Discorrendo sobre a razão da encarnação dos Espíritos, Allan Kardec afirma “estar ela nas Leis da Natureza; é necessária ao adiantamento deles e à execução das obras de Deus. Pelo trabalho que a existência corpórea lhes impõe, eles aperfeiçoam a inteligência e adquirem, cumprindo a Lei de Deus, os méritos que os conduzirão à felicidade plena”. Sobre o número de existências, explica ser “indeterminado; dependendo da vontade do Espírito reduzir esse número, trabalhando ativamente pelo seu progresso moral”, acrescentando que, “quando, num mundo, os Espíritos tem realizado a soma de progresso que o estado desse mundo lhe faculta efetuar, deixam-no, e, passam a encarnar noutro mais adiantado, onde entesouram novos conhecimentos e assim por diante, até que, de nenhuma utilidade mais lhe sendo a encarnação em corpos materiais, entram a viver exclusivamente a vida espiritual, em que também progridem noutro sentido e por outros meios”. Voltando à criança, diz:-“Até ao nascer, todas as faculdades se lhe encontram em estado latente, nenhuma consciência de si mesmo tem o Espírito. As que devam desenvolver-se não desabrocham de súbito no ato de nascer; o desenvolvimento delas acompanha o dos órgãos que terão de servir para suas manifestações; por meio da atividade íntima em que se põem, elas impulsionam o desenvolvimento dos órgãos que lhes correspondem, do mesmo modo que o broto, ao nascer, força a casca da árvore. Daí resulta que, na primeira infância, o Espírito não goza em plenitude de nenhuma de suas faculdades, não só como encarnado, mas também como Espírito livre. Ele é verdadeiramente infantil, como o corpo a que se acha ligado, sem contudo, estar neste comprimido penosamente. A não ser assim, Deus houvera feito da encarnação um suplício para todos os Espíritos, bons e maus. O mesmo, porém, não acontece com o idiota ou o cretino. Nestes, não se tendo os órgãos desenvolvido paralelamente às faculdades, o Espírito acaba por achar-se na posição de um homem preso por laços que lhe tiram a liberdade dos movimentos. Tal a razão porque se pode evocar o Espírito de um idiota e obter respostas sensatas, ao passo que o de uma criança de muito pouca idade, ou que ainda não veio à luz, é incapaz de responder. Todas as faculdades, todas as aptidões se encontram em gérmen no Espírito, desde a sua criação, mas em estado rudimentar, como todos os órgãos no primeiro filete do feto informe, como todas as partes da árvores na semente. O selvagem que mais tarde se tornará homem civilizado possui, pois, em si os germens que, um dia, farão dele um sábio, um grande artista, ou um grande filósofo. À medida que esses gérmens chegam à maturidade, a Providência lhes dá, para a vida terrestre, um corpo apropriado às suas novas aptidões. É assim que o cérebro de um europeu é organizado de modo mais completo, provido de maior número de teclas, do que o do selvagem. Para a vida espiritual, dá-lhes um corpo fluídico, ou períspirito, mais sutil e impressionável por novas sensações. À proporção que o Espírito se engrandece, a natureza o provê dos instrumentos que lhe são necessários (...). No sentido de transformação, regeneração, pode dizer-se que o Espírito morre a cada encarnação, para renascer com atributos novos, sem deixar de ser o EU que era. Tal, por exemplo, um camponês que enriquece e se torna importante senhor. Trocou a choupana por um palácio, as roupas modestas por vestuários de brocado. Todos os seus hábitos mudaram, seus gostos, sua linguagem, até o seu caráter. Numa palavra, o camponês morreu, enterrou as vestes de grosseiro tecido, para renascer homem da sociedade, sendo sempre, no entanto, o mesmo indivíduo, porém transformado. Cada existência corpórea é, pois, para o Espírito, um meio de progredir mais ou menos sensivelmente. De volta ao mundo dos Espíritos, leva para lá novas ideias; um horizonte moral mais dilatado; percepções mais agudas, mais delicadas. Vê e compreende o que antes não via, nem compreendia; sua visão que, a princípio, não ia além da última existência que tivera, passa a abranger sucessivamente as suas existências pretéritas, como o homem que sobe uma montanha e para quem o nevoeiro vai se dissipando, abrange com olhar um horizonte cada vez mais vasto”.
Diante de uma situação como essa, perguntaríamos aos ouvintes: o que é mais importante: ter uma religião ou ser uma pessoa de bem? Há pessoas – e, certamente, em grande quantidade, - que afirmam ter uma religião, que freqüentam um templo religioso, mas que vivem uma vida egoísta, voltada inteiramente para si mesma, para seus próprios interesses, ignorando ou sendo indiferentes aos que precisam delas.
Será que, nesse caso, a religião – seja qual for - está servindo para alguma coisa? O papel da religião, segundo Jesus, não é ensinar a pessoa a amar o próximo, a fazer o bem – enfim, a ser útil para a sociedade? Não é amando ao próximo, filho de Deus, que se ama a Deus? Ou a religião só serve para definir o nosso destino após a morte, numa forma egoísta de buscar apenas a própria salvação?
Não. Não parece que – do ponto de vista de Jesus – a religião seja apenas um rótulo de que a pessoa se reveste para dizer que acredita em Deus e ter garantida a sua salvação eterna. Não foram os fariseus que Jesus mais combateu? e quem eram os fariseus, senão os mais fervorosos religiosos daquele tempo? Não foi o samaritano que Jesus mais exaltou? e quem era o samaritano, senão o herege, aquele que os judeus consideravam inimigos da religião? No evangelho, Jesus exalta a boa ação ( como a do samaritano que socorreu o desconhecido) e, ao mesmo tempo, condena aqueles que têm Deus nos lábios mas o têm no coração..
O bem, quando praticado com boa intenção, é a maior
expressão do amor ao próximo, ou seja, a forma mais eficaz de nos comunicarmos
com Deus. É por isso que, quando praticamos uma boa ação, quando fazemos alguém
feliz, sentimos uma sensação de paz e de realização – justamente porque tocamos
no ponto mais sensível da alma: e é quando Deus se revela
Não importa se ela se diz incrédula. Isso não
vai fazer nenhuma diferença em sua vida, se ela já é capaz de fazer o bem pelo
bem, vivendo na prática aquilo que muitos religiosos só conhecem na teoria. Há
muitas pessoas, que não conseguem acreditar no que as religiões ensinam: é um
direito delas. Por outro lado, o bem é a expressão da divindade em nós, quer
acreditemos ou não
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