Havia passado oito anos desde que O LIVRO DOS ESPÍRITOS havia sido publicado; centenas de reuniões haviam acontecido na Sociedade Espírita de Paris; milhares de comunicações de entidades espirituais obtidas com a colaboração do instrumento de pesquisa conhecido como médium fosse pelas evocações, fosse de forma natural, resultando numa massa de informações que permitia entender melhor como funciona o mecanismo evolutivo da individualidade - originalmente simples e ignorante - denominada Espírito. Necessário relatar aos interessados na Doutrina Espírita a farsa da morte e o que determina a felicidade ou impõe o circunstancial sofrimento do Ser, nos diferentes Planos de Vida. Assim nasceu em 1865 a obra O CÉU E O INFERNO subintitulado a Justiça Divina Segundo o Espiritismo. Dividido em duas partes, na segunda reúne 62 exemplos agrupados conforme o tipo de morte, com os Espíritos comunicantes fornecendo informações sobre como é morrer, o que se sente, como se descobrem além dessa vida, permitindo na primeira parte, além de expor aspectos doutrinários sobre essa inevitável experiência na vida de todas as criaturas humanas, formula no capítulo 7 o CÓDIGO PENAL DA VIDA FUTURA com seus 33 artigos. Através dele compreendemos com se formam as expiações e provas, não apenas através dos atos cometidos, como através dos pensamentos formulados e acalentados no mais profundo de nós mesmos. Compreendemos que remorso, arrependimento e reparação são fatores indutores às experiências reparadoras a que todos nos submeteremos no sentido de resgatarmos nossas dívidas com a Justiça Divina. No século 20, o Espírito Emmanuel, através de Chico Xavier, ofertou-nos em interessante obra intitulada PENSAMENTO E VIDA (feb,1958 ) uma bem elucidativa síntese de como ativamos esse mecanismo. Diz ele: -“Quando fugimos ao dever, precipitamo-nos no sentimento de culpa, do qual se origina o remorso, com múltiplas manifestações, impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da alma. E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos reflexos de nossa lembrança amarga, transforma-se num abscesso mental, envenenando-nos, pouco a pouco, e expelindo, em torno, a corrente miasmática de nossa vida íntima, intoxicando o hausto espiritual de quem nos desfruta o convívio. A feição do ímã, que possui campo magnético específico, toda criatura traz consigo o halo ou aura de forças criativas ou destrutivas que lhe marca a índole, no feixe de raios invisíveis que arroja de si mesma. É por esse halo que estabelecemos as nossas ligações de natureza invisível nos domínios da afinidade. Operando a onda mental em regime de circuito, por ela incorporamos, quando moralmente desalentados, os princípios corrosivos que emanam de todas as Inteligências, encarnadas ou desencarnadas, que se entrosem conosco no âmbito de nossa atividade e influência. Projetando as energias dilacerantes de nosso próprio desgosto, ante a culpa que adquirimos, quase sempre somos subitamente visitados por silenciosa argumentação interior que nos converte o pesar, inicialmente alimentado contra nós mesmos, em mágoa e irritação contra os outros. É que os reflexos de nossa defecção, a torvelinharem junto de nós, assimilam, de imediato, as indisposições alheias, carreando para a acústica de nossa alma todas as mensagens inarticuladas de revolta e desânimo, angústia e desespero que vagueiam na atmosfera psiquica em que respiramos, metamorfoseando-nos em autênticos rebelados sociais, famintos de insulamento ou de escândalo, nos quais possamos dar pasto à imaginação virulada pelas mórbidas sensações de nossas próprias culpas. É nesse estado negativo que, martelados pelas vibrações de sentimentos e pensamentos doentios, atingimos o desequilíbrio parcial ou total da harmonia orgânica, enredando corpo e alma nas teias da enfermidade, com a mais complicada diagnose da patologia clássica. A noção de culpa, agirá com os seus reflexos incessantes sobre a região do corpo ou da alma que corresponda ao tema do remorso de que sejamos portadores. Toda deserção do dever a cumprir traz consigo o arrependimento que, alentado no Espírito, se faz acompanhar de resultantes atrozes, exigindo, por vezes, demoradas existências de reaprendizado e restauração.
Se uma pessoa comete um crime, porque é ignorante e não sabe o que faz, ela deve ser punida assim mesmo? (JC.S.)
Esta é uma questão delicada. A própria legislação humana trata esses casos com muito critério. Mas, devemos lembrar de Jesus, quando afirmou “a quem muito foi dado muito será exigido”. Nestes termos, é claro que a culpabilidade vai depender do grau de lucidez de quem pratica o ato. Utilizamos aí do Princípio da Proporcionalidade, que diz: quanto mais esclarecida a pessoa, maior sua culpa. E o oposto também é verdadeiro: quanto menos esclarecida ela for, menor será a sua culpa.
Na Lei de Deus, na verdade, não existe punição e nem recompensa, no sentido que geralmente damos a essas palavras. Nós é que interpretamos o sofrimento como punição e o prazer como recompensa. O que existe, de fato, é a Lei de Causa e Efeito. Kardec, n’O LIVRO DOS ESPÍRITOS, dá o seguinte exemplo: a pessoa come demais, além da conta, e sente-se mal em seguida. Podemos interpretar que o fato de ela se sentir mal foi uma punição porque comeu muito. Mas, na verdade, é apenas o efeito de não ter observado o limite. Assim, em tudo.
Desse modo, não é difícil compreender que qualquer ato falho vai trazer uma conseqüência desagradável, e que o acerto vai ter um efeito agradável. Se uma criança enfia o dedo na tomada elétrica, com certeza, vai tomar um choque, independente se ela sabe ou não o que é choque. Logo, à prática do ato seguiu-se a conseqüência. Nesse caso, se a criança agiu por ignorância, vai tomar o choque do mesmo jeito. É assim que funciona a lei da natureza. Neste caso, a razão do choque é para que ela aprenda a não fazer o que fez.
Entretanto, em se tratando de atos humanos, cometidos por pessoas que têm consciência do que fazem, o efeito do erro ainda é pior. Aquele que pratica o ato por ignorância – ou seja, porque não sabia o que estava fazendo – sofre apenas a conseqüência do ato, como a criança. Mas aquele, que sabia o que estava fazendo, além da conseqüência do ato, vai sofrer também os efeitos morais dele decorrente, o arrependimento e o sentimento de culpa. Para os Espíritos, os sofrimentos mais profundos e duradouros são os sofrimentos morais.
Logo, aqui vale o que Jesus ensinou: a quem muito foi dado, muito será pedido. Ou seja, a intensidade da dor e proporcional à consciência que o infrator tinha sobre o que fez. Logo, as conseqüências de um erro sempre existem, mas elas tanto maiores quanto maior for o grau de consciência moral da pessoa que o cometeu. Desse modo, o erro de um adulto é mais grave que o de uma criança, com certeza, e as conseqüências que sofrer virão em razão de seus conhecimentos.
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