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domingo, 28 de novembro de 2021

ESTAR É DIFERENTE DE SER ESPÍRITA; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 O rótulo de Espírita, a exemplo de qualquer outro, significa quase nada do ponto de vista do aproveitamento da individualidade na sua passagem pela nossa Dimensão. Uma matéria reproduzida na edição de setembro de 1865 da REVISTA ESPÍRITA confirma essa conclusão. O caso foi relatado a Allan Kardec em 10 de janeiro daquele ano por correspondente da cidade de Lyon. Envolvia um indivíduo espírita que sob o domínio dessa crença se melhorou, embora não a tivesse aproveitado tanto quanto poderia tê-lo feito, devido à sua inteligência. Vivia com uma velha tia, que o amava como filho, e que não poupava trabalhos nem sacrifícios por seu caro sobrinho. Por economia era a boa mulher que cuidava da casa. Até aí tudo muito natural; o que o era menos é que o sobrinho, jovem e em boa forma, a deixava fazer trabalhos acima de sua força, sem que jamais lhe acudisse à ideia poupar-lhe marchas penosas para a sua idade, o transporte de fardos e coisas semelhantes. Na casa não mudava um móvel de lugar, como se tivesse criados às suas ordens; e mesmo que previsse algum penoso serviço excepcional, arranjava um pretexto para se abster, temeroso de que lhe pedissem um auxílio, que não poderia recusar. Entretanto, havia recebido várias lições a respeito, poder-se-ia dizer afrontas, capazes de fazer refletir um homem de coração; mas era insensível (...). Era estimado como um homem decente e de boa conduta, (...). Em consequência dos esforços que fazia, a velha senhora foi acometida por uma hérnia muito grave, que a fazia sofrer muito, mas que ela tinha coragem para não se lamentar. Um dia, provavelmente querendo esquivar-se a um trabalho penoso, o sobrinho saiu cedo e não voltou. Ao atravessar uma ponte, foi vitima da queda da viatura em que estava e arrastado por uma encosta, morreu duas horas depois. Informados do fato, quisemos evocá-lo, e ouvimos de um dos nossos guias: “Não poderá comunicar-se antes de algum tempo. Neste momento ele está muito perturbado pelos pensamentos que o agitam. Vê a tia e a doença que ela contraiu em consequência das fadigas corporais e da qual ela morrerá. É isto que o atormenta, pois se considera como o seu assassino. E o é, com efeito, já que lhe podia poupar o trabalho que será a causa de sua morte. Para ele é um remorso pungente que o perseguirá por muito tempo, até que tenha reparado a sua falta. Ele queria fazê-lo; não deixa a tia, mas seus esforços são inúteis e, então, se desespera. É preciso, para o seu castigo, que a veja morrer devido à sua negligência egoísta, porque sua conduta é uma variedade do egoísmo. Orai por ele, a fim de que possa manter o arrependimento, que mais tarde o salvará”. Dirigiram ao Benfeitor Espiritual a seguinte pergunta: - Poderia dizer-nos se não lhe serão levados em conta outros defeitos de que se corrigiu por causa do Espiritismo e se sua posição não se abrandou? Explicou o seguinte: – Sem nenhuma dúvida, essa melhora lhe é levada em conta, pois nada escapa ao olhar perscrutador da Divina Providência. Mas eis de que maneira cada boa ou má ação tem suas consequências naturais, inevitáveis, conforme estas palavras do Cristo: “A cada um segundo as suas obras”. Aquele que se corrigiu de algumas faltas se poupa da punição que elas teriam acarretado e, ao contrário, recebe o prêmio das qualidades que as substituíram; mas não pode escapar às consequências dos defeitos que ainda ficaram. Assim, não é punido senão na proporção e conforme a gravidade destes últimos; quanto menos os tiver, melhor a sua posição.

Será que a ciência vai demorar muito para descobrir que a alma existe e que o espírito é imortal? (Nelson)

Isso ainda não podemos saber, caro ouvinte. Sabemos, no entanto, que a verdade, mais cedo ou mais tarde, se revela ao homem. Não uma verdade absoluta, acabada, pronta e imutável, porque não somos perfeitos (mas limitados), não temos como conhecer tudo; só Deus ( o absoluto) é toda a verdade. Desse modo, é possível que, nos próximos séculos, a ciência esteja mais próxima da espiritualidade, não tanto pelas pesquisas em si, mas principalmente por causa do amadurecimento espiritual do homem.

A verdade não é uma coisa tão simples assim. Com o progresso do conhecimento, ao longo dos séculos, podemos perceber que a visão humana se alarga cada vez mais, porque o homem vai se melhorando moralmente, adquirindo uma compreensão mais ampla da vida. Logo, o conhecimento da verdade não depende apenas e tão somente da inteligência. Depende muito, também, do sentimento. A verdade tem várias facetas, inclusive seu aspecto moral: quando uma pessoa não quer saber da verdade, nenhuma prova será suficiente para convencê-la.

É o que acontece em nossa vida todos os dias, caro ouvinte. Devido ao orgulho e ao egoísmo, que ainda residem em nós, fechamo-nos propositadamente às verdades que não nos interessam, e abraçamos somente aquelas que atendem às nossas conveniências. Talvez, por isso, Jesus tenha se calado diante de Pilatos, quando este lhe perguntou “ E o que é a verdade?” O mundo está aí, à nossa disposição, para explorá-lo e conhecê-lo. Contudo, o quanto podemos conhecê-lo depende sempre do conhecimento de nós mesmos. Sem o autoconhecimento não poderemos alcançar a humildade.

Uma boa parte dos cientistas reluta em aceitar a imortalidade da alma: e, com certa razão. É preciso muita coragem para embrenhar-se por esse campo, porque, assim como a religião, os meios científicos também estão cheio de preconceitos e conflitos, e ninguém quer ser vítima deles. Entretanto, foi a própria religião que cavou esse abismo que hoje existe entre ela e a ciência, ao desprezar novas verdades e mover perseguição violenta contra homens que dignificaram a ciência, e trouxeram enormes contribuição ao progresso e bem-estar da humanidade.

O Espiritismo, todavia, surgido há mais de 160 anos, veio justamente para construir a ponte sobre esse abismo entre a religião e a ciência, tentando despertar o homem para valores que o dignificam e que não podem concordar com nenhum tipo de preconceito. Contudo, se a verdade sobre o Espírito não se consolidou até hoje nos meios científicos em geral, é porque, como humanidade, ainda não estamos em condições de encará-la com a devida compreensão e humildade, com serenidade e, acima de tudo, com muita responsabilidade.

Tudo é questão de tempo; tudo depende do amadurecimento espiritual do homem. Por isso, todos nós - e não apenas os líderes religiosos e os cientistas – temos participação na grande redescoberta do Espírito, à medida em que podemos contribuir para que os homens em geral melhorem seus sentimentos, cresçam em atitudes e gestos de bondade, conquistando de fato a humildade. Nesse sentido, eles poderão transformar a ciência num amplo canteiro de pesquisas elevadas, abrangendo não somente os fenômenos muito próprios de nossa dimensão material, mas também aqueles que ocorrem na dimensão espiritual do universo, e que ainda permanecem relegados ao domínio do sobrenatural.


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