A pergunta parece piada, mas,
era coisa séria há apenas 149 anos na França, considerada o berço do
Iluminismo. A confirmação está no número de
janeiro de 1866 da REVISTA ESPÍRITA, em matéria em que Allan Kardec registra que “lia-se
nos jornais que uma jovem senhorita de vinte anos acabava de defender o
bacharelado com pleno sucesso perante a faculdade de Montpellier. Dizia-se que
era o quarto diploma concedido a uma mulher. Ainda não faz muito tempo foi
agitada a questão de saber se o grau de bacharel podia ser conferido a uma
mulher. Embora a alguns isto parecesse uma monstruosa anomalia, reconheceu-se
que os regulamentos sobre a matéria não faziam menção às mulheres e, assim,
elas não se achavam excluídas legalmente. Depois de terem reconhecido que elas
tinham alma, lhes reconheceram o direito à conquista dos graus da Ciência, o
que já é alguma coisa. Mas a sua libertação parcial é apenas resultado do
desenvolvimento da urbanidade, do abrandamento dos costumes ou, se quiserem, de
um sentimento mais exato da justiça; é uma espécie de concessão que lhes fazem
e, é preciso se diga, que lhes regateiam o mais possível”. Comenta
também saber-se que “a coisa nem sempre foi tida por certa, pois,
ao que se diz, foi posta em deliberação num concílio. A negação ainda é um
princípio de fé em certos povos. Sabe-se a que grau de aviltamento essa crença
as reduziu na maior parte dos países do Oriente. Embora hoje, nos povos
civilizados, a questão esteja resolvida em seu favor, o preconceito de sua
inferioridade moral perpetuou-se a tal ponto que um escritor do século passado,
cujo nome não nos vem à memória, assim definia a mulher: “Instrumento de
prazer do homem”, definição mais muçulmana que cristã. Desse preconceito
nasceu a sua inferioridade legal, ainda não apagada de nossos códigos. Durante
muito tempo elas aceitaram essa submissão como uma coisa natural, tão poderosa
é a força do hábito. Dá-se o mesmo com os que, votados à servidão de pai a
filho, acabam por se julgar de natureza diversa da dos seus senhores”.
Apresentando, entre outros argumentos, a posição
do Espiritismo pondera o sábio pensador: -“Os sexos só existem no organismo; são
necessários à reprodução dos seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação
de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão pela qual os sexos seriam
inúteis no mundo espiritual. Os Espíritos progridem pelos trabalhos que
realizam e pelas provas que devem sofrer, como o operário se aperfeiçoa em sua
arte pelo trabalho que faz. Essas provas e esses trabalhos variam conforme sua
posição social. Devendo os Espíritos progredir em tudo e adquirir todos os
conhecimentos, cada um é chamado a concorrer aos diversos trabalhos e a
sujeitar-se aos diferentes gêneros de provas. É por isso que, alternadamente,
nascem ricos ou pobres, senhores ou servos, operários do pensamento ou da
matéria. Assim se acha fundado, sobre as próprias leis da Natureza, o princípio
da igualdade, pois o grande da véspera pode ser o pequeno do dia seguinte e reciprocamente.
Desse princípio decorre o da fraternidade, visto que, em nossas relações
sociais, reencontramos antigos conhecimentos, e no infeliz que nos estende a
mão pode encontrar-se um parente ou um amigo. É com o mesmo objetivo que os
Espíritos se encarnam nos diferentes sexos; aquele que foi homem poderá
renascer mulher, e aquele que foi mulher poderá nascer homem, a fim de realizar
os deveres de cada uma dessas posições, e sofrer-lhes as provas.
– Uma questão colocada pela Maria do Socorro Sobral Marques. Ela diz
que tem um filho com múltiplas deficiências, hoje com 25 anos, completamente
dependente dela para tudo. Mas também tem uma filha de 16 anos, que não tem nenhum
problema de saúde. Ela questiona como Deus pode permitir que uma pessoa nasça
deficiente.
