Porque o Espiritismo, apesar
de ter nascido na França, após a morte de Allan Kardec perdeu paulatinamente a
força inicial até seu quase desaparecimento ganhando intensidade apenas no
Brasil? A dúvida que é de muitos encontrou resposta entre os meses de junho e
agosto de 1965, quando os médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira, atendendo
convite de amigos radicados nos Estados Unidos da América do Norte e alguns
países europeus, cumpriram roteiro de visitas por várias cidades dos dois
continentes, visando não apenas conhecer o movimento espiritualista lá
existente, mas, também apresentar alguns dos seus trabalhos traduzidos para o
idioma inglês. O mais interessante é que um grupo dos Espíritos desencarnados
que desenvolviam trabalhos junto a eles os acompanhou, a fim de estreitar
relações com líderes espirituais lá atuantes no amplo movimento espiritualista
que, nos bastidores da evolução trabalham direta e indiretamente pelo despertar
dos que lá vivem. Os Benfeitores Espirituais Emmanuel, André Luiz, Hilário
Silva, Kelvin Van Dine e Irmão X estavam com a dupla,
registrando com conteúdos psicografados sua passagem por localidades como Nova
Iorque (NI), Silver Spring (Maryland), Washington (D.C.) neste lado da Atlântico, e, Londres
(Inglaterra) e Paris (França), material
posteriormente reunido no livro – ENTRE
IRMÃOS DE OUTRAS TERRAS (feb,1965) -, com que se reverenciou o centenário
da primeira entidade espírita do Brasil, o Grupo Familiar do Espiritismo,
nascido em 17 de setembro de 1865, em Salvador (BA). Alguns Espíritos ligados
ao movimento espiritualista local aproveitaram a presença dos médiuns
brasileiros para transmitir interessantes mensagens como Ernest O´Brien e Anderson
que as escreveram no idioma inglês inseridas no livro conforme o original,
traduzidas para o português pelo erudito Hermínio Correia de Miranda. Outro
detalhe curioso é que dos dois textos do prefácio, um é uma prece do Espírito André
Luiz antes do embarque. Algumas entrevistas interessantes foram desenvolvidas
pelo Irmão
X e por André Luiz com
personalidades locais. Uma delas já tema de postagem no início deste BLOG com a célebre atriz Marilyn
Monroe que abordada pelo Irmão X, forneceu detalhes de sua intrigante
desencarnação anos antes. Quando da passagem do grupo por Paris, no dia 20 de
agosto de 1965, André Luiz teve a oportunidade de conversar com um dos
destacados continuadores de Allan Kardec, o engenheiro e
escritor Gabriel Delanne. O autor de A REENCARNAÇÃO, A EVOLUÇÃO ANÍMICA, A ALMA É IMORTAL (feb),
filho de médiuns que serviram à Kardec na Sociedade Espírita de Paris, inteligência precoce para sua idade,
respondeu a 20 questões formuladas pelo autor da série NOSSO LAR. Informando que, “apesar de residir agora além da Terra,
prossegue dentro das possibilidades sua ação espírita de outro tempo”,
considera que o “Espiritismo não alcançou o nível ideal”. Em se tratando do
berço de Kardec, diz que “não podemos esquecer que a França nos
últimos vinte lustros sofreu a carga de três grandes guerras que lhe impuseram
sofrimentos e provas terríveis, o que, contudo, não atrasou a marcha do
Espiritismo, visto que legiões de companheiros da obra de Allan Kardec reencarnaram, não só na França, mas igualmente em outros países, notadamente no Brasil, para a sustentação do edifício kardequiano”. Não vê como “lenta a expansão dos princípios espíritas
no mundo, visto que, as atividades espíritas contam pouco mais de um século e um século é período
demasiado curto em assuntos do Espírito”. Sobre se a Europa eventualmente retomará a direção do movimento
espírita, avalia que “antes de tudo, devemos considerar que a
Europa assemelha-se, atualmente, a vasto campo de guerra ideológica, que está
muito longe de terminar”. Sobre se fenômenos de efeitos físicos não
deveriam ser mais usados no processo de despertamento dos homens, diz que “essa
modalidade serve à convicção, mas, não adianta ao serviço indispensável da
renovação espiritual, estando certos os Espíritos Superiores na poda dos surtos
