Seria possível uma pessoa estar em dois lugares ao mesmo tempo? Allan Kardec o denomina bicorporeidade o enquadrando entre os fenômenos mediúnicos, citando fatos e testemunhos preservados pela História como os envolvendo o Imperador Vespasiano, Santo Antonio de Liguori, Santo Antonio de Pádua e Emile Sagie. No Brasil situações semelhantes fazem parte da biografia de Euripides Barsanulfo e do próprio Chico Xavier. Fechando a edição de novembro de 1860, da REVISTA ESPÍRITA, encontramos interessante matéria sobre religiosa espanhola. Explica Allan Kardec: - “Num compêndio histórico que acaba de ser publicado sobre a vida de Maria de Jesus de Agreda, encontramos um fato extraordinário de bicorporeidade, que prova que tais fenômenos são perfeitamente aceitos pela religião. É verdade que, para certas pessoas, as crenças religiosas não têm mais autoridades do que as crenças espíritas. Mas quando essas crenças se apoiarem sobre as demonstrações dadas pelo Espiritismo, sobre as provas patentes que ele fornece, por uma teoria pessoal, de sua possibilidade, sem derrogar as leis da Natureza, e de sua realidade por exemplos análogos e autênticos, será forçoso render-se à evidência e reconhecer, fora das leis conhecidas, a existência de outras que ainda pertencem aos segredos de Deus. Maria de Jesus nasceu em Agreda, cidade da Castela, em 2 de abril de 1602, de pais nobres e de virtude exemplar. Muito jovem ainda tornou-se superiora do mosteiro da Imaculada Conceição de Maria, onde morreu em estado de perfeição espiritual. Eis o relato que se acha em sua biografia: “Por maior que seja a nossa vontade de resumir, não podemos deixar de falar aqui do papel absolutamente excepcional de missionária e do apostolado que Maria de Agreda exerceu no Novo México. O fato que vamos narrar, cujas provas incontestáveis provariam, por si só, quão elevados eram os dons sobrenaturais com que Deus havia enriquecido sua humilde serva, e quão ardente o zelo que ela nutria no coração pela salvação do próximo. Nas suas relações íntimas e extraordinárias com Deus, ela recebia uma viva luz, com a ajuda da qual descobria o mundo inteiro, a multidão dos homens que o habitavam, (...) Maria de Agreda sentia o coração partido e, em sua dor, multiplicava preces fervorosas. Deus a fez saber que os povos do Novo México apresentavam menos obstáculos para a sua conversão que o resto dos homens (...)Certo dia, tendo-a o Senhor arrebatado em êxtase, (...) Maria de Agreda sentiu-se de repente transportada para uma região longínqua e desconhecida, sem saber como. Achou-se, então, num ambiente que não era o da Castela e experimentou raios de um sol mais ardente que de costume. Homens de uma raça que jamais tinha encontrado estavam diante dela, e Deus lhe ordenava que satisfizesse seus caridosos desejos e pregasse a lei e a fé santa àquele povo. A extática de Agreda obedecia à ordem. Pregava a esses índios em sua língua espanhola, e os infiéis entendiam como se ela lhes falasse em sua língua materna. Seguiram-se conversões em grande número. Voltando do êxtase, esta santa mulher se achava no mesmo lugar em que estava no começo do arrebatamento. Não foi apenas uma vez que Maria de Jesus desempenhou esse maravilhoso papel de missionária e de apóstolo, junto aos habitantes do Novo México. O primeiro êxtase do gênero ocorreu em 1622; mas foi seguido de mais cinco êxtases do mesmo tipo, durante cerca de oito anos. Maria de Agreda encontrava-se frequentemente nessa mesma região para continuar o seu apostolado. (..) Ela via ao mesmo tempo, mas a grande distância, os franciscanos espanhóis que trabalhavam pela conversão desse novo mundo, mas que ainda ignoravam a existência desse povo que ela havia convertido. Tal consideração levou-a a aconselhar aos índios que mandassem alguns dentre eles àqueles missionários, pedir que viessem ministrar-lhes o batismo”.
