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sábado, 21 de agosto de 2021

ENTENDENDO DEUS; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

  • Acompanhando o trabalho de Allan Kardec através da REVISTA ESPÍRITA, vai se percebem que suas páginas serviram também para o desenvolvimento de temas que não ficaram totalmente compreensíveis nas Obras Básicas. Descobre-se ainda que correspondentes da publicação forneciam conteúdos importantes ao aprofundamento da Doutrina. No número de maio de 1861, na seção QUESTÕES E PROBLEMAS, encontramos um exemplo disso. Um leitor escreve: -“Após haver dissipado uma a uma as minhas dúvidas e reafirmado minha fé na sua base, o Espiritismo me deixa uma questão não resolvida; ei-la: Como os Espíritos novos, que Deus cria, e que se destinam um dia tornar-se Espíritos puros, depois de terem passado pela peneira de uma multidão de existências e de provas, saem tão imperfeitos das mãos do Criador, que é a fonte de toda perfeição, e não se melhoram gradualmente senão se afastando de sua origem? Resp. – Esse é um mistério que o Eterno não nos permite penetrar, antes que nós, Espíritos errantes ou encarnados, tenhamos atingido a perfeição que nos é indicada, graças à bondade divina, perfeição que novamente nos aproximará de nossa origem e fechará o círculo da eternidade. Allan Kardec observa: -“Nosso correspondente não nos diz qual o Espírito que lhe respondeu, mas a sabedoria de suas respostas prova que não é um Espírito vulgar. Eis o essencial, porquanto, como se sabe, o nome pouco importa. Nada temos a dizer quanto às suas primeiras respostas, que concordam em todos os pontos com o que nos foi ensinado, provando que a teoria que demos dos fenômenos espíritas não é produto de nossa imaginação, visto ser dada por outros Espíritos, em tempos e lugares diversos e fora de nossa influência pessoal. Apenas a última resposta não resolve a pergunta feita. Vamos tentar remediá-la. Digamos, primeiramente, que a solução pode ser facilmente deduzida do que está dito, com alguns desenvolvimentos, em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, sobre a progressão dos Espíritos, pergunta 114 e seguintes. Teremos pouca coisa a acrescentar. Os Espíritos saem das mãos do Criador simples e ignorantes, mas nem são bons, nem maus: do contrário, desde a sua origem teria Deus votado uns ao bem e à felicidade, e outros ao mal e à desgraça, o que não estaria nem conforme à sua bondade, nem de acordo com a sua justiça. No momento de sua criação, os Espíritos não são imperfeitos senão do ponto de vista do desenvolvimento intelectual e moral, como a criança ao nascer, como o germe contido na semente da árvore; mas não são maus por natureza. Ao mesmo tempo, neles se desenvolve a razão, o livre-arbítrio, em virtude do qual escolhem, uns o bom caminho, outros o mau, fazendo que uns cheguem ao objetivo mais cedo que outros. Mas todos, sem exceção, devem passar pelas vicissitudes da vida corporal, a fim de adquirir experiência e ter o mérito da luta. Ora, nessa luta uns triunfam, outros sucumbem, conquanto os vencidos possam sempre se erguer e resgatar os seus fracassos. Esta questão levanta outra, mais grave, que muitas vezes nos tem sido apresentada. É a seguinte: Deus, que tudo sabe, o passado, o presente e o futuro, deve saber que tal Espírito seguirá o mau caminho, sucumbirá e será infeliz. Neste caso, por que o criou?  Ora, por certo sabe Deus perfeitamente a linha que seguirá um Espírito, pois, de outro modo, não teria a ciência soberana. Se o mau caminho no qual se aventura o Espírito devesse fatalmente conduzi-lo a uma Eternidade absoluta de penas e sofrimentos; se, porque tivesse falido, lhe fosse sempre negado reabilitar-se, a objeção acima teria uma força de lógica incontestável, e talvez aí residisse o mais poderoso argumento contra o dogma dos suplícios eternos. Neste caso, impossível é sair do dilema: ou Deus não conhece a sorte reservada à sua criatura, e então não tem a soberana ciência; ou, se a conhece, Ele a criou para ser eternamente infeliz e, portanto, não tem a soberana bondade. Com a Doutrina Espírita, tudo concorda perfeitamente e não há mais contradição: Deus sabe que um Espírito tomará um mau caminho; conhece todos os perigos de que este se acha semeado, mas sabe, também, que dele sairá, e que não haverá para ele senão um atraso. E, em sua bondade e para lhe facilitar, multiplica em sua rota as advertências salutares, das quais infelizmente nem sempre ele aproveita. É a história de dois viajantes que querem alcançar um belo País, onde viverão felizes; um sabe evitar os obstáculos, as tentações que o fariam parar no caminho; o outro, por imprudência, choca-se contra os mesmos obstáculos, leva quedas que o atrasam, mas chegará por sua vez. Se, no caminho, pessoas caridosas o previnem dos perigos que corre e se, por presunção, não as escuta, mais repreensível será por isso”.


