Sem que soubesse, o Chico Xavier psicografou entre 1927 e 1931 milhares de páginas psicografados por Espíritos diversos, segundo o Orientador Emmanuel para treinamento de suas percepções mediúnicas, sendo aconselhado a jogar tudo fora após seus primeiro contato em nível consciente com aquele que guiaria suas atividades até o ano 2000, quando se afastou para reencarnar. Atualmente, os que se iniciam na prática mediúnica sem conhecimentos mais aprofundados, anseiam para ver o resultado de seu trabalho publicado, originando muitas vezes, conteúdos e revelações bizarros. Políticos, Santos, Autoridades Religiosas, entre outros, incluem-se entre as autoridades cujas páginas circulam pelas redes sociais ou pelas mãos de ávidos leitores. Como recomenda a Doutrina Espirita nos posicionarmos diante disso? Allan Kardec desenvolveu alguns raciocínios sobre o assunto na REVISTA ESPÍRITA de outubro de 1858 que parcialmente reproduzimos a seguir: -“Seja por entusiasmo, por fascinação dos Espíritos, ou por amor-próprio, em geral o médium psicógrafo é levado a crer que são superiores os Espíritos que com ele se comunicam, sobretudo quando tais Espíritos, aproveitando-se dessa presunção, adornam-se de títulos pomposos, tomando nomes de santos, de sábios, de anjos e da própria Virgem Maria, conforme a necessidade e segundo as circunstâncias. E, para desempenhar seu papel de comediantes, chegam até mesmo a portar a indumentária extravagante das personagens que representam. Tirai suas máscaras e vereis que se transformam no que sempre foram: ilustres desconhecidos; é o que necessariamente devemos fazer, tanto com os Espíritos, quanto com os homens. Da crença cega e irrefletida na superioridade dos Espíritos que se comunicam, à confiança em suas palavras não há senão um passo; é o que também acontece entre os homens. Se conseguirem inspirar essa confiança, haverão de sustentá-la por meio de sofismas e dos mais capciosos raciocínios, perante os quais frequentemente inclinamos a cabeça. Os Espíritos grosseiros são menos perigosos: reconhecemo-los imediatamente e só inspiram repugnância. Os mais temíveis, em seu mundo, como no nosso, são os Espíritos hipócritas: falam sempre com doçura, lisonjeando as mentes predispostas; são meigos, aduladores, pródigos em expressões de ternura e em protestos de devotamento. É preciso ser realmente forte para resistir a semelhantes seduções. Mas, direis, onde estaria o perigo, desde que os Espíritos são impalpáveis? O perigo está nos conselhos perniciosos que dão, aparentemente benévolos, e nos passos ridículos, intempestivos ou funestos a que somos induzidos. (...). Como convém dar o exemplo ao lado da teoria vamos relatar a história de uma pessoa do nosso conhecimento que se encontrou sob o império de uma fascinação semelhante. O Sr. F..., rapaz instruído, de esmerada educação, de caráter suave e benevolente, mas um pouco fraco e indeciso, tornou-se hábil médium psicógrafo com bastante rapidez. Obsidiado pelo Espírito que dele se apoderou e não lhe dava sossego, escrevia sem parar. Desde que uma pena, ou um lápis, lhe caíam à mão, ele os tomava num movimento convulsivo e se punha a preencher páginas inteiras em poucos minutos. Na falta de instrumento, simulava escrever com o dedo, onde quer que se encontrasse: na rua, nas paredes, nas portas, etc. Entre outras coisas que lhe ditaram havia estas: “O homem é composto de três coisas: o homem, o Espírito bom e o Espírito mau. Todos vós tendes vosso Espírito mau, que está ligado ao corpo por laços materiais. Para expulsar o Espírito mau é necessário romper esses laços e, para isso, é preciso enfraquecer o corpo. Quando este se encontra suficientemente enfraquecido, o laço se parte e o Espírito mau o abandona, permanecendo apenas o bom.” Em consequência dessa bela teoria, fizeram-no jejuar durante cinco dias consecutivos e velar à noite. Quando ficou extenuado, disseram-lhe: “Agora a coisa está feita e o laço rompido; teu Espírito mau partiu e ficamos apenas nós, em quem deves crer sem reserva.” E ele, persuadido de que seu Espírito mau havia fugido, acreditava cegamente em todas as suas palavras”.
