Dramaturgo e libretista francês Eugène Scribe (1834/1861) é um exemplo daqueles autores extremamente populares à sua época e que caem no esquecimento após sua morte. Desencarnado no mês de fevereiro, fez-se presente espontaneamente alguns meses depois numa das reuniões da Sociedade Espírita de Paris, conforme explicado na seção PALESTRAS DE ALÉM TUMULO, da edição de outubro de 1861 da REVISTA ESPÍRITA. Allan Kardec observa que a simples menção de seu nome em assunto que os participantes debatiam foi suficiente para que ele se manifestasse opinando sobre o tema. Após ter ditado uma dissertação sobre o assunto tratado, foi entrevistado pelo dirigente da reunião, oferecendo alguns tópicos para nossas reflexões, destacados a seguir: 1- Dissestes ainda que queríeis compor uma obra mais útil e mais séria, mas que essa alegria vos foi recusada. Foi como Espírito, que teríeis querido fazer essa obra e, neste caso, como teríeis feito para fazer aproveitar aos homens? R. Meu Deus! Da maneira muito simples que os Espíritos empregam, inspirando os escritores que, frequentemente, imaginam haurir em seu próprio fundo, ah! algumas vezes bem vazio. 2- Pode-se saber qual foi o assunto que vos propusestes tratar? R. Eu não tinha objetivo combinado, mas, vós o sabeis, gosta-se um pouco de fazer o que jamais se fez. Teria querido me ocupar de filosofia e de espiritualismo, porque estou insuficientemente ocupado de realismo. Não tomai esta palavra realismo como é entendida hoje; quis só dizer que estou mais especialmente ocupado com aquilo que diverte os olhos e ouvido dos Espíritos frívolos da Terra, do que daquilo que poderia satisfazer os Espíritos sérios e filósofos. 3-. Dissestes à senhorita J... que não éreis feliz. Podeis não ter a sorte dos bem-aventurados; mas ainda há pouco, na comissão, contaram uma multidão de boas ações que fizestes e que, certamente, devem vos contar. R. Não, eu não sou feliz, porque, ai de mim! tenho ainda a ambição, e que tendo sido acadêmico sobre a Terra, quisera igualmente fazer parte da dos eleitos. 4- Parece-nos que, na falta da obra que não podeis fazer ainda, poderíeis alcançar o mesmo objetivo, para vós e para os outros, vindo aqui nos fazer uma série de dissertações. R. Não peço nada .melhor, e viria com prazer se me fosse permitido, o que ignoro, porque não tenho ainda posição bem determinada no mundo espiritual. Tudo è tão novo para mim, que passei minha vida a casar subtenentes com ricas herdeiras, que não tive ainda tempo para conhecer e admirar este mundo etéreo, que esquecera em minha encarnação. Retornarei, pois, se os Grandes Espíritos mo permitirem. Em comentário complementar, Allan Kardec escreveu: -“A morte não separa, pois, aqueles que se conheceram sobre a Terra; eles se reencontram, se reúnem se interessam pelo que faziam o objeto de suas preocupações. Dirse-á, sem dúvida, que se lembram do que fazia a sua alegria, lembram-se também dos motivos de dor, e que isso deve alterar sua felicidade. Essa lembrança produz um efeito todo contrário, porque a satisfação de estar livre dos males terrestres é uma alegria tanto mais doce quanto o contraste seja maior; apreciam-se melhor os benefícios da saúde depois da doença, a calma depois da tempestade. O guerreiro de volta aos seus lares não se compraz em contar os perigos que correu, as fadigas que suportou? Do mesmo modo, para os Espíritos, a lembrança das lutas terrestres é uma alegria, quando delas saem vitoriosos. Mas essa lembrança se perde na distância, ou pelo menos diminui de importância aos seus olhos, à medida que se livram dos fluidos materiais dos mundos inferiores e se aproximam da perfeição; essas lembranças são para eles sonhos distantes, como são no homem feitas as lembranças da primeira infância”.
Um homem casado se apaixona por uma mulher solteira e passam a ter um caso que, mais tarde, destrói seu casamento. Ele acaba saindo do lar, deixando mulher e filhos e se une à nova mulher, dizendo que é o amor de sua vida, que ele a conheceu em vida anterior. Pergunto: esse homem pode justificar essa nova união por um amor antigo, de outra encarnação, mesmo que essa nova união tenha nascido de uma traição e acabado com sua família? (Anônimo)
Nada justifica uma traição. Isso significa que ninguém tem o direito de enganar ninguém, simplesmente para tirar proveito em benefício próprio, ignorando a dor da vítima. Nem mesmo um pretenso amor, que essa pessoa (que traiu) pode alegar, valendo-se da doutrina da reencarnação. A traição, seja ela qual o motivo, é uma das maiores violências que se pode cometer contra alguém, deixando profundas e doloridas marcas, que vão ter amargas conseqüências futuras.
Evidentemente, qualquer pessoa pode casar com alguém e depois arrepender-se, porque se enganou. Mas esse problema tem de ser resolvido às claras, avaliado, medido, e levando em consideração todo prejuízo ( não só material, mas principalmente o moral), que se está causando, se essa união tiver de ser rompida. É claro que, na lei natural ( que é a Lei de Deus), toda vez que erramos, devemos sofrer as consequências desse erro e assumir as responsabilidades devidas.
Muitos casos de separação – quando decorrentes de novo romance – visa tão somente a conveniência daquele que deu o motivo, numa demonstração tácita de seu egoísmo. Aliás, somos ainda muito egoístas, pensamos muito em nós mesmos e, se for para o nosso bem-estar ( para o nosso conforto próprio), pouco ligamos para o que possa acontecer com o outro. Não avaliamos a dor daquele que é ser deixado no meio do caminho, muitas vezes, sem condições de prosseguir sozinho.
O Espiritismo não pode agasalhar esse tipo de desculpa, embora ele não seja contra a separação, quando esta funcionar como um remédio para evitar um mal maior. Mas o Espiritismo é a favor do casamento e da durabilidade do casamento, principalmente se envolver filhos menores, porque, então, o compromisso de cada cônjuge é maior, e pesam na balança outros interesses, que não são somente os interesses particulares ou egoístas do marido e da mulher.
O problema humano não pode se resumir apenas em questão de direitos. A lei, por mais bem elaborada, não tem o condão de abranger toda as nuances da problemática humana. Há muita coisa que deve ser resolvida pelo coração. Muitas vezes, portanto, mesmo diante de uma decisão difícil, a mulher ou marido se vê na contingência de abrir mão de seus próprios direitos para não causar dor e sofrimento no outro, ou nos filhos, ou na família. São atitudes que a vida requer, quando a pessoa já conseguiu superar o egoísmo e não vive apenas para si mesma.
Ninguém tem o direito de simplesmente enganar alguém, justificando que descobriu um amor de outra vida. Trata-se de um “escapismo”, uma justificativa “furada”, principalmente se a pessoa tiver conhecimento e adotar a concepção espírita. Ela deve saber que os compromissos que assumimos nesta vida com outras pessoas pesam muito na balança de nossas ações e que, agindo desavergonhadamente, ela estará criando inimigos e contraindo débitos morais para si mesma no futuro. Logo, nesse caso a reencarnação não pode servir de desculpa.
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