Poeta épico grego, ao
qual se atribui a autoria de ODISSÉIA
e ILÍADA, Homero, ainda na
atualidade é tema de polêmicas acaloradas por parte dos estudiosos de sua vida
e obra. Pois, na REVISTA ESPÍRITA de
novembro
de 1860, encontramos interessante matéria onde Allan Kardec apresenta o
resultado de interessante comunicação em forma de diálogo estabelecido através
de dois médiuns avaliados por ele como confiáveis - até pelo seu nível
cultural. Comunicação obtida
espontaneamente e sem que o médium de forma alguma pensasse no poeta grego, provocou
diversas perguntas. Vejamos alguns trechos da interessante conversa: -“ Passei
a juventude nos alagados de Mélès; banhei-me e embalei-me muitas vezes em suas
ondas. Daí por que, na minha juventude, eu era chamado de Melesigênio.”
1. Sendo este nome desconhecido, rogamos
ao Espírito que se dignasse explicá-lo de maneira precisa. Resp. – Minha
mocidade foi embalada nas ondas; a poesia me deu cabelos brancos. Sou eu a quem
chamais Homero. Observação – Grande foi a nossa surpresa, pois não
fazíamos nenhuma ideia do sobrenome de Homero; depois o encontramos no
dicionário mitológico. Continuamos as perguntas. 2. Poderíeis dizer a que
devemos a felicidade de vossa visita espontânea? Não pensávamos absolutamente
em vós neste momento, pelo que vos pedimos perdão. Resp. – É porque venho às vossas
reuniões, como se vai sempre aos irmãos que têm em vista fazer o bem.
4. Os poemas da ILÍADA e da ODISSÉIA, que temos, são exatamente os que
compusestes? Resp. – Não; foram modificados. 5. Várias
cidades disputaram a honra de vos ter sido o berço. Poderíeis esclarecer-nos a
respeito? Resp. – Procurai a cidade da Grécia que possui a casa do cortesão Clénax. Foi
ele quem expulsou minha mãe do lugar de meu nascimento, porque ela não queria
ser sua amante; assim, sabereis em que cidade eu nasci. Sim, elas disputaram
essa suposta honra, mas não disputavam por me haverem dado hospitalidade. Oh!
eis os pobres humanos; sempre futilidades; bons pensamentos, jamais!”.
Analisando o depoimento, Allan Kardec observa: - “O
fato mais importante desta comunicação é a revelação do sobrenome de Homero; e
é tanto mais notável quanto os dois médiuns, que deploram a insuficiência de
sua instrução – o que os obriga a viver do trabalho manual – não podiam ter a
menor ideia a respeito. E tanto menos se pode atribui-lo a um reflexo qualquer
do pensamento, considerando-se que no momento estavam sós. A respeito, faremos
outra observação: Está provado, para todo espírita, mesmo para os menos
experientes, que se alguém soubesse o sobrenome de Homero e, numa evocação,
como prova de identidade, lhe pedisse para o revelar, nada obteria. Se as
comunicações não passassem de um reflexo do pensamento, como não diria o
Espírito aquilo que sabemos, enquanto ele próprio diz aquilo que ignoramos? É
que ele também tem a sua dignidade e a sua susceptibilidade e quer provar que
não está às ordens do primeiro curioso que apareça. Suponhamos que aquele que
mais protesta contra o que chama capricho ou má vontade do Espírito, se
apresente numa casa declinando o nome. Que faria, se o acolhessem e lhe pedissem
à queima-roupa que provasse ser ele mesmo? Voltaria as costas. É o que fazem os
Espíritos. Isto não quer dizer que se deva crer sob palavra; mas quando se
querem provas de identidade, é necessário que os tratemos com a mesma
consideração que dispensamos aos homens. As provas de identidade fornecidas
espontaneamente pelos Espíritos são sempre as melhores. Se nos estendemos tanto
a propósito de um assunto que não parecia comportar tantas considerações, é que
se me afigura útil não negligenciar nenhuma ocasião de chamar a atenção sobre a
parte prática de uma ciência cercada de mais dificuldades do que geralmente se
pensa, e que muitas pessoas julgam possuir porque sabem fazer bater uma mesa ou
mover-se um lápis”.