e motivações que surgem”. Questionado sobre qual a direção mais indicada para
pesquisa científica, respondeu que “devemos estimular os estudos em torno da
matéria e da reencarnação, analisar o reino maravilhoso da mente e situar no
exercício da mediunidade as obras de fraternidade, orientação, consolo e alívio
às múltiplas enfermidades das criaturas terrestres, melhorando a
individualidade por dentro”. Solicitado a apontar onde os percalços
maiores para a expansão da Doutrina Espírita, afirmou que, em sua opinião, “procedem
da atuação daqueles que reencarnam, prometendo servi-la, seja através da
mediunidade direta ou indireta, no campo da inspiração e da inteligência, e se
transviam nas seduções da esfera física, convertendo-se em médiuns autênticos
das regiões inferiores, de vez que não negam as verdades do Espiritismo, mas
estão prontos a ridicularizá-las, através de escritos sarcásticos ou da arte
histriônica, junto dos quais encontramos as demonstrações improdutivas, as
histórias fantásticas, o anedotário deprimente e os filmes de terror, sendo
impossível negar que os milhões de Espíritos inferiores que cercam a Humanidade
possuem seus médiuns”. “Educação”
é o único modo de vencer no labirinto
gigantesco em que opera a influência das sombras, “explicando, tanto nos sistemas
religiosos do Ocidente quanto do Oriente que a pessoa, em qualquer lugar
e tempo somente possui o que ela fez de si própria”.
A.P.S., do bairro Labienópolis, comentou o seguinte: “Acredito que o único
caminho, que nos leva a Deus, é a nossa
reforma íntima,que o Espiritismo ensina.”(Adriana)
Não há dúvida de que o Espiritismo, o tempo todo, se preocupa com a nossa reforma moral. Aliás, é o que Allan Kardec deixa bem claro n’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, quando afirma: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar as suas más tendências”. Jesus não cuidou de outra coisa e também deixou bem claro que o mandamento maior é o amor, o amor ao próximo e o amor a Deus.
Entretanto, devemos tomar cuidado para não concluir que só é possível a “reforma íntima” se a pessoa se isolar do mundo. Sim, porque há pessoas que pensam que, se recolhendo ou se afastando do meio social, elas ficam mais próximas de Deus e, só assim podem encher seus corações de amor. Nada disso: devemos entender por “reforma íntima” o esforço, que devemos fazer, para melhorar o pensamento e a conduta no dia-a-dia, mas sempre levando em consideração que só conseguimos essa meta no convívio com todos, desde o lar e ao âmbito maior da comunidade.
No tempo de Jesus, havia na Palestina uma seita, que vivia confinada ou isolada da sociedade, em lugar distante. Eram os essênios que, muito tempo antes de Jesus, já ensinavam o amor ao próximo e a Deus, mas com uma diferença: o próximo para eles era aquele que vivia confinado dentro da mesma comunidade. Os essênios não se misturavam com o povo, pois consideravam que a sociedade humana é depravada, contaminada pelo pecado e que, portanto, vivendo na sociedade, a pessoa não se poderia exercitar o verdadeiro amor.
Jesus discordava disso. Aliás, o que ele fez, durante os três anos de ensinamento, foi conviver com pessoas de todas as origens, tendências e classe social. Os fariseus – que viviam orando, querendo parecer puros e santos – o criticavam ferrenhamente, dizendo que ele, como mestre de Israel, não podia de misturar com gente pecadora e de má vida. Jesus, porém, não dava atenção a tais críticas, dizendo que “os sãos não precisam de médico, mas apenas os doentes”.
É que Jesus ensinava que só podemos aprender a amar, exercitando o amor; só aprendemos a ser bons, praticando a bondade. E o melhor lugar para pôr em prática as virtudes morais é viver entre aqueles que não as têm. Por isso, “reforma íntima” deve ser entendida como o esforço, que cada um pode fazer para melhorar a sua conduta, seguindo os preceitos morais recomendados por Jesus. Nesse sentido, realmente não há outro caminho para se aproximar de Deus, cara ouvinte.
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