A insuficiência de conhecimentos astronômicos da Antiguidade nas tentativas de explicar a origem de tudo durante o tempo em que se imaginava a Terra o centro do Universo, levaram os estudiosos a escalonarem os Céus, acomodando diversos graus de beatitude, sendo o último, a morada da suprema felicidade. Segundo a opinião mais comum, havia sete deles; daí a expressão “estar no Sétimo Céu”, para exprimir uma felicidade perfeita. Os muçulmanos admitem nove, em cada um aumentando a felicidade dos crentes. O astrônomo Ptolomeu que viveu na Alexandria, no Egito, contou onze, sendo o último chamado Empíreo, por causa da ofuscante luz que ali reinava. A Teologia Católica reconhece três Céus: o primeiro é o da região do ar e das nuvens; o segundo o espaço onde se movem os astros; o terceiro, além da região dos astros, é a morada do Mais Alto, a região dos eleitos que contemplam ao Deus face a face, crença que levou a se dizer que São Paulo foi elevado ao Terceiro Céu. O surgimento do Espiritismo apresentou uma visão mais racional da questão ao dizer que a fim do período de ligação com o corpo físico, libera o chamado períspirito ou corpo espiritual para a reintegração no Mundo Espiritual de onde a individualidade saiu um dia para mais uma experiência reencarnatória. Aglutinam-se conforme os diferentes estados em que se desprendem do revestimento fisiológico. Observa-se que alguns não se afastam do meio em que viveram, enquanto outros se elevam a outros espaço ou mundo enquanto certos Espíritos culpados erram em regiões sombrias, constituindo também, diferentes moradas, não localizadas nem circunscritas, encaixadas nas “muitas moradas na Casa do Pai” referidas por Jesus aos seus seguidores mais próximos. Em interessante observação reproduzida na REVISTA ESPÍRITA de junho de 1868, Allan Kardec explica: -“A quem quer que não conheça a verdadeira constituição do Mundo Invisível, parecerá estranho que Espíritos, segundo eles, seres abstratos, semi-materiais, indefinidos, sem corpo, sejam vítimas de sensação como a fome, por exemplo. O espanto cessa quando se sabe que esses mesmos Espíritos são seres como nós: tem um corpo, fluídico é verdade, mas que não deixa de ser matéria; que deixando o seu invólucro carnal, certos Espíritos continuam a vida terrena com as mesmas vicissitudes, durante um tempo mais ou menos longo. Isto parece singular, mas é; e a observação nos ensina que tal é a situação dos Espíritos que viveram mais a vida material que a espiritual, situação por vezes terrível, porque a ilusão das necessidades da carne se faz sentir, e se tem todas as angústias de uma necessidade impossível de saciar. O suplício mitológico de Tântalo, nos antigos, acusa um conhecimento mais exato do que se supõem, do estado do Mundo de Além-túmulo, sobretudo mais exato do que entre os modernos. Outra, contudo, é a posição dos que, desde essa vida, se desmaterializaram pela elevação de seus pensamentos e sua identificação com a vida futura. Todas as dores da vida corporal cessam com o último suspiro e logo o Espírito plana, radioso, no mundo etéreo, feliz com um prisioneiro livre de suas algemas. Quem nos disse isto? ´E um sistema, uma teoria? Alguém disse que deveria ser assim e se acredita sob palavra? Não; são os próprios habitantes do Mundo Invisível que o repetem em todos os pontos do Globo, para ensinamento dos encarnados. Sim, legiões de Espíritos continuam como na vida corporal com suas torturas e suas angústias. Mas quais? Os que anda estão muito presos à matéria para dela se destacarem instantaneamente. É uma crueldade do Ser Supremo? Não; é uma Lei da Natureza inerente ao estado de inferioridade dos Espíritos e necessária ao adiantamento; é um prolongamento misto da vida terrestre durante alguns dias, meses ou anos, conforme o estado mora dos indivíduos. (...). As evocações nos mostram uma porção de Espíritos que ainda se julgam deste mundo: suicidas, supliciados que não suspeitam que estão mortos e sofrem o seu gênero de morte; outros que assistem ao próprio enterro, como ao de um estranho; avarentos que guardam seus tesouros, soberanos que julgam mandar ainda e ficam furiosos por não serem obedecidos; depois de grandes naufrágios, náufragos que lutam contra o furor das ondas; depois de uma batalha, soldados que se batem e, ao lado disto, Espíritos radiosos, que nada mais tem de terrestres e são para os encarnados o que a borboleta é para a lagarta. Pode-se perguntar para que serve as evocações, quando nos dão a conhecer, até nos mínimos detalhes, esse mundo que nos espera a todos ao sairmos deste? É a Humanidade encarnada que conversa com a Humanidade desencarnada; o prisioneiro que fala com o homem livre. Não, por certo, elas para nada servem ao homem superficial que nisto só vê um divertimento; elas não lhe servem mais que a física e a química recreativas para sua instrução. Mas para o filósofo, o observador sério, que pensa no amanhã da vida, é uma grande e salutar lição; é todo um mundo novo que se descobre; é a luz atirada sobre o futuro; é a destruição dos preconceitos seculares sobre a alma e a vida futura; é a sanção da solidariedade universal que liga todos os seres. Dirão que se pode estar enganado. Sem dúvida, como se o pode sobre todas as coisas, mesmo as que se vê e se toca. Tudo depende da maneira de observar”.