A nossa ouvinte, Professora Leninha, nos
telefonou semana passada para saber sobre reforma íntima. O que é reforma intima?
Como se pode obtê-la? E o que fazer quando a gente, pensando que está
melhorando, comete um erro grave e tem uma recaída?
A expressão “reforma íntima”, Leninha – geralmente usada pelos espíritas - refere-se ao nosso esforço pessoal em nos melhorar moralmente. Para isso, em primeiro lugar, precisamos desenvolver o espírito crítico em relação a nós mesmos: é o que se chama “autocrítica”. Quando sentimos que já somos capazes de criticar a nossa própria conduta de forma serena e sincera – o modo como tratamos as pessoas, começando da própria família – então, já estamos preparados para iniciar essa reforma.
Essa “reforma íntima” não é invenção do Espiritismo. Foi Jesus que a instituiu, quando proferiu o Sermão da Montanha. Seguir, portanto, as recomendações que Jesus deu no Sermão da Montanha, é começar a praticar a reforma íntima. Jesus, como mestre de seu povo, ensinava que, para mudar ( ou seja, para fazer o que ele chamou “vontade do Pai”), devemos aprender a amar o próximo. Só amaremos Deus de verdade, se amarmos os filhos de Deus. Amar o próximo, em última instância, é fazer para o próximo aquilo que queremos que ele nos faça e não lhe fazer o que não queremos que nos faça.
Trata-se de uma empreitada muito difícil, trata-se do maior desafio que o ser humano pode enfrentar. Porque, geralmente, todos estamos sempre prontos para apontar os erros dos outros, mas, quando se trata de nossos erros, não queremos admiti-los e, quando os admitimos, logo queremos justificá-los, para que não pareçam tão graves. “Como é que vedes um cisco no olho de vosso irmão” – disse Jesus – “e não vedes uma lasca que está em vosso próprio olho. Hipócritas, tirai primeiro a lasca de teu olho, para depois tirar o cisco do olho de teu irmão”.
Seguindo os preceitos de Jesus, Allan Kardec estabeleceu como principal princípio para o espírita a reforma moral, afirmando: “Reconhece-se como verdadeiro espírita aquele que se esforça para remover suas próprias imperfeições morais”. Ora, isso é realmente difícil, mas é o desafio do verdadeiro cristão. Como temos muitas falhas, muitas imperfeições – para nos corrigir moralmente – precisamos estabelecer metas, começando pelas mais fáceis de serem atingidas. Talvez seja a maneira mais prática de se melhorar, porque, se começarmos pelas mais difíceis, podemos desistir ante a impossibilidade de vencê-las logo de início.
Costumamos dar como exemplo de uma meta mais fácil “evitar a maledicência”, ou seja, passar a evitar de falar mal dos outros, que é, sem dúvida, uma falta grave. Um mau hábito é difícil de se erradicar. Para isso, precisamos substituí-lo por um bom hábito. Ora, o contrário de falar mal é falar bem: ele funciona melhor do que simplesmente não falar nada. Desse modo, quando pensarmos no defeito de uma pessoa, de quem queremos falar, o melhor é procurar nela uma virtude e passar a comentá-la. E, a partir de então, passarmos a fazer isso com todos aqueles que queremos criticar, até que o hábito de falar bem se incorpore ao nosso comportamento.
É claro que isso não é tão fácil assim, pois não se adquire uma virtude em pouco tempo. Portanto, algumas vezes, nos surpreenderemos fazendo o que não devíamos. Mas, se estivermos atento diariamente às nossas atitudes e comportamentos, nem por isso vamos desanimar. Da vez seguinte, retomamos o nosso esforço naquele sentido e prosseguimos em frente, seguindo a orientação de Jesus: “Aquele que perseverar até o fim será salvo”. Nesse caso, nos salvaremos da maledicência.
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