Já dissemos aqui, várias vezes, que a
mediunidade não é privilégio dos espíritas, muito menos do Espiritismo.
Trata-se de uma faculdade humana, que sempre existiu no seio de todos os povos
e de todas as religiões. A Bíblia, por exemplo, apresenta a cada texto uma
série de fenômenos mediúnicos de vidência, de audiência, de premonição, de comunicação
de Espíritos, de cura ou de materialização. No passado, devido a ignorância
sobre as leis da natureza, os fatos decorrentes da mediunidade, por parecerem
muito estranhos, eram chamados de milagres; no Espiritismo chamamos de fatos
mediúnicos.
Há
dois aspectos na mediunidade, que gostaríamos de ressaltar. O primeiro é o aspecto
do fenômeno em si, que pode ser provocado com a presença de um ou mais médiuns.
Há médiuns capazes de atuarem em fenômenos extraordinários, que chegam a causar
espanto, principalmente os chamados fenômenos de efeitos físicos, como o
transporte de objetos, a manifestação de voz direta, a materialização de
espíritos e as curas espirituais. Hoje, os mais comuns, são os fenômenos de
psicofonia ( ou mediunidade através da fala) e de psicografia (através da
escrita). O Museu das Almas do Purgatório do Vaticano, hoje aberto à visitação
pública, é um repositório de fenômenos físicos dos mais surpreendentes.
O
segundo aspecto da mediunidade é a educação do médium. Para o Espiritismo este
é o aspecto principal. Sem educação, por mais extraordinária a faculdade, ela
não deve ser utilizada, porque se torna inconveniente e, às vezes, perigosa. O
Espiritismo se interessa pela comunicação mediúnica, mas, com uma condição,
desde que o médium seja educado dentro dos princípios da moral ensinada por
Jesus, para usar a mediunidade apenas e tão somente para o bem do próximo.
Entenda
ouvinte: a mediunidade em si não é boa nem má; ela é o que o médium faz dela.
Se o médium for desonesto, sua mediunidade também o será; mas, se o médium for uma pessoa
comprometida com o bem e com a verdade, sua mediunidade será santa. Por isso, a
Doutrina Espírita se preocupa mais com a educação do médium do que propriamente
com a mediunidade em si.
Mediunidade,
como faculdade humana, existe em qualquer parte e pode se manifestar em
qualquer pessoa. É como qualquer outro dom próprio do ser humano, como a inteligência
e a criatividade. Qualquer pessoa pode ser inteligente e criativa, mas para a
sociedade o que interessa é como essas pessoas podem utilizar sua capacidade
natural pelo bem comum. O mesmo acontece com o Espiritismo em relação à
mediunidade.
Por
conta disso, a Doutrina não pode
concordar com as pessoas que exercem a mediunidade senão para fazer o bem, sem
cobrar pelo seu trabalho e sem esperar qualquer tipo de recompensa por parte
daqueles a quem ajudou. Médiuns, que cobram pelo seu serviço, que exploram a
mediunidade para se exibirem ou para se promoverem, não devem encontrar
acolhida no meio espírita.
Emmanuel
deixa claro na obra “O CONSOLADOR” que a maior necessidade do médium é
evangelizar-se. Evangelizar-se significa seguir os passos de Jesus, ou seja,
fazer o bem pelo bem, para que a mão esquerda não saiba o que faz a direita.
Evangelizar-se é devotar-se ao próximo, começando pelo trato familiar, pois é
geralmente na família que todos nós encontramos os maiores problemas. O médium
espírita, portanto, deve estar consciente de sua responsabilidade, usando de
honestidade, de sinceridade e, sobretudo, de respeito humano. A sua mediunidade
deve servir unicamente para ajudar. Se não puder ajudar, é melhor que nada
faça.
Um
exemplo de médium foi Chico Xavier, não só pelas suas inúmeras faculdades, mas,
sobretudo, pela bondade de seu coração, pelo compromisso com o bem e com a
verdade.
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