Em todas as atividades humanas eles estão presentes: os que se aproveitam da ignorância ou boa fé das pessoas para tirarem proveito. Ao tempo do surgimento do Espiritismo não poderia ser diferente, especialmente no que se refere ao exercício da mediunidade. Muitos processos jurídicos foram instaurados contra os que prometiam curas milagrosas, a solução de questões afetivas em troca de pagamento, etc. No número de março de 1866 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui artigo em que analisa a questão. Pela semelhança com muitos dos que se observa na atualidade, destacamos alguns de seus argumentos: -‘O Espiritismo não pode ser responsável por indivíduos que indevidamente se fazem passar por médiuns, assim como a verdadeira ciência não é responsável pelos escamoteadores que se dizem físicos. Um charlatão pode, pois, dizer que opera com o auxílio dos Espíritos, como um prestidigitador diz que opera com a ajuda da física. É um meio como qualquer outro de jogar poeira nos olhos; tanto pior para os que se deixam enganar. Em segundo lugar, condenando o Espiritismo a exploração da mediunidade, como contrária aos princípios da doutrina, do ponto de vista moral e, além disso, demonstrando que ela não deve, nem pode, ser um ofício ou uma profissão, todo médium que não tira de sua faculdade qualquer proveito direto ou indireto, ostensivo ou dissimulado, afasta, por isso mesmo, até a suspeita de fraude ou de charlatanismo; desde que não é atraído por nenhum interesse material, a trapaça não teria sentido. O médium que compreende o que há de grave e santo num dom dessa natureza julgaria profaná-lo fazendo-o servir a coisas mundanas, para si e para os outros, ou se dele fizesse um objeto de divertimento e de curiosidade. Respeita os Espíritos como gostaria que o respeitassem, quando for Espírito, e deles não faz alarde. Ademais, sabe que a mediunidade não pode ser um meio de adivinhação; que não pode fazer descobrir tesouros, heranças, nem facilitar êxito nas coisas aleatórias; jamais será um ledor de buenadicha, nem por dinheiro, nem por nada; daí por que jamais terá altercações com a justiça. Quanto à mediunidade curadora, ela existe, é certo; mas está subordinada a condições restritivas, que excluem a possibilidade de consultório aberto, sem suspeitas de charlatanismo. É uma obra de devotamento e de sacrifício, e não de especulação. Exercida com desinteresse, prudência e discernimento, e encerrada nos limites traçados pela doutrina, não pode cair sob os golpes da lei. Em resumo o médium, segundo os desígnios da Providência e a visão do Espiritismo, seja artífice ou príncipe, pois os há nos palácios e nas choupanas, recebeu um mandato que cumpre religiosamente e com dignidade; vê em sua faculdade apenas um meio para glorificar a Deus e servir ao próximo, e não um instrumento para servir aos seus interesses ou satisfazer a sua vaidade; faz-se estimar e respeitar por sua simplicidade, modéstia e abnegação, o que não sucede com os que dele buscam fazer um trampolim. Ao punir com severidade os médiuns exploradores, os que abusam de uma faculdade real, ou simulam uma faculdade que não têm, a justiça não atinge a doutrina, mas o abuso. Ora, o Espiritismo verdadeiro e sério, que não vive de abuso, com isto só poderá ganhar em consideração e não tomaria sob seu patrocínio os que apenas desviam a opinião pública por conta própria. Tomando a defesa para si, ele assumiria a responsabilidade do que eles fazem, porque esses tais não são verdadeiramente espíritas, ainda quando fossem realmente médiuns. Enquanto não perseguirem num espírita, ou nos que se fazem passar por tais, senão os atos repreensíveis aos olhos da lei, o papel do defensor é discutir o ato em si mesmo, abstração feita da crença do acusado; seria grave erro procurar justificar o ato em nome da doutrina. Ao contrário, deve empenhar-se em demonstrar que ela lhe é estranha. Então o acusado cai no direito comum’.
Por que há Centros que fazem sessões abertas para quem quiser assistir e outros não? O Centro não deve incentivar as comunicações dos Espíritos para despertar o povo para a imortalidade?
As sessões mediúnicas – ou seja, aquelas em que os Espíritos se comunicam – constituem a parte mais delicada do Espiritismo, a que merece maiores cuidados. Entrar em contato com os desencarnados não é tão simples como falar com os encarnados: existe uma dificuldade natural de comunicação direta entre os dois planos. Tal atividade exige condições próprias, tanto do ambiente, dos médiuns, quanto das pessoas que participam dos trabalhos. A princípio, não haveria nenhum inconveniente em se fazer sessão pública, mas o problema está justamente no clima mental que se cria em torno das comunicações.
O bom senso diz que, para que esse intercâmbio seja o melhor possível, é necessário que as pessoas, que participam da sessão, sejam primeiramente idôneas; que elas não só tenham um conhecimento razoável da doutrina Espírita, mas sejam preparadas para participar de maneira positiva da reunião, pois o pensamento dos presentes influem diretamente no rendimento do trabalho. Por essa razão, é prudente escolher as pessoas e o possível público que venha a participar.
Allan Kardec, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, não promovia sessões públicas, justamente por isso. Os trabalhos mediúnicos exigem um bom recolhimento íntimo, tanto quanto total segurança para os médiuns. Chico Xavier, Divaldo Franco e outros médiuns, psicografaram milhares de mensagens, inclusive de entes queridos desencarnados, à frente de grande público, mas nestes casos precisamos considerar a qualidade do médium, principalmente sua grandeza moral e a proteção espiritual que o envolve, condições indispensáveis para anular os efeitos de qualquer pensamento negativo do ambiente.
Por outro lado, caro ouvinte, não é o fato de uma pessoa presenciar uma comunicação que vai convencê-la de sua autenticidade. Allan Kardec sempre se bateu no princípio de que “prova não convence”; o que convence a pessoa de uma verdade é a razão. “Se prova convencesse – como dizia o Prof. Henrique Rodrigues, nenhum médico fumaria”. Enquanto a pessoa não estiver racionalmente convencida de algo, porque pensou e tirou conclusões a respeito, nada a demoverá de sua posição. O forte da Doutrina Espírita, portanto, não são os fenômenos, mas a sua filosofia de vida. Por isso é que Kardec aconselhava primeiro conhecer a doutrina para, depois, ter contato com os fenômenos.
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