Em entrevista concedida ao Espírito André Luiz em Paris em 20 de agosto de 1965, reproduzida no livro ENTRE IRMÃOSDE OUTRAS TERRAS (feb, 1965), o pioneiro Gabriel Dellane ao ser questionado sobre onde estariam os percalços maiores para a expansão da Doutrina Espírita?, respondeu: - Em nossa opinião, os maiores embaraços para o Espiritismo procedem da atuação daqueles que reencarnam, prometendo servi-lo, seja através da mediunidade direta ou da mediunidade indireta, no campo da inspiração e da inteligência, e se transviam nas seduções da esfera física, convertendo-se em médiuns autênticos das regiões inferiores, de vez que não negam as verdades do Espiritismo, mas estão prontos a ridiculariza-las, através de escritos sarcásticos ou da arte histriônica, junto dos quais encontramos as demonstrações fenomênicas improdutivas, as histórias fantásticas, o anedotário deprimente e os filmes de terror. Analisando o problema que já se verificava apenas sete anos após o surgimento d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Allan Kardec na edição de março de 1863 da REVISTA ESPÍRITA, escreveu:- “Nunca seria demais recomendar aos espíritas que refletissem maduramente antes de agir. Em tais casos manda a prudência não confiar em sua opinião pessoal. Hoje, que de todos os lados se formam grupos ou sociedades, nada mais simples que se pôr de acordo antes de agir. Não tendo em vista senão o bem da causa, o verdadeiro espírita sabe fazer abnegação do amor-próprio. Crer em sua própria infalibilidade, recusar o conselho da maioria e persistir num caminho que se demonstra mau e comprometedor, não é a atitude de um verdadeiro espírita. Seria dar prova de orgulho, se não de obsessão. Entre as inabilidades é preciso colocar em primeira linha as publicações intempestivas ou excêntricas, por serem os fatos de maior repercussão. Nenhum espírita ignora que os Espíritos estão longe de possuir a soberana ciência; muitos dentre eles sabem menos que certos homens e, como certos homens também, têm a pretensão de tudo saber. Sobre todas as coisas têm sua opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa. Ora, ainda como os homens, em geral os que têm ideias mais falsas são os mais obstinados. Esses pseudo-sábios falam de tudo, constroem sistemas, criam utopias ou ditam as coisas mais excêntricas, sentindo-se felizes quando encontram intérpretes complacentes e crédulos que lhes aceitam as elucubrações de olhos fechados. Esse tipo de publicação tem grave inconveniente, pois o médium, iludido e muitas vezes seduzido por um nome apócrifo, tem-na como coisa séria, de que se apodera a crítica prontamente para denegrir o Espiritismo, ao passo que, com menos presunção, bastaria que se tivesse aconselhado com os colegas para ser esclarecido. É muito raro, neste caso, que o médium não ceda às injunções de um Espírito que, ainda como certos homens, quer ser publicado a qualquer preço. Com mais experiência ele saberia que os Espíritos verdadeiramente superiores aconselham, mas não impõem nem adulam jamais, e que toda prescrição imperiosa é um sinal suspeito. Quando o Espiritismo estiver completamente implantado e conhecido, as publicações desta natureza não terão mais inconvenientes que os maus tratados de Ciência em nossos dias. Mas, repetimos, no começo elas incomodam muito. Em matéria de publicidade, portanto, toda circunspeção é pouca e não se calcularia com bastante cuidado o efeito que talvez produzisse sobre o leitor. Em resumo, é um grave erro crer-se obrigado a publicar tudo quanto ditam os Espíritos, porque, se os há bons e esclarecidos, também os há maus e ignorantes. Importa fazer uma escolha muito rigorosa de suas comunicações e suprimir tudo quanto for inútil, insignificante, falso ou susceptível de produzir má impressão. É preciso semear, sem dúvida, mas semear a boa semente e em tempo oportuno”.
Existe algum lugar na Bíblia que fala de reencarnação?
Evidentemente, você não vai encontrar a palavra “reencarnação” na Bíblia, até porque naquele tempo – e tampouco naquele povo – existia essa palavra. O termo “reencarnação”, na verdade – em que pese o fato de que a concepção de reencarnação ( e não a palavra “reencarnação”) já existia muitos séculos antes de Cristo – surge com o Espiritismo somente no século 19, há mais de 160 anos Contudo, ao tempo de Jesus, havia uma idéia muito vaga e confusa da possibilidade do Espírito voltar a renascer na Terra.
Isso a gente vê naquele episódio do menino cego de nascença, em que os discípulos perguntam a Jesus se o menino nasceu cego por causa do pecado de seus pais ou por causa de seus próprios pecados. Se Jesus descartasse a idéia da reencarnação, teria mostrado ser impossível que o menino tivesse pecado antes de nascer; mas nada disse a respeito. Na verdade, nessa época o povo acreditava na ressurreição, aliás, uma das concepções que aprendeu com os persas, sob cujo domínio político esteve por muito tempo.
A religião persa era dualista, acreditava na existência de um deus do bem e de um deus do mal (daí a concepção que se seguiu de Deus e do demônio), tanto quanto na encarnação do deus do bem, que nasceu de uma virgem numa manjedoura, muito parecida com a narrativa de Mateus sobre o nascimento de Jesus. Ensinava, também, a ressurreição dos mortos e o juízo final. Os persas tiveram uma grande influencia na crença dos hebreus, introduzindo muitos conceitos que nunca foram conhecidos no tempo de Moisés.
Nos evangelhos, contudo, há dois momentos em que Jesus toca diretamente na reencarnação, mas não aprofunda na questão e nem menciona a palavra. Com certeza, ele considerou fora de cogitação para aquele momento, uma vez que a idéia da reencarnação não fazia parte da tradição do povo hebreu. Uma delas – Mateus-17 e Marcos-18 - foi após o episódio da transfiguração no Monte Tabor – quando, ao lado de Jesus, aparecem materializados os espíritos de Moisés e Elias – e Jesus afirma que Elias já havia voltado á Terra e ninguém percebeu. Os discípulos, então, entenderam de que ele se referia a João Batista – ou seja, João Batista fora a reencarnação de Elias.
Um outro episódio, referindo-se ao mesmo Espírito, está no capítulo11 de Mateus. Jesus diz o seguinte: “Desde os tempos de João Batista até agora, o Reino dos Céus é tomado pela violência e os que usam da violência são aqueles que o arrebatam. Porque todos os profetas e a lei, até João, profetizaram”. E acrescenta de forma enfática, dizendo claramente: “E se vós quereis saber, ele mesmo é o Elias que há de vir. Os que têm ouvidos para ouvir, ouçam.” Não é preciso dizer mais nada. Nesta passagem, Jesus afirma categoricamente que João Batista e Elias eram o mesmo Espírito – ou seja, o mesmo Espírito em encarnações diferentes.
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