Assim como a ação de Jesus incomodou a religião institucionalizada de seu tempo, o Espiritismo desencadeou reações semelhantes quando de seu aparecimento e disseminação. Intolerância religiosa; associações indevidas com fenômenos comportamentais; perseguições aos seus seguidores, ameaças de loucura aos seus praticantes especialmente os que exerciam a mediunidade; fizeram parte das campanhas urdidas contra ele Como Copérnino precisou que transcorressem 100 anos para que suas afirmações fossem confirmadas por Galileu, o Espiritismo certamente imporá pelos seus argumentos a veracidade do Mundo Espiritual como o apresenta. Um dos aspectos que se evidencia cada vez mais é a influência dos Espíritos desencarnados sobre a realidade dos encarnados. Abrindo o número de janeiro de 1863, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec explica: -“A maneira pela qual se exerce a ação dos Espíritos sobre o homem, ação, por assim dizer, material, tem sua causa inteiramente no perispírito, princípio não só de todos os fenômenos espíritas propriamente ditos, mas de uma imensidade de efeitos morais, fisiológicos e patológicos, incompreendidos antes do conhecimento desse agente, cuja descoberta, se assim nos podemos exprimir, abrirá horizontes novos à Ciência, quando esta se dispuser a reconhecer a existência do mundo invisível. Como vimos, o perispírito representa importante papel em todos os fenômenos da vida; é a fonte de uma porção de afecções, cuja causa é em vão buscada pelo escalpelo na alteração dos órgãos, e contra as quais é impotente a terapêutica. Por sua expansão explicam-se, ainda, as reações de indivíduo a indivíduo, as atrações e as repulsões instintivas, a ação magnética, etc. No Espírito livre, isto é, desencarnado, substitui o corpo material; é o agente sensitivo, o órgão por meio do qual ele age. Pela natureza fluídica e expansiva do perispírito, o Espírito alcança o indivíduo sobre o qual quer atuar, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza. Vivendo em meio ao Mundo Invisível, o homem está incessantemente submetido a essas influências, assim como às da atmosfera que respira, traduzindo-se aquelas por efeitos morais e fisiológicos dos quais não se dá conta e que, muitas vezes, atribui a causas inteiramente contrárias. Essa influência difere, naturalmente, segundo as qualidades, boas ou más, do Espírito. Se ele for bom e benevolente a influência, ou, se quisermos, a impressão, é agradável e salutar; é como as carícias de uma terna mãe, que abraça o filho. Se for mau e perverso, será dura, penosa, aflitiva e por vezes perniciosa; não abraça: constrange. Vivemos num oceano fluídico, expostos incessantemente a correntes contrárias, que atraímos ou repelimos, e às quais nos abandonamos, conforme nossas qualidades pessoais, mas em cujo meio o homem sempre conserva o seu livre-arbítrio, atributo essencial de sua natureza, em virtude do qual pode sempre escolher o caminho. Como se vê, isto é inteiramente independente da faculdade mediúnica, tal como é concebida vulgarmente. Estando a ação do Mundo Invisível na ordem das coisas naturais, ela se exerce sobre o homem, abstração feita de qualquer conhecimento espírita. Estamos a elas submetidos, como o estamos à influência da eletricidade atmosférica, mesmo não sabendo a Física, como ficamos doentes, sem conhecer a Medicina. Ora, assim como a Física nos ensina a causa de certos fenômenos e a Medicina a de certas doenças, o estudo da ciência espírita nos ensina a causa dos fenômenos devidos às influências ocultas do mundo invisível e nos explica o que, sem isto, nos parecerá inexplicável”.
A questão 23 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS diz que o espírito é o princípio inteligente do universo. Então, eu pergunto: e o que é princípio inteligente? (Eliete Ferreira)
Essa linguagem pode parecer estranha a você. Mas é a melhor expressão que os Espíritos orientadores conseguiram para dizer o que eles estavam pensando, quando responderam a Kardec; principalmente nesse caso, porque, quando falamos de espírito, nesse sentido que eles utilizaram ( ou seja, a de “princípio inteligente”), estamos falando de algo que foge a qualquer coisa que os nossos sentidos físicos podem perceber. Daí a dificuldade. Como definir uma coisa que não conseguimos perceber!...
Esta questão, que você coloca está no 2º capítulo do livro. Mas, se você voltar ao primeiro capítulo d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS, vai verificar que, ao tratar do tema “Deus” - um tema ainda mais complexo que o tema “espírito” - os mentores disseram a Kardec que a linguagem humana é muito pobre e limitada para definir as coisas que não podemos ver. Usamos as palavras para expressar o que pensamos, mas as palavras nem sempre conseguem dizer o que realmente pensamos ou sentimos, mesmo quando nos referimos a coisa materiais, pois, o pensamento é mais do que a palavra.
No entanto, quando nos referimos a “princípio inteligente”, até o nosso pensamento se mostra impotente para entender o que vem a ser isso. Entretanto, neste caso, vamos tentar lhe passar a idéia mais aproximada do que os Espíritos quiseram dizer. Quando se referem a “princípio inteligente”, eles estão falando de uma inteligência que existe por trás das aparências da matéria e que, por enquanto, não temos condições de definir.
No entanto, qualquer um de nós pode perceber onde há inteligência. Há inteligência onde há uma intenção, onde há um objetivo a atingir, onde há organização, onde existem lógica e raciocínio. Essas características podem dar uma idéia aproximada do que é o espírito. Uma coisa inteligente só pode provir de uma fonte inteligente: é a isso que eles se referem. Então, não é difícil concluir que o espírito está atrás de tudo quanto manifesta inteligência no universo, daí porque a inteligência é o principal atributo do espírito.
Mas, obra básica de Kardec, a palavra espírito é utilizada em dois sentidos. No sentido de “princípio inteligente”, como algo inteligente que existe na natureza, Kardec escreve espírito com “e” minúsculo. Mas, no sentido de espírito como um ser espiritual, uma individualidade - como cada um de nós, seres humanos – Kardec escreve Espírito com “E” maiúsculo. Nós somos Espírito na essência, Espírito com “E” maiúsculo; o corpo é apenas uma condição passageira de que o Espírito participa. Mas, a verdade é que o corpo morre e o Espírito permanece, prosseguindo na sua evolução.
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