A notícia de fortes terremotos ocorridos recentemente pelo Planeta reaviva os comentários de perplexidade sobre o fato das centenas de pessoas atingidas pelos escombros em que se transformam as construções da vasta região coberta pelas vibrações da onda císmica gerada pelo epicentro. Tema das abordagens de Allan Kardec com os Espíritos que o ajudaram a compor a base da Doutrina Espírita das perguntas 737 a 741 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, ficou esclarecido, entre outras coisas, ser necessário ver o fim para apreciar os resultados e que esses transtornos são frequentemente necessários para fazer com que as coisas cheguem mais prontamente a uma ordem melhor, visto que contribuem para que a Humanidade avance mais depressa. Observam as Entidades Espirituais que durante a vida o homem relaciona tudo a seu corpo, mas após a morte pensa de outra maneira, visto que a vida no corpo é um quase nada, representando um século de nosso mundo como um relâmpago na Eternidade, sendo os sofrimentos de alguns meses ou dias, quase nada. Questionados sobre a possibilidade de ‘inocentes’ estarem entre as vítimas, respondem que se se considerasse a insignificâncias da vida perante o Infinito, menos importância lhe daríamos e mesmo que pessoas enquadradas na condição citada sejam vítimas, “noutra existência terão uma larga compensação para os seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem lamentar considerando que ‘quer a morte se verifique por uma flagelo ou causa comum, não se pode escapar a ela quando chega a hora da partida”. No número de novembro de 1868 da REVISTA ESPÍRITA, uma abordagem sobre uma epidemia que desde dois anos antes se abatia sobre a Ilha Maurícia pertencente ao território da França foi analisada por Allan Kardec que termina suas apreciações com a mensagem do médico Dr Demeure desencarnado tempo antes e que se integrara à Equipe que operava na Sociedade Espírita de Paris, que a conclui dizendo: -“Entramos cada vez mais no período transitório, que deve levar à transformação orgânica da Terra e à regeneração de seus habitantes. Os flagelos são os instrumentos de que se serve o grande cirurgião do Universo para extirpar, do mundo, destinado a marchar para frente, os elementos gangrenados que nele provocam desordens incompatíveis como o seu novo estado. Cada órgão, ou melhor dizendo, cada região será, sucessivamente, dissecada por flagelos de diversas naturezas. Aqui, a epidemia sob todas as suas formas; ali, a guerra, a fome. Cada um deve, pois, preparar-se para suportar a prova nas melhores condições possíveis, melhorando-se e se instruindo, a fim de não ser surpreendido de improviso. Algumas regiões já foram provadas, mas seus habitantes se equivocariam redondamente se se fiassem na era de calma, que vai suceder à tempestade, para recaírem nos seus antigos erros. É uma pequena trégua que lhes é concedida, para entrarem num caminho melhor; se não o aproveitarem, o instrumento de morte os experimentará até os trazer ao arrependimento. Bem-aventurados aqueles a quem a prova feriu de começo, porque terão, para se instruírem, não só os males que sofreram, mas o espetáculo daqueles seus irmãos em Humanidade, que por sua vez serão feridos. Esperamos que um tal exemplo lhes seja salutar, e que entrem, sem hesitar, na via nova, que lhes permitirá marchar de acordo com o progresso”. Meses ante, noutra abordagem, Allan Kardec assinala: -“Os Espíritos não se enganaram quando anunciaram que flagelos de toda sorte devastariam a Terra. (...) Os homens não devem culpar senão a si mesmos pelos males que suportam. (...) Que faz às vítimas da cobrança da Idade Média o regime mais saudável no qual vivemos? Pode-se chamar a isto de justiça? É notório que, até hoje, nenhuma filosofia, nenhuma doutrina religiosa tinha resolvido esta grave questão, de tão poderoso interesse, entretanto, para a Humanidade. Só o Espiritismo lhe dá uma solução racional pela reencarnação, essa chave de tantos problemas, que se julgavam insolúveis. Em virtude da pluralidade das existências, as gerações que se sucedem são compostas das mesmas individualidades espirituais, que renascem em diferentes épocas e aproveitam os melhoramentos que elas próprias prepararam, da experiência que adquiriram no passado.
