-“Irmão querido, resgatas hoje os delitos cruéis que cometeste quando te ocupavas do nefando mister de inquisidor, nos tempos passados. Redimiste o pretérito obscuro e criminoso, com as lágrimas do teu sacrifício em favor da Pátria do Evangelho de Jesus. Passaras a ser um símbolo para a posteridade, com o teu heroísmo resignado nos sofrimentos purificadores. (...) Regozija-te no Senhor pelo desfecho dos teus sonhos de liberdade, porque cada um será justiçado de acordo com as suas obras”. As palavras estão registradas na obra BRASIL CORAÇÃO DO MUNDO PÁTRIA DO EVANGELHO (feb,1938) e pertencem a Ismael – Espírito responsável pela evolução espiritual da Nação brasileira -, dirigidas à Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, no exato “no instante em que o seu corpo balança, pendente das traves do cadafalso, no Campo da Lampadosa”, ele, que foi o único condenado à morte pela Coroa Portuguesa pela participação no movimento denominado Inconfidência Mineira, visto que os demais tiveram a pena comutada para degredo em terras africanas. Além da execução pública teve seu corpo esquartejado por decisão da Rainha Maria, a Piedosa, e exibido em várias cidades para servir de advertência contra prováveis insurretos. O prognóstico de Ismael sobre a decisão Imperial se confirmaria daí a alguns dias, pois, “a piedosa rainha portuguesa enlouquecia, ferida de morte na sua consciência pelos remorsos pungentes que a dilaceravam”. Sobre os personagens da marcante história nacional, Humberto de Campos, um ano antes de resgatar a História do Brasil segundo registros do Plano Espiritual, noutra obra, CRONICAS DE ALÉM TÚMULO (feb, 1937), conta que todos os anos no 21 de abril, Ouro Preto é visitada no Plano Espiritual por vários admiradores do grande Mártir. Conta que ele mesmo integrou uma das caravanas lá presentes que esteve na antiga Vila Rica - que não conhecera enquanto encarnado -, conforme relata em texto transmitido através de Chico Xavier em 21 de abril de 1937. Com a empolgação do jornalista e escritor que foi em sua existência concluída em dezembro de 1934, revela: “-Aí fui encontrar, não segundo o corpo, mas segundo o Espírito, as personalidades de Domingos Vidal Barbosa, Freire de Andrada, Mariano Leal, José Joaquim da Maia, Cláudio Manuel, Inácio Alvarenga, Dorotéia de Seixas, Beatriz Francisca Brandão, Toledo Pisa, Luís de Vasconcelos e muitos outros nomes, que participaram dos acontecimentos relativos à malograda conspiração”. E, entre estas figuras veneráveis “a do antigo alferes Joaquim José da Silva Xavier, pela sua nobre e serena beleza. Do seu olhar claro e doce, irradiava-se toda uma onda de estranhas revelações, e não foi sem timidez que me acerquei da sua personalidade, provocando a sua palavra”. Das cinco questões propostas ao grande personagem, destacamos algumas considerações: 1- Devo afirmar que não fui um herói e sim um Espírito em prova, servindo simultaneamente à causa da liberdade da minha terra. Quanto à Inconfidência de Minas, não foi propriamente um movimento nativista, apesar de ter aí ficado como roteiro luminoso para a independência da Pátria. Hoje, posso perceber que o nosso movimento era um projeto por demais elevado para as forças com que podia contar o Brasil daquela época, reconhecendo como o idealismo eliminou em nosso espírito todas as noções da realidade prática. 2- "Hoje, de modo algum desejaria avivar minhas amargas lembranças. Aliás, não foi apenas Silvério quem nos denunciou perante o Visconde de Barbacena; muitos outros fizeram o mesmo, chegando um deles a se disfarçar como um fantasma, dentro das noites de Vila Rica, avisando quanto à resolução do governo da Província, antes que ela fosse tomada publicamente, com o fim de salvaguardar as posições sociais de amigos do Visconde, que haviam simpatizado com a nossa causa. Graças a Deus, todavia, até hoje, sinto-me ditoso por ter subido sozinho os vinte degraus do patíbulo”. 3- "Não tenho coisa alguma a acrescentar às descrições históricas, senão minha profunda repugnância pela hipocrisia das convenções sociais de todos os tempos”. 4- Quanto ao Brasil atual, qual a vossa opinião a respeito? - "Que ainda não foi atingido o alvo dos nossos sonhos. A Nação ainda não foi realizada para criar-se uma linha histórica, mantenedora da sua perfeita independência. Todavia, a vitalidade de um povo reside na organização da sua economia e a economia do Brasil está muito longe de ser realizada. A ausência de um interesse comum, em "favor do País, dá causa não mais à derrama dos impostos, mas ao derrame das ambições, onde todos querem mandar, sem saberem dirigir a si próprios”.
