A reencarnação como
apresentada pelo Espiritismo encontra suas afirmações e comprovações através de
caminhos os mais inesperados. Certamente o século 21 oferecerá demonstrações
cada vez mais frequentes das revelações encontradas nas obras do grande pesquisador
que foi Allan Kardec. Um deles, fala da experiência do médico inglês Denys
Kelsey que, depois de formado, exerceu a clínica, num hospital militar,
onde, de maneira inesperada encontrou-se com os problemas do Espírito. Ante o
afastamento de um colega vitimado por uma epidemia de influenza, foi convidado
a acumular, tanto quanto possível, os encargos da ala dedicada à Psiquiatria.
Conta ele que já na primeira noite, acidental e intuitivamente, hipnotizou um
paciente agitadíssimo dificilmente controlado por dois homens, o que abriu para
ele um amplo panorama sobre os mistérios do Espírito. Definiu-se pela
especialidade da Psiquiatria, associando-a com critério à hipnose. Não demorou
muito tempo para se defrontar com a ideia da reencarnação. Relutante, a princípio,
acabou por integrá-la ao seu repertório de conhecimentos como autêntico
instrumento de trabalho. Essa convicção não lhe chegou subitamente, mas,
vagarosamente e por etapas, após dedicar-se por mais de quatro anos em sua
clínica particular, Depois de várias evidências, casualmente lera o livro de
uma senhora chamada Joan Grant, desconhecida até então, intitulado O
FARAÓ ALADO, convencendo-se antes do final que a reencarnação era uma
realidade. Disposto a, se necessário percorrer a distância que fosse necessária
para conhecer a autora da obra, descobriu morar ela a menos de 50 quilômetros
dele. Um jantar que se desdobrou por
horas de conversa, resultou na identificação e casamento com a escritora viúva Joan
Grant. Descobriram-se velhos
conhecidos tendo passado algumas experiências muito interessantes no passado
remoto. Numa existência na Roma antiga, ela fora dama de grande beleza e
vaidade que se apaixonou por um médico – o próprio Kelsey reencarnado - que
conheceu e contratou para seu serviço permanente. Orgulhosa ante a não
declaração de afeto do jovem médico idealizou mirabolante plano de matar-se,
após a compra de belíssimo sarcófago de mármore, um banquete programado com
amigos mais próximos e um discurso de despedida, após o que se deitou na urna
cheia de água perfumada, por pétalas de rosa que nela boiavam, pedindo, em
seguida, que o amado médico lhe abrisse as veias, confiando que ante tal
procedimento, ele apaixonadamente vivesse com ele. Entretanto, ele tomou sua
determinação ao pé da letra, ocasionando sua morte prematura. Casados na vida
atual passaram a trabalhar juntos, enriquecendo suas pesquisas com as
faculdades mediúnicas de que Joan era dotada, o que resultou em
1967, num livro de dez capítulos intitulado MUITAS EXISTÊNCIAS,
alternando-se capítulo a capítulo nos relatos de suas vivências, ele como
médico, ela como médium. Um caso impressionante tratado pelo Dr Kelsey,
envolveu um homem de meia idade, profissional liberal de elevado grau de
cultura afligido por persistente e invencível homossexualismo. A Psicanálise
convencional, mesmo com hipnose, não apresentaram resultados práticos. Apesar
das convicções religiosas profundas desenvolvidas na atividade de membro da
Igreja Anglicana, na décima quarta consulta, uma sessão de hipnose, afloraram
lembranças de uma existência remota entre os hititas, onde, na qualidade de
esposa de um dos chefes da época, exercendo grande influencia sobre o marido,
ao sentir-se preterida por ele, negociou com um sacerdote de Baal, o amaldiçoamento
dele, acabando, por fim, assassinada, levando para o Além toda a frustração da
sua humilhante posição de esposa orgulhosa e desprezada. Ao que parece, o
episódio trazido do fundo do passado distante repercutia na vida atual, na
torturante tendência homossexual.
