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sábado, 11 de dezembro de 2021

ESQUECIMENTO DO PASSADO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

A dúvida é bastante comum: - Como pode o homem aproveitar da experiência adquirida em suas anteriores existências, quando não se lembra delas, pois que, desde que lhe falta essa reminiscência, cada existência é para ele qual se fora a primeira; deste modo, está sempre a recomeçar. Suponhamos que cada dia, ao despertar, perdemos a memória de tudo quanto fizemos no dia anterior; quando chegássemos aos 70 anos, não estaríamos mais adiantados do que aos 10; ao passo que recordando as nossas faltas, inaptidões e punições que disso nos provieram, esforçar-nos-emos por evitá-las. Allan Kardec questionado por argumentos semelhantes, com sua costumeira sensatez, explicou: -“Tudo se encadeia no Espiritismo, e, quando se toma o conjunto, vê-se que seus princípios emanam uns dos outros, servindo-se mutuamente de apoio; e, então, o que parecia uma anomalia contrária à justiça e à sabedoria de Deus, se torna natural e vem confirmar essa justiça e essa sabedoria. Tal é o problema do esquecimento do passado, que se prende a outras questões de não menor importância e, por isso, não farei aqui senão tocar levemente o assunto. Se em cada uma de suas existências um véu esconde o passado do Espírito, com isso nada perde ele das suas aquisições, apenas esquece o modo por que as conquistou. Servindo-me ainda da comparação com o aluno, direi que pouco importa saber onde, como, com que professores ele estudou as matérias de uma classe, uma vez que as saiba, quando passa para a classe seguinte. Se os castigos o tornaram laborioso e dócil, que lhe importa saber quando foi castigado por preguiçoso e insubordinado? É assim que, reencarnando, o homem traz por intuição e como ideias inatas, o que adquiriu em ciência e moralidade. Digo em moralidade porque se, no curso de uma existência, ele se melhorou, se soube tirar proveito das lições da experiência, se tornará melhor quando voltar; seu Espírito, amadurecido na escola do sofrimento e do trabalho, terá mais firmeza; longe de ter de recomeçar tudo, ele possui um fundo que vai sempre crescendo e sobre o qual se apoia para fazer maiores conquistas. A objeção relativa ao aniquilamento do pensamento, não tem base mais segura, porque esse olvido só se dá durante a vida corporal; uma vez terminada ela, o Espírito recobra a lembrança do seu passado; então poderá julgar do caminho que seguiu e do que lhe resta ainda fazer; de modo que não há essa solução de continuidade em sua vida espiritual, que é a vida normal do Espírito. Esse esquecimento temporário é um benefício da Providência; a experiência só se adquire, muitas vezes, por provas rudes e terríveis expiações, cuja recordação seria muito penosa e viria aumentar as angústias e tribulações da vida presente. Se os sofrimentos da vida parecem longos, que seria se a eles se juntasse a lembrança do passado? (...) Livre da reminiscência de um passado importuno, viveis com mais liberdade; é para vós um novo ponto de partida; vossas dívidas anteriores estão pagas, cumprindo-vos ter cuidado de não contrair outras. Quantos homens desejariam assim poder, durante a vida, lançar um véu sobre os seus primeiros anos! Quantos, ao chegar ao termo de sua carreira, não têm dito: “Se eu tivesse de recomeçar, não faria mais o que fiz!” Pois bem, o que eles não podem fazer nesta mesma vida, fá-lo-ão em outra; em uma nova existência, seu Espírito trará, em estado de intuição, as boas resoluções que tiver tomado. É assim que se efetua gradualmente o progresso da Humanidade. 


Eu gostaria de saber como é que funciona a lei de causa e efeito para os animais irracionais. Se eles não têm consciência do bem e do mal, o que acontece para eles quando atacam, ferem e atam uns aos outros. Se a lei de Deus é perfeita e se nenhum ato fica sem consequências, será que os animais também terão de pagar pelos sofrimentos que causam?

É claro que não, embora, com relação aos animais, também funciona a lei de causa e efeito, mas não da forma como funciona para os seres humanos. Por quê? Porque os animais não têm vida moral – não têm consciência do bem e do mal, como você disse. Tudo que fazem decorre diretamente das próprias leis da natureza, ou seja, do instinto de conservação. A lei de conservação, conforme podemos ler em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, é responsável por todos os mecanismos instintivos dos seres vivos, animais e vegetais.

Nas espécies inferiores – como nos insetos, por exemplo – não há individualidade. Uma formiga não é um individuo, não tem autonomia, não faz o que quer. Aliás, nesse estágio de evolução não existe vontade, Ela é apenas é parte de uma colônia, chamada formigueiro. O instinto é da colônia, que tem por único objetivo se manter viva e reproduzir. Em espécies mais avançadas, como nos mamíferos, no entanto, já existe individualização: cada cão é um individuo. Mas ele ainda depende do instinto, que é um comportamento programado pela natureza para que sobreviva e garanta a continuidade da espécie.

O ser humano encontra-se num estágio bem mais elevado. Cada pessoa humana é um indivíduo autônomo, tem consciência de si mesmo, sabe diferenciar o bem do mal e vai além do instinto; isto é, pode decidir por si próprio. Só neste estágio de humanização é que existe responsabilidade pelos atos e, portanto, só no ser humano é que há mérito e culpa pelo que faz ou pelo que deixa de fazer. O espírito humano, portanto, é muito mais avançado que o do animal, porque é autoconsciente e já pode aperfeiçoar seus instintos. Quanto mais superior é o Espírito, maior é seu grau responsabilidade, maior a sua autonomia e maior também o seu livre-arbítrio.

A lei de causa e efeito, por outro lado, funciona para todos os fenômenos do universo, independente se esses fenômenos acontecem no reino mineral, no reino vegetal ou no reino animal. Contudo, ela se aplica, de maneira muito especial, no reino humano, porque passa a regular também os atos da vida moral. O que são atos da vida moral? Os atos da vida moral são aqueles que não dependem só da natureza, do instinto, mas dependem sobretudo de nossa vontade e de nossas decisões – isto é, quando sabemos das conseqüências do que estamos fazendo e como isso repercute nos outros.

Por isso, para os animais não existe expiação – ou seja, eles não respondem pelo que fazem, porque seus atos decorrem de suas forças instintivas. Só existe expiação para atos da vida moral, quando há vontade, quando há decisão consciente e isso só acontece na espécie humana. Logo, os animais não sofrem por expiação ( ou seja, eles não sofrem por terem causado algum prejuízo ou sofrimento para alguém), eles sofrem apenas pelas conseqüências naturais da Lei de Causa e Efeito e pela necessidade de evolução, pois todos os seres evoluem e estão em constante transformação.


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