ser que Deus não possa atravessar; o círculo da migração (ABRED) onde todo Ser animado procede da morte, que o homem atravessou; e o círculo da felicidade (GWINFYD), onde todo Ser animado procede da vida, que o homem atravessará no Céu. 13- Três estados sucessivos dos Seres animados: o estado de humilhação no abismo ANUNF, o estado de liberdade na Humanidade e o estado de felicidade no Céu. 14- Três fases necessárias de toda existência em relação à vida: o começo em ANNOUNF, a transmigração em ABRED e a plenitude em GWYNFID; e, sem estas três coisas, nada pode existir, exceto Deus.(...) O CÍRCULO ABRED – 15 - Três coisas necessárias no círculo de ABRED: o menor grau possível de toda vida e, daí, o seu começo; a matéria de todas as coisas e, daí, o crescimento progressivo, o qual não se realiza no estado de carência; e a formação de todas as coisas da morte e, daí, a debilidade das existências. 16 – Três coisas das quais todo Ser vivo participa necessariamente, pela justiça de Deus: o socorro de Deus em ABRED, porque sem isto ninguém poderia conhecer coisa alguma; o privilégio de participar do amor de Deus; e o acordo com Deus quanto à realização pelo poder de Deus, enquanto for justo e misericordioso. 17- Três causas da necessidade do círculo de ABRED: o desenvolvimento da substância material de todo Ser animado; o desenvolvimento de todas as coisas; e o desenvolvimento da força moral para superar todo contrário e a CYTHRÔL (o mau Espírito) e para libertar-se de DRUG (o mal). E sem esta transição de cada estado de vida, não poderia haver nele a realização de nenhum Ser. Em meio à suas análises comparativas, Alan Kardec comenta: -“Por meio de que conduta a alma realmente se eleva nesta vida e merece, após a morte, alcançar um modo superior de existência? A resposta dada a esta pergunta pelo Cristianismo é de todos conhecida: é com a condição de destruir em si o egoísmo e o orgulho, de desenvolver no íntimo de sua substância as forças da humildade e da caridade, únicas eficazes e meritórias aos olhos de Deus: Bem aventurados os mansos, diz o Evangelho; bem aventurados os humildes. A resposta do Druidismo é bem diversa e contrasta claramente com esta última. Conforme suas lições, a alma eleva-se na escala das existências, com a condição de, pelo trabalho sobre si mesma, fortificar a própria personalidade. E este resultado ela o obtém naturalmente, pelo desenvolvimento da força de caráter, aliada ao desenvolvimento do saber”.
Telma Scarpinello, nos enviou a seguinte mensagem. “A pandemia tem
trazido grande aprendizado e grandes conquistas
para a Humanidade, que talvez não tivessem acontecido sem ela. Apesar de
todos os transtornos que temos passado, acho que esta pandemia é um mal
necessário.” A Telma pede um comentário
a respeito.
Concordamos com você, Telma. N’O LIVRO DOS
ESPÍRITOS, questão ..., Kardec fala exatamente nesse sentido, quando se refere
aos grandes problemas e calamidades que assolaram o planeta. Na verdade, é uma
alusão ao que Jesus já havia falado há dois mil anos no chamado “sermão
profético”. Ele também se referiu a problemas ou escândalos que deveriam
acontecer no mundo para que o homem desperte para suas reais necessidades de
reforma interior.
Tudo
no mundo, absolutamente tudo, está sempre passando por um processo de
transformação. Nada é permanente. E se as transformações acontecem na natureza
– com os minerais, com os vegetais e com os animais – muito mais com a vida
humana, que precisa melhorar sempre. Nesse sentido, o mundo nunca foi
diferente. Apenas que, no passado, tudo se dava num ritmo muito mais lento que
o de hoje. Todavia, tudo muda, menos a lei da mudança. Esta permanece sempre
para impulsionar o progresso.
Estudando
O LIVRO DOS ESPÍRITOS, onde está todo o fundamento do Espiritismo, vamos
encontrar dois capítulos importantes entre as chamadas leis morais. São eles a
Lei da Destruição e a Lei da Conservação. Isso pode parecer contraditório: mas
é assim que as leis da natureza funcionam. A destruição, tanto quanto a
conservação, faz parte do processo de mudança. Se tudo no mundo estivesse
gozando de pleno equilíbrio, nada mudaria. É necessário algum desequilíbrio
para haver movimento e, consequentemente, transformação.
Deus
criou um mundo estável, mas criou leis que leva tudo à perfeição. Por isso, a
criação não é um instante, não se dá dentro da linha do tempo: a criação é
eterna, porque ela está se realizando em todo momento. Entre a pergunta que
você fez e a resposta que estamos dando, já mudamos em alguma coisa. Kardec
lembra, na questão citada, que geralmente reclamamos dos problemas, porque eles
atingem diretamente nossos interesses. Mas, no contexto geral do universo, eles
fazem parte das mudanças que precisam ocorrer.
Por
isso, Telma, a pandemia da covid-19, como você mesma diz – que não é diferente de muitas pandemias que
a história registrou e que o mundo conheceu – é mais um instrumento de mudança.
Durante mais de um ano, em que pudemos sentir na pele seus efeitos nada
agradáveis, tivemos que mudar muita coisa, procurando nos adequar às novas
condições de vida. Diante disso, o orgulho do homem, que acha que pode tudo, foi abalado em suas estruturas, para que ele
perceba que não manda no mundo, mas, pelo contrário, está submetido às leis que
governam o universo.
No
entanto, nem todas as pessoas já tiveram consciência do que realmente está
acontecendo em torno delas e do que é preciso que aconteça para que o mundo
melhore. É claro, toda mudança do mundo deve começar pela nossa mudança. Neste
cenário de pandemia, ameaçando vidas e impondo riscos às coletividades,
precisamos repensar nossa vida, aprender valores novos, retomar os ensinamentos
dos grandes mestres da Humanidade como Jesus, e tratar de melhorarmos nossas
atitudes e comportamento diante do próximo e da coletividade.
Se não
estivermos aprendendo isso, Telma, o sofrimento estará sendo em vão, porque não aproveitado em tudo que nos
oferece. O remédio pode ser amargo, mas é eficaz, quando sabemos utilizá-lo com
discernimento e responsabilidade, mas sobretudo com esforço de nossa parte. A
pandemia está nos convocando ao crescimento pessoal e coletivo, ao
desenvolvimento da ciência e de novas ideias, à reorientação dos caminhos
políticos e econômicos do mundo. Mas está nos mostrando, sobretudo, a
necessidade sermos mais solidários e fraternos uns com os outros, começando
pela forma como tratamos nossos familiares dentro de casa.
Ela
está nos mostrando o quanto a vida é passageira e que o maior bem é o bom
sentimento que deve nos unir, dando mais à pessoa humana, às minorias, aos
pobres e injustiçados, aos infelizes e desajustados, compreendendo que só os
valores espirituais de ordem superior nos proporcionarão a paz e a felicidade
que buscamos. Vamos ver como vamos sair dessa, Telma.
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