Algumas pessoas contestam a doutrina da reencarnação, como contrária aos dogmas da Igreja, concluindo que a mesma não existe. Que é que se pode responder? Allan Kardec inclui interessante comentário em sua REVISTA ESPÍRITA sobre questão similar. Escreve: -“A resposta é muito simples. A reencarnação não é um sistema que dependa dos homens adotar ou não, como se faz com um sistema político; é uma lei inerente à Humanidade, como comer, beber e dormir; uma alternativa da vida da alma como a vigília e o sono são alternativas da vida do corpo. Se é uma lei da natureza, não é uma opinião contrária que se a possa impedir de ser. A Terra não gira ao redor do Sol porque se o acredite, mas porque obedece a uma lei; e os anátemas que foram lançados contra esta lei não impediram que a Terra girasse. Assim, como a reencarnação: não será a opinião de alguns homens que os impedirá de renascerem, se tiverem que renascer. Admitido que a reencarnação é uma lei da natureza, suponhamos que ela não possa acomodar-se com um dogma: trata-se de saber se a razão está como dogma ou com a lei. Ora, quem é o autor da lei da natureza, senão Deus? No caso, direi que não é a lei que contraria o dogma, mas o dogma que contraria a lei, desde que qualquer lei da natureza é anterior ao dogma e os homens renasciam antes que o dogma fosse estabelecido. A questão é saber se existe ou não a reencarnação. Para os espíritas há milhares de provas contra uma que é inútil repetir. Direi apenas que o Espiritismo demonstra que a pluralidade de existências não só é possível, mas necessária, indispensável; e ele encontra a sua prova, sem falar da revelação dos Espíritos, numa incalculável multidão de fenômenos de ordem moral, psicológica e antropológica. Tais fenômenos são efeitos que tem uma causa. Buscando-se a causa, encontramo-la na reencarnação, posta em evidência pela observação daqueles fenômenos, como a presença do Sol, embora oculto pelas nuvens, é posta em evidência pela luz do dia. Para provar que está errada, ou que não existe, seria preciso explicar melhor, por outros meios, tudo o que ele explica o que ninguém ainda fez. Antes da descoberta das propriedades da eletricidade, se alguém tivesse anunciado que poderia em cinco minutos corresponder-se a quinhentos quilômetros, não teriam faltado cientistas que lhe provassem cientificamente, pelas leis da mecânica, que a coisa era materialmente impossível, pois não, pois não conheciam outras leis. Para tanto havia necessidade da revelação de uma nova força. Assim com a reencarnação. É uma nova lei, que vem lançar luz sobre uma porção de questões obscuras e modificará profundamente todas as ideias quando for reconhecida. Assim, não é a opinião de alguns homens que prova a existência da lei: são os fatos. Se invocamos o seu testemunho, é para demonstrar que ela tinha sido entrevista e suspeitada por outros, antes do Espiritismo, que não é seu inventor, mas a desenvolveu e lhe deduziu as consequências”.
Helvécio de Carvalho, da Avenida Presidente Vargas, Garça/SP questiona sobre o conceito que as religiões vieram fazendo de Deus, ao longo dos séculos. Segundo ele, o deus, que a religião sempre ensinou ( e até hoje ensina), não é a do Deus que criou o homem, mas a de um deus que foi criado pelo homem, à imagem e semelhança do próprio homem.
Não resta dúvida, Helvécio. Isso fez parte da História de Humanidade. Não dá para entender a evolução do pensamento religioso, sem consultar a experiência e a história. Cada fase da História - cada cultura, cada povo - projetou no seu mundo a sua própria concepção de Deus. É por isso que os povos mais antigos tinham vários deuses. Eles viam o mundo dividido em variadas formas de manifestação da natureza, e deduziam que elas proviam de vários poderes diferentes.
A idéia de um deus único veio com o progresso do pensamento, com a evolução do conhecimento da natureza. Se consultarmos a Bíblia, por exemplo, que conta a saga do povo hebreu, vamos perceber que cerca de 18 séculos antes de Cristo, quando Abraão se instalou com sua tribo às margens do Jordão, na busca de uma região fértil para a agricultura e criação de animais, ali ele se deparou com diversos outros povos, todos disputando aquelas terras, e cada um cultuando seus próprios deuses.
Mais tarde, enfrentando a poderosa influência da religião egípcia, Moisés precisou ameaçar seu próprio povo a não cultuar deuses que não pertencessem às suas tradições religiosas. Quando ele coloca na boca de Iavé a frase “não terá outros deuses diante de mim” ou quando proíbia as “imagens de escultura, semelhantes ao que está no céu”, ele declarava uma guerra de morte àqueles que não reconheciam como verdadeiro apenas e tão somente o deus que adorava. A gente percebe que a violência estava sempre presente na imposição da fé.
Somente com Jesus, muitos séculos depois, é que reconheceu um deus universal, até porque o homem foi entendendo que existe uma ordem no mundo e que essa ordem não pode advir senão de um único comando. Jesus, percebendo a aflição por que passava seu povo, principalmente as camadas mais humildes, deu-lhes como consolo a existência de um Pai de Amor e Misericórdia, que tocava muito mais o coração dos sofredores do que a de um rei insensível, autoritário e violento, que era a forma como Deus vinha sendo visto, até então.
Hoje, cerca de mil anos depois, quando os conhecimentos humanos já deram um grande salto, não podemos permanecer presos mais a uma idéia antiga de Deus, porque Deus cresce na concepção do homem à medida que o homem evolui. Mas, na verdade, cada religião tem a sua própria imagem de Deus e cada pessoa, independente da religião que professa, no seu íntimo, sente Deus de uma forma peculiar, que mais atende à suas necessidades íntimas, até porque um Poder Supremo e Absoluto não poderia se mostrar para todos da mesma forma.
O fato é que não podemos viver sem Deus. É a concepção de sua existência e de sua presença nos dá o sentido para a vida, a razão de nossa presença no mundo e as aspirações para o futuro. Sem Deus, o homem se degradaria, perderíamos as referências, os valores de conduta, o ideal supremo e, principalmente, a esperança e o conforto nas horas difíceis da vida. Esse fato levou um grande pensador francês, Voltaire, a afirmar que “se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo”.
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