Normalmente em meio às crises que periodicamente atravessa, a pessoa se pergunta qual o sentido, a finalidade da vida. Abrindo o número de julho do 1862 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec desenvolve alguns argumentos que podem auxiliar nas reflexões sobre o questionamento tão comum. Explica ele: - “A vida corporal é necessária ao Espírito, ou à alma, o que é a mesma coisa, para que possa realizar neste mundo material as funções que lhe são designadas pela Providência: é uma das engrenagens da harmonia universal. A atividade que, contra sua vontade, é forçado a desenvolver nas funções que exerce, crendo agir por si mesmo, auxilia o desenvolvimento de sua inteligência e lhe facilita o adiantamento. Sendo a felicidade do Espírito na Vida Espiritual proporcional ao seu progresso e ao bem que pôde fazer como homem, resulta que, quanto maior importância adquire a vida espiritual aos olhos do homem, mais ele sente a necessidade de fazer o que é necessário para se garantir o melhor lugar possível. A experiência dos que viveram vem provar que uma vida terrena inútil ou mal-empregada não tem proveito para o futuro, e que aqueles que aqui só buscarem satisfações materiais as pagam muito caro, seja por sofrimentos no mundo dos Espíritos, seja pela obrigação de recomeçar a tarefa em condições mais penosas que as do passado; tal é o caso dos que sofrem na Terra. Assim, considerando as coisas deste mundo do ponto de vista extracorpóreo, o homem, longe de ser estimulado à despreocupação e à ociosidade, compreende melhor a necessidade do trabalho. Partindo do ponto de vista terreno, essa necessidade é uma injustiça aos seus olhos, quando se compara aos que podem viver sem nada fazer: tem ciúme deles; inveja-os. Partindo do ponto de vista espiritual, essa necessidade tem a sua razão de ser, sua utilidade, e ele a aceita sem murmurar, pois compreende que sem o trabalho ficará indefinidamente na inferioridade e privado da felicidade suprema a que aspira e que não poderá alcançar, caso não se desenvolva intelectual e moralmente. A esse respeito parece que muitos monges compreendem mal o objetivo da vida terrena e, menos ainda, as condições da vida futura. Pelo enclausuramento, eles se privam dos meios de se tornarem úteis aos semelhantes e muitos dos que hoje se acham no mundo dos Espíritos confessaram-nos que se enganaram redondamente e que sofrem as consequências de seu erro. Para o homem, tal ponto de vista tem outra imensa e imediata consequência: é a de tornar-lhe mais suportáveis as tribulações da vida. Que procure o bem-estar e se esforce por tornar o seu tempo na Terra o mais agradável possível: isto é muito natural e ninguém lho proíbe. Mas, sabendo que está aqui apenas momentaneamente, que um futuro melhor o aguarda, pouco se atormenta com as decepções que experimenta e, vendo as coisas do alto, aceita os reveses com menor amargura; fica indiferente aos aborrecimentos de que é vítima, por parte dos invejosos e dos ciumentos; reduz a seu justo valor os objetos de sua ambição e se coloca acima das pequenas susceptibilidades do amor-próprio. Liberto das preocupações criadas pelo homem que não sai de sua esfera limitada, pela perspectiva grandiosa que se desdobra à sua frente, é mais livre para se entregar a um trabalho proveitoso, para si próprio e para os outros. Para ele, as humilhações, as críticas severas e as maldades de seus inimigos não passam de nuvens imperceptíveis num vasto horizonte; não se inquieta por elas mais do que pelas moscas que zumbem aos ouvidos, porque sabe que logo estará livre. Assim, todas as pequenas misérias que lhe suscitam deslizam por ele como a água sobre o mármore.
A primeira participação de hoje vem de uma ouvinte, que não quis se identificar. Ela pergunta o seguinte: “Uma pessoa diz que foi vítima de macumbaria para terminar seu casamento. Ela foi a um centro de umbanda pedir para que desfaçam esse mal feito. Qual a orientação espírita sobre esse caso?”
