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domingo, 19 de setembro de 2021

IMPORTANTE POSICIONAMENTO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Num dos artigos da REVISTA ESPÍRITA de janeiro de 1863, uma questionamento interessante é dirigido ao editor é levantado: -“Li numa de vossas obras: ‘O Espiritismo não se dirige àqueles que têm uma fé religiosa qualquer, com vista a dissuadi-los, e aos quais essa fé basta à sua razão e à sua consciência, mas à numerosa categoria dos indecisos, dos incrédulos, etc.’ “E por que não? O Espiritismo, que é a verdade, não deveria dirigir-se a todos? a todos os que estão em erro? Ora, os que creem numa religião qualquer, protestante, judaica, católica ou outra qualquer, não estão em erro? Indubitavelmente, porque as diversas religiões hoje professadas apregoam verdades incontestáveis e nos obrigam a crer em coisas completamente falsas ou, pelo menos, em coisas que podem até vir de fontes verdadeiras, mas falseadas em sua interpretação. Se está provado que as penas são apenas temporárias – e Deus sabe se é um leve erro confundir o temporário com o eterno – que o fogo do inferno é uma ficção e que, se em vez de uma criação em seis dias, trata-se de milhões de séculos, etc.; se tudo isto está provado, digo eu, partindo do princípio de que a verdade é una, as crenças oriundas de uma interpretação tão falsa desses dogmas não são nem mais nem menos do que falsas, pois uma coisa é ou não é; não há meio termo. “Por que, então, o Espiritismo não se dirige também a todos os que acreditam em absurdos, para os dissuadir, como aos que em nada creem ou que duvidam, etc?” Avaliando o questionamento, Allan Kardec argumenta: -“Aproveitamos a oportunidade da carta, da qual extraímos as passagens acima, para lembrar, uma vez mais, o objetivo essencial do Espiritismo, sobre o qual o autor da carta não parece bastante edificado. Pelas provas patentes que dá da existência da alma e da vida futura, base de todas as religiões, o Espiritismo é a negação do materialismo e, por conseguinte, se dirige aos que negam ou duvidam. É bem evidente que os que não creem em Deus e na alma não são católicos, nem judeus, nem protestantes, seja qual for a religião em que tiverem nascido; não seriam, sequer, maometanos ou budistas. Ora, pela evidência dos fatos, são levados a crer na vida futura, com todas as suas consequências morais; são livres para adotar, mais tarde, o culto que melhor lhes convenha à razão ou à consciência. Mas aí se detém o papel do Espiritismo; ele é o responsável por três quartos do caminho; ajuda a transpor o passo mais difícil – o da incredulidade. Compete aos outros fazer o resto. “Mas” – poderá dizer o autor da carta – “e se nenhum culto me convier?” Muito bem! ficai então como estais. Aí o Espiritismo nada pode. Ele não se encarrega de vos fazer abraçar um culto à força, nem de discutir para vós o valor intrínseco dos dogmas de cada um: deixa isto à vossa consciência. Se o que o Espiritismo dá não vos basta, buscai, entre todas as filosofias existentes, uma doutrina que melhor satisfaça às vossas aspirações. Os incrédulos e os indecisos formam uma categoria muito numerosa. Quando o Espiritismo diz que não se dirige aos que têm uma fé qualquer, e aos quais esta é bastante, quer significar que não se impõe a ninguém e não violenta consciência alguma. Dirigindo-se aos incrédulos, chega a convencê-los por meios próprios, pelos raciocínios que sabe terem acesso à sua razão, porquanto os outros foram impotentes. Numa palavra, tem o seu método, com o qual obtém, diariamente, belíssimos resultados; mas não tem uma doutrina secreta. Não diz a uns: abri os ouvidos, e a outros: fechai-os. A todos fala pelos seus escritos e cada um é livre de adotar ou rejeitar sua maneira de encarar as coisas. Desse modo, faz crentes fervorosos dos que eram incrédulos. É tudo o que ele quer.




Dias atrás, um colega fez um comentário sobre a tristeza que envolvia certa família que, na ocasião, perdera uma garota ainda adolescente, que já vinha sofrendo desde o nascimento. Na verdade, a menina já nascera comprometida por grave enfermidade e, enquanto viveu, a família buscou todos os meios possíveis para curá-la, até o desfecho final e inevitável. Pesaroso, porque havia acompanhado a sofrida jornada da garota, esse colega dizia-nos seguinte: “Vocês, espíritas, devem ter uma explicação para isso!...”

De fato. Sem o mecanismo da reencarnação não é possível conceber a bondade e a perfeição de Deus. Se há Espíritos que nascem nas melhores condições de saúde e conforto material, cercados por todos os cuidados, há outros que vêm ao mundo experimentando dificuldades e sofrimento, desde o nascimento. Isso não acontece simplesmente porque é vontade de Deus, mas, sim, mas para o cumprimento da lei do nosso progresso espiritual.

Ninguém está neste mundo pela primeira vez. Já vivemos antes e, seguramente, ainda voltaremos para outras jornadas na Terra. Não sabemos exatamente por que temos de passar por este ou por aquele problema mais grave, mas sabemos que nada acontece por acaso. Ao que tudo indica, essa garota, pela descrição que dela fizeram – e, principalmente, pela forma resignada de aceitar as próprias limitações - veio apenas e tão somente para uma vida curta, mesmo assim, submetida a uma condição de sofrimento que ela própria poderia ter escolhido para superar uma etapa mais difícil de seu progresso espiritual.

Infelizmente, ainda não aceitamos bem tais situações- e muitos até se revoltam contra a vida e contra Deus – porque ainda não são tão espiritualizados, a ponto de entender o mecanismo da Justiça Divina. Somos, sim, muito apegados à vida material, muito céticos em relação ao nosso futuro espiritual. Quando o indivíduo alcança uma convicção firme e inabalável na imortalidade e na reencarnação, ele não se deixa facilmente intimidar com o sofrimento e com a morte, porque sabe que a vida nem começa e nem termina na Terra.

Quantas famílias estão chorando, neste momento, a perda de seus filhos, que deixam este mundo ainda na condição de criança, sem terem sequer a oportunidade de conhecer a vida!... Quantos pais lamentam que seus filhos tenham nascido com alguma deficiência ou comprometimento orgânico grave, com pouca ou quase nenhuma chance de sobrevivência!... Como é que eles vão conceber Deus, se não entenderem que tudo isso acontece, não só para o cumprimento de suas leis, mas principalmente para a felicidade de seus filhos.

Temos no centro espírita uma palestra de um médico carioca, o Dr. Américo de Oliveira, que trata muito bem desse tema. Ele mostra fotografias vários casos de bebês que nascem no hospital onde trabalha, no Rio de Janeiro. Esses bebês nascem com comprometimentos graves e irreversíveis – alguns com aspectos estranhos e desagradáveis, vítimas de terríveis aleijões (atribuídos a problemas genéticos ou congênitos), de tal maneira deformados e irreconhecíveis, que chegam a causar repugnância nos próprios pais. Alguns nem chegam a nascer, pois morrem no ventre materno. São Espíritos, numa condição difícil, que vieram para uma vida muito curta. Eles não sobrevivem. 


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