O biólogo britânico Richard Dawkins é um dos articuladores de um movimento ateísta que procura ganhar corpo em todo o mundo. Foi desse movimento que surgiu aquela campanha, primeiramente em Londres – depois em cidades da Espanha e da Itália – que colocou cartazes nos ônibus, questionando a existência de Deus. Esses cartazes queriam dizer que não vale a pena crer em Deus e viver atormentado pela idéia do mal; o melhor é viver despreocupado e aproveitar a liberdade para viver. A questão, que se coloca, é a seguinte: para que tipo de sociedade o ateísmo nos levaria? Será que ele nos daria uma sociedade melhor do que aquela que a religião nos deu? Kardec trata dessa questão em OBRAS PÓSTUMAS, no capítulo intitulado “As 5 Alternativas da Humanidade”.
Richard Dawkins já escreveu alguns livros sobre o assunto. Ele insiste em criticar os rumos que a humanidade tomou, baseando-se no fato de que a religião, ao longo da História, deixou um rastro de intolerância, violência e sangue, pelas inúmeras vítimas que causou. Quanto a isso, não temos dúvida de que muitos erros foram cometidos. Mas a pergunta é a seguinte: existiria outro caminho para a humanidade? Dawkins não quer reconhecer que o sentimento religioso está no homem, que o ser humano nasceu com isso e é, quando se apega a Deus, que se sente protegido, uma vez que nesta – e em todas as épocas – o poder do homem é limitado e suas intenções nem sempre confiáveis. O que é mais seguro: confiar no homem ou em Deus?
Quando o escritor russo, Dostoievsky, na obra “Os Irmãos Karamazov”, diz pela boca de uma de suas personagens que “se Deus não existisse, tudo seria permitido”, com certeza, ele se baseia no sentimento da maioria dos homens que, ainda, vê em Deus o ideal do da Justiça, Bem e da Verdade. Isso quer dizer que aqueles que, em nome da religião agiram com violência e perpetraram crimes hediondos ao longo da História, são uma minoria dominadora – não a maioria dos homens. No entanto, é pelo fato de essa maioria acreditar num Bem Supremo, numa Verdade Suprema e numa Justiça Suprema, que ainda se contém e aspira à sua verdadeira felicidade, pois acredita que a vida não termina com a morte e que, cada um de nós, mais cedo ou mais tarde, vai ter de prestar contas pelo mal que fez ou pelo bem que deixou de fazer.
Se a vida fosse exclusivamente esta que estamos vivendo e se tudo terminasse com a morte – já dizia Sócrates, 5 séculos antes de Cristo – os maus seriam vitoriosos, porque o mal que eles fizeram não lhes custaria nada, depois da vida e jamais sofreriam pela injustiça e pelo sofrimento que causaram. Enquanto isso, os bons – que se esforçaram para vencer suas más tendências, que lutaram com honestidade e respeito humano, que se dedicaram ao bem e defenderam os interesses da coletividade, que se sacrificaram e até morreram pela felicidade de seus irmãos – esses seriam os grandes derrotados, as grandes vítimas, porque, não havendo outra vida, não teriam oportunidade de colher os frutos de sua devoção ao Bem, à Verdade e à Justiça.
Tirar Deus da concepção humana é destruir os maiores ideais da humanidade, aqueles que são responsáveis pelas mais notáveis realizações e pelos mais extraordinários exemplos de vida neste planeta, em todos os tempos e lugares. Assim, também é em nome da religião, que se realizaram e se realizam as grandes obras – não só os templos, onde as pessoas vão orar – mas as instituições e os movimentos que trabalham e lutam pelos direitos mais fracos e que defendem os interesses dos injustiçados. A idéia de Dawkins, desse modo, não pode prevalecer, sob o risco de abrirmos uma espaço maior para a libertinagem e para a maldade, destruindo no coração do homem o único e verdadeiro ideal de Vida: Deus.
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