 Num sermão, que ouvi no rádio, o pregador falava sobre a atuação do demônio no mundo, fazendo muitos estragos e levando pessoas e até populações à ruína. Disse que aquela tragédia do rapaz que saiu atirando, ferindo e matando crianças numa escola do Rio, é um exemplo de como o demônio age pelas mãos do próprio homem. Gostaria de ouvir um comentário sobre isso. (José Fabiano Ferraz)

 Você sabe, Fabiano, que a Doutrina Espírita não concebe a figura do demônio, como a tradição religiosa veio ensinando ao longo dos séculos, desde os persas na Idade Antiga, de onde herdaram essa idéia. Para o Espiritismo, o mal é a ausência do bem, e todas as manifestações de violência, que nos assustam, nada mais são do que a expressão da ignorância da alma humana, que ainda não encontrou o caminho de sua ascensão espiritual.

 Você poderia objetar, dizendo:  mas, os obsessores não são demônios? Nós responderíamos: depende do conceito que você tem de demônio. Se for no sentido de praticar o mal, todos nós agimos como demônios muitas vezes. Espíritos ignorantes ou maldosos podem nos incentivar ao mal, mas ao mal que já está em nós, ou seja, a nossa imperfeição moral. Os Espíritos desencarnados não criam o mal em nós: eles apenas estimulam as tendências negativas ou o desequilíbrio que está dentro de cada um.

 Seria absurdo, do ponto de vista da razão, conceber que exista uma força do mal, tão poderosa que tem o poder de se opor à força do bem, que é Deus. Deus é a Perfeição Suprema, o Bem Absoluto, e, portanto, não pode ter opositor. O mal, que conhecemos e esse que ainda se manifesta no mundo, nada mais é do que a expressão de nossa imperfeição moral – tanto aquela que ainda existe na sociedade (como um todo), como aquela que pode se manifestar em cada um de nós, através de nossas atitudes e comportamento.

 É bem verdade que existem pessoas, que agem com impetuosa violência, contra tudo e contra todos – como é o caso que você cita, dos matadores em série – quando chega a esse extremo de desequilíbrio mental, é porque já perderam o controle de si mesmas. Elas devem estar muito doentes -  mentalmente doentes – talvez por uma disposição própria de seu espírito, talvez por envolvimento e influencia direta de Espíritos que, juntos com ela, se comprazem em destruir e causar sofrimento.

 O problema, portanto, Fabiano, continua sendo o de cultivarmos os valores espirituais, desde o seio da família -  com as crianças estão sob nossa responsabilidade – até nas escolas e demais instituições sociais, que estejam a serviço da educação das novas gerações. Deus é uma necessidade imprescindível em nossa vida – não para ser simplesmente adorado e reverenciado – mas para nos inspirar uma vida digna, de respeito ao semelhante e de amor pela humanidade.                               

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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