Li numa revista, Superinteressante,que Allan Kardec foi um místico francês que fundou o Espiritismo. Procurei a palavra “místico” no dicionário e encontrei, “religioso, contemplativo”. Fiquei pensando se essa palavra “místico” se aplica bem a Kardec. (Marco Aurélio)
As palavras, Marco Aurélio, têm um valor muito grande em nossa vida. Aliás, não poderia ser de outra forma: nós, seres humanos, nos comunicamos por palavras. No entanto, o papel da palavra é justamente o de transmitir o que estamos pensando ou sentindo, aquilo que queremos que os outros saibam. Mas a palavra, ao longo do tempo, desgastada pelo uso, muitas vezes, acaba adquirindo vários sentidos e pode confundir as pessoas menos avisadas.
A palavra “místico” , a que você se refere, vem do grego, “mystikós” que, por sua vez, deriva de “mystés”, que quer dizer mistério. Etimologicamente – ou seja, no seu sentido original – ela foi empregada para designar as pessoas que se dedicam ao lado misterioso da vida, particularmente à religião e ao ocultismo, que trata do sobrenatural, de mistérios insondáveis pela mente humana. Ela tem sido empregada, portanto, para se referir a pessoas que se ocupam dos mistérios da religião.
Nesse sentido, podemos chamar de místicos as pessoas que concebem o sobrenatural, que acreditam no inexplicável, que fazem revelações extraordinárias, que acreditam em fatos que contrariam as leis da natureza, nas coisas que transcendem o conhecimento humano – e que, portanto, não podem ser alcançada pela ciência. Allan Kardec não se enquadra entre essas pessoas. O Espiritismo não surgiu de uma simples crença, nem tampouco de um mero ato de fé, mas de estudos, observações e pesquisa.
N’O LIVRO DOS MÉDIUNS, você vai encontrar o capítulo “O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL”, escrito por Kardec. É logo o segundo capítulo do livro. Ali Kardec separa bem o que é a simples crença ou crendice do que é a filosofia espírita. O maravilhoso e o sobrenatural são coisas que transcendem o campo da investigação e, portanto, não podem ser explicadas. O Espiritismo não se ocupa de fatos misteriosos. Para a Doutrina Espírita, tudo é natural. Quanto aos fatos, por mais estranhos que nos pareçam, eles se assentam sobre leis da natureza.
Quando Jesus disse que “não cai uma folha de uma árvore, nem um fio de vossa cabeça, sem que Deus o saiba”, ela estava se referindo à lei de causa e efeito, lei de Deus, lei da natureza, que regula todos os fenômenos do universo. Tudo está previsto na lei, que não é uma lei sobrenatural, mas uma lei que o próprio homem vem procurando descobrir ao longo do tempo, através de seus estudos e investigações e dela cada vez mais se aproxima.
Kardec não é um místico (nem tampouco um ocultista), não é um visionário ou uma pessoa que se supôs investida de um poder divino e miraculoso para fazer uma revelação à humanidade. Ele mesmo declarou que a sua tarefa podia ser feito por outra pessoa, se ele não a fizesse, mas que está a serviço da humanidade, começando por desvendar um mundo paralelo ao nosso, para onde vão e de onde voltam aqueles que desencarnam na Terra. A doutrina espírita explica o que os religiosos apenas acreditam, mostrando que esses fenômenos estão na base de todas as religiões.
Uma das características principais do misticismo são os rituais, próprios da religião, que contém elementos mágicos, os quais teriam o condão de mobilizar forças divinas. Isso não existe no Espiritismo. É o próprio Kardec que diz: “O Espiritismo não aceita todos os fatos reputados maravilhosos ou sobrenaturais; longe disso, demonstra a impossibilidade de um grande número deles e o ridículo de certas crenças que constituem, propriamente falando, a superstição”. Portanto, a palavra “místico” não deve ser atribuída a Kardec.
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