A pergunta de hoje vem da nossa habitual
ouvinte de Garça, Maria Laucene Lecci, que pode ser resumida no seguinte : “ Se
o Espiritismo afirma que o Espírito muitas vezes demora para se desprender após a morte do corpo, como é que ele reage,
num caso de doação de órgãos, em que
os médicos já diagnosticaram a morte cerebral, retiram o órgão a ser doado, mas o Espírito ainda está ligado ao corpo?”
Antes
de responder diretamente sua pergunta, Laucene, permita-nos fazer uma
consideração sobre a posição do Espiritismo diante da doação de órgãos, já que
muitas são as perguntas que se fazem a respeito. O Espiritismo vê essa questão com
naturalidade. Doamos um ou mais órgãos
de nosso corpo, como podemos doar quaisquer objetos que nos pertencem para
ajudar alguém que deles necessitem
mais do que nós. Nesse sentido, a doutrina só poderia
estimular a doação, principalmente porque as doações em geral acontecem quando
o corpo já morreu e, portanto, esses órgãos não terão mais utilidade para o
Espírito.
É claro que, mesmo não havendo nenhuma doação,
esse corpo será sepultado e vai se decompor em seus elementos orgânicos básicos,
voltando para a terra, onde vai integrar outros corpos vivos, vegetais e/ou
animais. Para o Espiritismo, a doação de órgãos, portanto, é um ato de amor ao
próximo, de benevolência, de caridade, através do qual os dois serão
beneficiados. Será beneficiado aquele que doou – porque a doação lhe fará um
grande bem na vida espiritual – e também será beneficiado o que o recebeu –
porque este vai precisar do órgão para sobreviver nesta vida. E a vida é
importantíssima para o Espírito.
Você quer saber se a extração do órgão, após a
morte cerebral, não pode trazer graves problemas para o Espírito desencarnante,
pois sabemos que o Espírito sobrevive com o seu perispírito ou corpo espiritual
e pode ainda estar ligado ao corpo. Respondemos que não, Laucene, mas isso com
uma única condição: se o doador estava consciente de que seus órgãos seriam
aproveitados após a morte, se realmente essa doação fosse a expressão de sua
vontade. Nesse caso – ou seja, quando existe essa predisposição de sua parte
- ele está preparado para essa operação,
e o que funciona nesse momento é um mecanismo psicológico de desprendimento
daquele órgão, que vai ser transplantado em alguém.
A repercussão negativa ocorreria sim, no caso
de a pessoa não querer doar ou não está bem certa disso. Há pessoas que não se
sentem em condições de permitir tal doação. Neste caso, devemos respeitá-la,
pois ela poderia experimentar um sofrimento moral, em razão de sua negativa e,
consequentemente, de sua resistência natural; isto é, do fato de não estar
preparada para doar, e poderá sentir-se violentada com a doação feita pela família sem o seu
consentimento, sem a sua permissão, o que poderia repercutir na estrutura de
seu perispírito, pois o perispírito é muito suscetível à vida emocional do
Espírito.
Entretanto, mesmo assim, há exceções, Laucene.
Chico Xavier psicografou uma mensagem de um jovem desencarnado num acidente
automobilístico, que teve morte encefálica. Na ausência da mãe, sua irmã
autorizou a doação do seu coração para um necessitado, numa situação de
emergência. Mesmo não sendo doador em vida, esse Espírito foi amparado pelo pai
e amigos no mundo espiritual. Inicialmente, ele sentiu uma dor na altura do
peito que logo foi aliviada pelos espíritos amigos, mas em razão do fato de não
estar preparado para esse momento.
Contudo, depois ele veio a saber que esta dor
teve relação com o momento em que seu coração físico estava sendo retirado. Mas
com o entendimento no mundo espiritual, pelas explicações de seu pai , ele
compreendeu que a atitude da irmã fora correta e via o seu coração
perispiritual bater firme e vibrante. O jovem termina a mensagem solicitando à
mãe que entendesse o ato da irmã; e
disse mais: que, se novamente reencarnasse, ele doaria todos os seus órgãos.
Este episódio se refere ao primeiro caso de transplante cardíaco realizado no
Rio Grande do Sul.
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