Gostaria de ouvir uma
explicação espírita sobre esta afirmação do apóstolo Paulo: “Se o Cristo não
ressuscitou, é vã a nossa fé”. Está na primeira carta aos Coríntios, capítulo
15.
Em
primeiro lugar, precisamos compreender que o conhecimento daquela época era
limitado à cultura daquele povo - bem simplificado,
podemos dizer assim. A ideia da ressurreição, que os hebreus herdaram durante
séculos de dominação persa, ainda estava viva na mente do povo. Ela nascera com
o Zoroatrismo, religião revelada, séculos antes de Cristo, e fazia parte da
crença de que todo ser humano seria julgado depois de sua morte, segundo os
atos que cometera em vida.
Embora a religião egípcia, muito antes, já tratasse desse julgamento,
foram os persas que concretizaram essa ideia, dizendo que os mortos, para serem
julgados, teriam que ser ressuscitados com o seu corpo material. Jesus acatou
essa crença, porque ela tratava da imortalidade do espírito e a imortalidade
era a base de sua doutrina. Quando, depois da morte, ele passou a se manifestar
a vários de seus seguidores, praticamente estava comprovando o que havia dito:
a morte não existe para o Espírito.
Se
Jesus não tivesse aparecido depois da morte, sua doutrina praticamente morreria
ali mesmo, porque tudo que havia ensinado sobre o amor, até mesmo a os
inimigos, não faria nenhum sentido, já que se sacrificaria na vida por nada. É
nesse sentido que Paulo de Tarso fala que, não fosse a ressurreição, a nossa fé
seria vã, porque foi o ressurgimento de Jesus depois da morte que comprovou a
imortalidade da alma e serviu de base para tudo que ensinou.
Quando
Jesus passou a se manifestar, após a morte, em vários lugares e a várias
pessoas, a notícia correu depressa entre seus seguidores, incluindo os
apóstolos, pois naquela altura dos acontecimentos todos estavam escondidos, com
medo da fúria dos soldados romanos, e haviam se dispersado. Mas, bastou a
notícia que Jesus estava aparecendo, depois do martírio do calvário, e todos, ou pelo menos uma boa parte deles,
passaram a se procurar e a se reunir para retomarem o evangelho e passar a divulgá-lo.
Portanto, caro ouvinte, foi a notícia do reaparecimento de Jesus, depois
da morte na cruz, que veio mostrar que a ressurreição a que ele se referira,
não era fantasia, mas uma realidade.
Logo, o que se deduz é que, até então, embora tudo o que Jesus ensinara,
não foi suficiente para consolidar uma fé inabalável nos seus discípulos. Porém,
esse ressurgimento do mestre causou uma série de discussões entre seus
discípulos, que procuravam uma explicação plausível para o fenômeno que eles
queriam entender.
Pelo
menos duas correntes se formaram: a dos que acreditavam que Jesus ressuscitara
com o mesmo corpo com que vivera na Terra e a dos que diziam que o corpo da
ressurreição não era o mesmo e, portanto, teria uma natureza diferente do corpo
material. Mais tarde, o próprio Paulo, nesta mesma carta aos coríntios veio
declarar em alto e bom som que o corpo da ressurreição, de fato, não é o corpo
material, mas um corpo espiritual. Aliás, Paulo tivera uma visão de Jesus no
caminho de Damasco e podia atestar essa realidade que ele próprio vivenciou.
Esse
corpo espiritual, com o qual todos sobrevivemos à morte, da mesma forma que
Jesus (segundo Paulo) é o corpo que o Espiritismo chama de períspirito. Logo,
Jesus reapareceu no seu corpo espiritual que, pela semelhança, as pessoas
confundiram o corpo material. Sem essas aparições, que atestaram o princípio da
imortalidade da alma, o que Jesus ensinara não teria fundamento, pois não
haveria sentido sofrer pelo bem, pela verdade e pela justiça, se a vida
simplesmente terminasse com a morte. É por isso que Paulo fala que sem a crença
na ressurreição a nossa fé é vã.
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