Sem reconhecer a Lei da
Reencarnação, Maria do Socorro, realmente não poderíamos aceitar que Deus possa
criar um filho (vamos dizer assim) “completo” (com saúde e inteligência para
gozar a vida) e outro limitado e incapaz
de prover a si próprio . A não ser que Deus não seja o que pensamos ser: bom,
justo e misericordioso. A não ser que Deus não seja aquilo que Jesus ensinou.
Como que um pai, que nos ama, (estamos nos referindo ao Pai de Amor Supremo, de
Suprema Bondade e Misericórdia), poderia fazer tanta diferença entre seus
filhos, se nós tivéssemos apenas uma vida e se, após esta vida, a nossa sorte
estivesse definida para toda a eternidade?
Deus governa o mundo
através de suas leis. Ele não nos premia, tampouco nos castiga. Apenas nos dá a
grande oportunidade de construirmos o próprio destino. Cada um de nós, no
entanto, caminha em sua direção, através das inúmeras reencarnações, através
das quais vai se aperfeiçoando. A vida na Terra, portanto, é apenas um episódio
na longa caminhada do Espírito, rumo à sua perfeição. Não estamos aqui por
acaso, e não é por acaso que nascemos com este ou aquele problema, nesta ou
naquela família, neste ou naquele povo. Cada um de nós tem uma história
anterior a esta vida, que determinou a condição em que nos encontramos agora.
A Doutrina Espírita nos dá
essa compreensão da vida, e ela nos ajuda a aceitar com resignação, paciência e
coragem determinados problemas, que não vamos conseguir resolver nesta
existência. Se adquirirmos essa compreensão – de que temos inúmeras encarnações
– vamos entender que estamos passando exatamente pelas condições que precisamos
para caminhar em direção a Deus, ou seja, em busca de nossa felicidade.
Podemos, ao longo dessas encarnações, passar pelas mais diferentes experiências
– mais fáceis ou mais difíceis, mais prazerosas ou mais sofridas – dependendo
das necessidades de cada um.
Desse modo, tanto seu
filho quanto sua filha não se acham
nesta vida por acaso. Elas passam exatamente pela condição que melhor lhes
atende às necessidades. Ele, o rapaz,
profundamente limitado pelas condições do corpo; e ela, a jovem, com outro tipo de experiência. Nós não
sabemos o que aconteceu antes desta existência para que seu filho viesse com
essa limitação extrema, mas podemos deduzir que você, como mãe, Maria do
Socorro, veio nesta existência para cuidar dele, para ajudá-lo em seu caminho
evolutivo a conquistar uma situação melhor no futuro. Com certeza, você assumiu
esse compromisso sagrado com esse Espírito, a quem se afeiçoa e ama, para dar
de você aquilo que você tem mais precioso e divino, o amor de mãe.
A vida, Maria, é um
encadeamento de atos que cometemos e de fatos que acontecem conosco, seguindo a
Lei de Causa e Efeito. Nada acontece por
acaso. Deus é justo e a lei é a mesma para todos. Por isso mesmo, o fato de seu
filho ter vindo nessas condições (que você lamenta) não quer dizer que só ele –
e não nós outros - conhece esse tipo de
experiência. Qualquer um de nós já pode ter nascido em situação semelhante em
vidas anteriores. Não sabemos o que fizemos, o
que passamos e o que ainda vamos passar, em virtude de nossa conduta.
Sabemos, no entanto, que toda experiência encarnatória será de grande valia
para o nosso progresso espiritual. Isso, geralmente, nós percebemos melhor,
depois que deixamos esta vida.
Sobre a condição de seu
filho, sugerimos que você reflita sobre
estas palavras que Jesus proferiu no Sermão da Montanha: “Se o teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o
para longe de ti, porque é melhor para ti que se perca um de teus membros, do
que todo o teu corpo seja lançado na fornalha. E, se a tua mão direita é para
ti causa de escândalo, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor que
entres na vida sem um de teus membros do que todo o teu corpo se perca”.
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