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sábado, 11 de setembro de 2021

DÚVIDA NATURAL; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Ao final de palestra, jovem questiona se associação da dita civilização com grupos humanos ainda vivendo em tribos harmonicamente, com cultura e tradições próprias e respeito à natureza é realmente correta? Não seria melhor deixa-los viver como o fazem sem os contaminar com uma sociedade decadente? Curiosamente indagação parecida foi tema de matéria na REVISTA ESPÍRITA de agosto de 1864, seção QUESTÕES E PROBLEMAS, em que Allan Kardec atende leitor da cidade de Bordeaux, em dúvida após ter lido matéria publicada sobre as Cartas de Cristóvão Colombo descrevendo o estado do México no momento da descoberta, especialmente no tocante aos habitantes locais que pareciam viver numa idade de ouro, em perfeita harmonia entre si e a natureza, infinitamente superiores não só aos invasores como aos países mais civilizados. Médium, tentou a opinião do seu guia espiritual, obtendo como resposta: -“Nós te responderíamos com prazer, se teu Espírito estivesse em estado de tratar, neste momento, de assunto tão sério, que requer alguns desenvolvimentos espírito-filosóficos. Dirige-te a Kardec. Esta ordem de ideias já foi debatida, mas ela voltar-se-á de maneira mais lucida do que poderias fazê-lo, porque sempre tens o espírito tenso e o ouvido à espreita. É uma consequência de tua posição atual e tens que te submeter”. Sobre a orientação Allan Kardec comenta: -“Disso ressalta uma primeira instrução: é que não basta ser médium, mesmo formado e desenvolvido, para, à vontade, obter comunicações sobre o primeiro assunto surgido. Aquele fêz suas provas, mas, no momento, seu Espírito, forte e penosamente preocupado com outras coisas, não podia ter a calma necessária. É assim que mil circunstâncias podem opor-se ao exercício da faculdade mediúnica. Nem por isso a faculdade deixa de subsistir, mas nada é sem o concurso dos Espíritos, que lhe dão, ou recusam, conforme julgam conveniente e isto, muitas vezes no interesse do médium”. Sobre a pergunta principal, a Espiritualidade se manifestou na reunião da Sociedade Espírita de Paris de 8 de julho, através do médium Sr. D’Ambel, esclarecendo o seguinte: -“Sob as aparências de uma certa bondade natural, e com costumes mais doces que virtuosos, os Incas viviam despreocupadamente, sem progredir nem se elevar. A essas raças primitivas faltava a luta; e se as batalhas sangrentas não os dizimavam; se uma ambição individual ali não exercia uma pressão soberana para lançar aquelas populações a conquistas, elas não eram menos atingidas pelo perigoso vírus que conduzia sua raça à extinção. Era preciso retemperar as fontes vitais desses Incas abastardados, dos quais os Aztecas representavam a decadência fatal, que deveria atingir todos aqueles povos. Se a essas causas inteiramente fisiológicas, juntarmos as causas morais, notaremos que o nível das ciências e das artes ali tinha igualmente ficado em prolongada infância. Havia, pois, utilidade de por esses países pacíficos no nível das raças ocidentais. Hoje se julga a raça desaparecida, porque se fundiu com a dos conquistadores espanhóis. Dessa raça cruzada surgiu uma Nação nova e vivaz que, por um vigoroso impulso, não tardará a atingir os povos do Velho Continente. Que resta de tanto sangue derramado? perguntam de Bordeaux. Para começar, o sangue derramado não foi tão considerável quanto se poderia crer. Antes as armas de fogo e alguns soldados de Pìzarro, toda a região invadida submeteu-se como ante semi-deuses, saídos das águas. É quase um episódio da Mitologia Antiga e essa raça indígena é, sob vários aspectos, semelhante às que defendiam o Tosão de Ouro”. Em comentário complementar, Allan Kardec, entre outros aspectos, pondera: -“Sem dúvida, é penoso pensar que o progresso, por vezes, precisa de destruição. Mas é preciso destruir as velhas cabanas, substituindo-as por casas novas, mais belas e cômodas. Aliás, é preciso levar em conta o estado atrasado do Globo, onde a Humanidade está apenas no progresso material e intelectual. Quando entrar no do progresso moral e espiritual, as necessidades morais ultrapassarão as necessidades materiais. Os homens serão governados segundo a Justiça e não mais terão que reivindicar seu lugar à força. Então a guerra e a destruição não mais terão razão de ser. Até lá, a luta é consequência de sua inferioridade moral. Vivendo mais material que espiritualmente, o homem não encara as coisas senão do ponto de vista atual e material e, por isso, limitado. Até agora, ignorou que o papel capital é do Espírito: viu seus efeitos, mas não conheceu as causas e é por isto que, durante tanto tempo, desencaminhou-se nas ciências, nas suas instituições e religiões. Ensinando-lhe a participação do elemento espiritual em todas as coisas do mundo, o Espiritismo alarga seu horizonte e muda o curso de suas ideias. Abre a Era do progresso moral”.