Esta é uma questão muito frequente que, não só levada aos centros espíritas, como também trazida a este programa. Na verdade, a visão espírita a respeito dos males que nos fazem e dos males que nos atingem é bem mais complexa do que simplesmente desfazer um mal ou afastar possíveis obsessores. Com certeza, sempre há quem nos possa desejar o mal e quem faça alguma coisa para nos prejudicar. O problema é saber de que forma podemos nos colocar a salvo dessas influências.
A resposta é óbvia. Quando Kardec perguntou aos seus orientadores como podemos fazer para nos ver livres da influência dos maus Espíritos, conforme lemos na questão 469 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, eles responderam categórica e taxativamente: “Fazendo o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, rejeitareis a influência de Espíritos inferiores”. No último capítulo de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, no prefácio à prece pelos obsidiados, Kardec deixa bem claro a visão espírita a respeito do assédio dos Espíritos mal intencionados. São os bons pensamentos e, principalmente, a nossa forma elevada de conviver e tratar as pessoas que nos defendem das influências espirituais negativas.
Kardec afirma que a obsessão é uma doença da alma. Quando estamos com a alma fragilizada, automaticamente nos colocamos à mercê de influência perniciosas das mais diversas espécies, que podem nos atingir com maior ou menor gravidade, criando perturbações e embaraços em nossa vida. Não é difícil entender esse mecanismo que, aliás, está na própria natureza. Nada acontece por acaso, principalmente quando se trata de influências espirituais nocivas que pululam à nossa volta. Quando alguém se propõe a nos prejudicar, utilizando de Espíritos maus, para atingir seu intento, a probabilidade desse mal nos atingir depende do campo de vibrações que oferecemos para isso.
O mecanismo é semelhante ao que acontece com a saúde do corpo. Quando nosso corpo está desguarnecido de defesa - ou seja, quando há um comprometimento no sistema imunológico – podemos ser vítimas de qualquer doença contagiosa. Assim, por exemplo, quando uma gripe se instala no organismo, é porque o vírus causador do mal encontrou condições propícias para se reproduzir e tomar conta do corpo. Do mesmo modo ocorre no plano do Espírito: quando estamos espiritualmente desguarnecidos, podemos ser atingidos facilmente por um leve pensamento contrário, pois nosso campo mental acolhe cargas negativas, sejam do ambiente onde nos encontramos, seja porque nos foram desferidas por alguém mal intencionado.
Existem, sim, processos utilizados para o afastamento imediato de Espíritos maus, mas o que realmente funciona, na vida de todos nós, é a nossa defesa natural, através da maneira como procedemos na vida, de nossas atitudes nas relações de convivência, do respeito que temos por nós mesmos e pelos outros. É o “vigiai e orai” que Jesus ensinou, o u seja, a aplicação pura e simples da Lei de Causa e Efeito para que não sejamos vítimas da própria invigilância. Desse modo, se nos encontramos diante de um problema, que nos pareça de causa espiritual, a melhor maneira de enfrentá-lo é procurar mudar nosso estilo de vida; caso contrário, ainda que tenhamos algum alívio imediato, futuramente acabaremos recaindo na mesma situação.
Entretanto, cara ouvinte, há um outro aspecto importante que devemos abordar. Muitas vezes, porque sofremos uma grande decepção na vida, somos levados a crer que somos vítimas de algum mal-feito com que alguém nos quis atingir. Precisamos ter cuidado com essas conclusões. O problema não é tão simples assim. Na grande maioria das vezes, o problema que nos surpreendeu e que nos fez sofrer não foi senão conseqüência direta dos deslizes que vínhamos cometendo, por não saber conviver bem, por falta de habilidade na abordagem das situações, nada tendo a ver com supostos males que desferiram contra nós. Precisamos, quase sempre, aprender a assumir as nossas próprias dificuldades, porque é muito fácil atribuir aos Espíritos - ou mesmo ao demônio – a causa de nossos problemas, e muito difícil assumir que cada um de nós é o dono de seu próprio destino.
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