Um questionamento sempre levantado pelas pessoas que estão tomando os primeiros contatos com o Espiritismo é sobre o martírio e a ressurreição de Jesus, tema central da chamada Semana Santa. Querem saber por que a Doutrina Espírita, que fala tanto em Jesus, não dá tanta importância à sua paixão e morte.
De fato, o Espiritismo trata essa questão de um ângulo bem diferente. Não só de um ponto de vista mais amplo e realista, como mais maduro e racional em relação à forma alegórica, ritualística e cerimoniosa com que a religião veio educando seus fiéis ao longo dos séculos. Enquanto esta trata Jesus como um ente sobrenatural – aliás, como o próprio Deus encarnado, uma das pessoas da Santíssima Trindade - o Espiritismo o considera como um Espírito Superior das Altas Esferas, que veio entre nós para a mais importante missão de todos os tempos.
É claro que muitos Espíritos Superiores já estiveram entre nós com missões extraordinárias e de valor espiritual inestimável, mas a missão de Jesus foi muito especial, não só porque ele é, de fato, o líder de todo o movimento de espiritualização do homem e da transformação moral do planeta Terra, mas porque sua mensagem foi a que calou mais fundo no espírito humano, a que penetrou no âmago da questão fundamental de todos os tempos: o caminho da felicidade.
Hoje, precisamos ver em Jesus – assim como ele gostava de ser chamado – nosso grande e bondoso mestre. Mestre é aquele que ensina – não apenas por ensinar – mas porque ele mesmo reúne todas as virtudes que pretende passar aos discípulos, é o nosso ponto de referência – como se diz no Espiritismo, nosso modelo e guia. Foi o que fez, mostrando um exemplo vivo de como amar o semelhante, vencendo a si mesmo, como quer que façamos. Ele ensinou tanto na teoria como na prática, mas sobretudo na prática.
Portanto, o constrangimento físico e moral a que foi submetido, cruelmente martirizado pelos inimigos até o episódio da crucificação, perdoando os próprios executores, deve representar para todos nós o maior exemplo de humildade, perseverança e fé. Não para continuarmos cultivando essa dor que ele passou ( nesse sentido, a dor não nos auxilia em nada), mas para compreendermos que a felicidade não é uma dádiva que cai gratuitamente do céu , mas uma conquista que depende de esforço e sacrifício de cada um de nós.
Reviver as etapas do martírio de Jesus, na escalada do Calvário, serve para deixar em nós um profundo sentimento de culpa, que em nada nos ajuda a melhorar a conduta em relação aos nossos irmãos de humanidade, conforme ele queria. Pelo contrário, coloca-nos ainda mais para baixo do ponto de vista moral, porque – diante da dor irreparável que ele sofreu - passamos a nos sentir pequenos, reduzidos, moralmente rebaixados ( ou, então, inconformados, revoltados, com ódio de seus detratores), quando, na verdade, Jesus pedia de nós a compreensão e o perdão, que constituem o seguro caminho para Deus, ou seja, para a felicidade.
A Doutrina Espírita prefere cultivar Jesus vivo, na sua expressão de respeito e amor, de compreensão e humildade, lembrando, constantemente, que cada um de nós é responsável por si mesmo e, ao mesmo tempo, peça fundamental nos planos de Deus na construção de um mundo de amor e paz. Vemos Jesus como um mestre injustamente sacrificado, mas imensamente vitorioso, até porque – conforme ele ensinou – a vida não se resume neste poucos anos que passamos aqui na Terra, mas continua em expressões mais ricas de experiências mais elevadas, em nossa longa escalada espiritual.
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