Gostaria de saber se todas as centenas de pessoas vítimas de calamidades, como o estouro da barragem de Brumadinho, estão purgando pecados de vidas anteriores. Se essas pessoas tinham que passar por esses tormentos, se isso estava em seus destinos, aqueles que deram causa a essas calamidades, contribuíram para a evolução desses Espíritos e não podem ser totalmente culpados? ( Maria Tereza)

Não devemos justificar nossas más ações ou omissões pela lei da reencarnação. O bem deve ser feito sempre e incondicionalmente, em todas as circunstâncias, sem que haja necessidade de se perguntar se a pessoa, que precisa ser socorrida, merece ou não. Ser bem tratado é um direito de todos os seres humanos, principalmente numa situação de emergência. Não seremos nós, seres humanos, ainda bastante falhos e imperfeitos, que vamos fazer a justiça que só compete a Deus, até porque nada sabemos sobre o passado de ninguém.

Quando Jesus contou a Parábola do Bom Samaritano, ele falou sobre um desconhecido - que foi ignorado por dois religiosos ( o sacerdote e o levita) e socorrido na estrada por um herege. Mas Jesus não questionou se o homem ferido era bom ou mau, se tinha ou não tinha religião, se ele era um judeu ou um estrangeiro. Disse, apenas e tão somente, que era um homem; portanto, um filho de Deus, e isso já era o suficiente para merecer toda consideração.

Embora, na Lei de Deus, nada acontece por acaso – e, portanto, o sofrimento decorrente dessas catástrofes, deve ter um sentido justo – aqueles que contribuíram para que ela acontecesse, que deixaram de tomar as providências em favor do bem-estar da população, são corresponsáveis pelo sofrimento de tanta gente e, com certeza, deverão responder por isso, diante da Lei de Deus. Tudo é uma questão de tempo.

A Lei de Deus é tão perfeita que, para o seu cumprimento, as coisas acontecem dentro de uma ordem extraordinária, que ainda estamos longe de entender. Assim, do mal pode surgir o bem, pois tudo – absolutamente tudo que acontece no universo – concorre para o preciso cumprimento da lei maior. Contudo, uma coisa é certa: não temos o direito de prejudicar ninguém, nem tampouco de nos omitir diante de providências que impliquem no bem estar das pessoas.

Por outro lado, respondendo à segunda parte de sua pergunta, podemos acrescentar que nem todos os envolvidos na tragédia deviam estar ali pelo mesmo motivo. O que você me diz, por exemplo, das pessoas que atuaram no salvamento de vítimas, nas ações solidárias de moradores, que não se preocuparam apenas consigo mesmos, mas foram ao encontro de outros que viviam momentos ou situações mais difíceis. Logo, é possível que, entre a população atingida, há os que estavam ali por expiação, outros por prova e outros, ainda, por missão.

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