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sábado, 4 de dezembro de 2021

A VOLTA DA FORTUNA; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Confirmando através de inúmeros exemplos e testemunhos obtidos via mediunidade que a Lei de Causa e Efeito leva sempre o Espírito ao encontro dos resultados de suas ações, o Espiritismo afirma também que a família consanguínea deriva de uma família espiritual derivada das relações interpessoais mal sucedidas nas encarnações que temos. O caso analisado por Allan Kardec no número de outubro de 1864 da REVISTA ESPÍRITA, ilustra isso. Parte de fato noticiado no jornal no SIÈCLE de 5 de junho daquele ano: “O Sr. X..., berlinense, possuía imensa fortuna. Seu pai, ao contrário, em consequência de vários reveses, tinha caído em extrema miséria e se vira forçado a recorrer à generosidade do filho. Este repeliu duramente a súplica do ancião que, para não morrer de fome, teve de recorrer à intervenção da justiça. O Sr. X... foi condenado a fornecer ao pai uma pensão alimentar. Mas, antes, havia tomado suas precauções: prevendo que parte de seus rendimentos poderia ser confiscada, caso se recusasse a pagar a pensão, resolveu ceder a fortuna a um tio paterno. “O infeliz pai viu-se privado de sua última esperança. Protestou que a cessão era fictícia e que o filho tinha recorrido a ela para escapar à execução da sentença. Mas teria que o provar; o velho, porém, não dispunha de condições para intentar um processo custoso, já que lhe faltavam as coisas essenciais à vida. “Um acontecimento imprevisto veio mudar tudo. O tio morreu subitamente, sem deixar testamento. Como não tivesse família, a fortuna reverteu, de direito, ao parente mais próximo, isto é, ao seu irmão. “Compreende-se o resto. Hoje os papéis estão invertidos. O pai está rico e o filho pobre. O que, sobretudo, deve aumentar o desespero deste último é que não pode invocar o fato de uma cessão fictícia, pois a lei interdita formalmente esse gênero de transação”. Comenta Kardec: Dir-se-ia que se sempre fosse assim com o mal, melhor seria compreendida a justiça do castigo; sabendo o culpado por que é punido, saberia do que se deve corrigir. Os exemplos de castigos imediatos são menos raros do que se pensa. Se se remontasse à fonte de todas as vicissitudes da vida, ver-se-ia, aí, quase sempre, a consequência natural de alguma falta cometida. A cada instante recebe o homem terríveis lições, das quais, infelizmente, bem poucos tiram proveito. Enceguecido pela paixão, não vê a mão de Deus, que o fere; longe de acusar-se por seus próprios infortúnios, põe a culpa na fatalidade e na má sorte; irrita-as muito mais do que se arrepende. Aliás, não nos surpreenderíamos se o filho, do qual se fala acima, em vez de ter reconhecido seus erros para com o pai, em lugar de lhe ter dispensado melhores sentimentos, passasse a lhe devotar maior animosidade. Ora, o que pede Deus ao culpado? O arrependimento e a reparação voluntária. Para o animar a isto multiplica à sua volta, durante a vida inteira, todas as formas de advertências: desgraças, decepções, perigos iminentes; numa palavra, tudo o que é próprio a fazê-lo refletir. Se, a despeito disto, seu orgulho resiste, não é justo que seja punido mais tarde? É grave erro pensar que o mal possa ficar impune, uma ou outra vez, na vida atual. Se se soubesse tudo quanto acontece ao mau, aparentemente o mais próspero, ficar-se-ia convencido da verdade de que não há uma única falta nesta vida, uma só inclinação má, dizemos mais, um só mau pensamento que não tenha sua contrapartida. Daí a consequência que, se o homem aproveitasse os avisos que recebe, se se arrependesse e reparasse desde esta vida, teria satisfeito à justiça de Deus e não mais teria de expiar, nem de reparar, seja no mundo dos Espíritos, seja em nova existência. Se há, pois, os que nesta vida sofrem o passado de sua precedente existência, é que devem pagar uma dívida que não saldaram.


É a nossa habitual ouvinte, Vânia Regina Júdice, residente na Padre Leite, que pergunta o seguinte: “Por que os espíritas são mais cobrados que os outros?”

Naturalmente, Vânia, porque os cobradores, a quem você se refere, acreditam que as pessoas, por serem espíritas ou por se dizerem espíritas, têm mais a oferecer à humanidade que os outros. Entra, aqui, o chamado “princípio da proporcionalidade”: quem tem mais deve dar mais, quem tem menos só pode dar menos. Jesus enunciou este princípio, afirmando: “a quem muito foi dado muito será pedido”.

Então perguntamos: o que os espíritas podem ter mais? Visão de vida, compreensão sobre as leis morais, espírito de doação e participação, entendimento prático para aplicação imediata do mandamento de Jesus- aquele que ensina amar o próximo. Pelo menos é o que a Doutrina Espírita proclama. Na verdade, a Doutrina Espírita tem uma característica muito singular: ela não prega o exclusivismo religioso, ela não diz que os espíritas são privilegiados, ela não exclui do amor de Deus nenhuma crença (nem mesmo os ateus), nenhuma religião; ela se dirige a todos, indistintamente, pois entende que todos os homens são irmãos.

Evidentemente, ser espírita – da forma como conceituou Kardec n’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – não é uma condição cômoda e muito tranquila, pois, acima de tudo, o espírita precisa ter o anseio de se melhorar espiritualmente. E melhorar não é apenas ouvir sobre o Espiritismo, ler Espiritismo, discutir Espiritismo. Melhorar é, sobretudo, agir no dia-a-dia, ou seja, é colocar em prática aquilo que está aprendendo, como fazem os estagiários das escolas, que já começam a trabalhar, antes mesmo de concluírem seus cursos.

N”O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, no capítulo “ Trabalhadores da Última Hora”, há um texto intitulado “Missão dos Espíritas”, e, ali, o Espírito Erasto, orientador de Kardec, questiona o seguinte: “Se entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviam, como reconhecer os que se acham no bom caminho?” E ele mesmo responde:

Podeis reconhecê-los pelo ensino e pela prática dos verdadeiros princípios da caridade, pela consolação que distribuírem aos aflitos, pelo amor que dedicarem ao próximo, pela sua abnegação e pelo seu altruísmo. Podeis reconhecê-los, finalmente, pela vitória dos seus princípios, porque Deus quer a sua Lei triunfe, e os que as seguem são os escolhidos, que vencerão. Os que, porém, falseiam o espírito dessa lei, para satisfazerem sua vaidade e sua ambição, serão derrotados.”

Eis porque se cobra muito dos espíritas, até porque os espíritas costumam ser os anunciadores dessas mesmas verdades, a que eles próprios precisam se submeter. Eles podem pregar uma coisa e fazer outra, mas, então, cairão na falsidade, na hipocrisia, ou seja, aquilo que Jesus mais combateu nos religiosos de seu tempo. Desse modo, não é fácil trilhar um caminho como este, como não foi fácil trilhar o caminho que Jesus apontou.

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