“O LIVRO DOS ESPÍRITOS não é um tratado completo de Espiritismo; apenas apresenta as bases e os pontos fundamentais, que se devem desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação”, escreveu Allan Kardec em texto inserido na edição de julho de 1866, da REVISTA ESPÍRITA. O tema períspirito, por exemplo, inclui-se entre os muitos assuntos que ainda precisam ser melhor conhecidos. Explicado por Allan Kardec como “involucro semimaterial do Espírito depois da sua separação do corpo, é organizado pela individualidade a partir dos fluidos do mundo em que se acha, sendo trocado ao passar de um a outro; sendo mais ou menos sutil ou grosseiro, segundo a natureza de cada Globo, podendo tomar todas as formas segundo a vontade do Espírito, geralmente assumindo a imagem que este tinha na sua ultima vida corporal”. Segundo sua avaliação, “embora de natureza etérea, a substância do perispírito é suscetível de certas modificações que a tornam perceptível à nossa vista, como no caso das aparições, onde, por sua união com o fluido de certas pessoas, torna-se temporariamente tangível, ou seja, oferecer ao toque a resistência de um corpo sólido, como se vê nas aparições estereológicas ou palpáveis”. Acrescenta ainda que “a natureza íntima do períspirito não é ainda conhecida; mas poder-se-ia supor que a matéria do corpo é composta de uma parte sólida e grosseira e de uma parte sutil e etérea; que só a primeira sofre a decomposição produzida pela morte, ao passo que a segunda persiste e segue o Espírito. O Espírito teria, assim, um duplo invólucro; a morte o despojaria apenas do mais grosseiro; o segundo que constitui o períspirito, conservaria o tipo e a forma da primeira, da qual ele é como a sombra; mas sua natureza essencialmente vaporosa permite ao Espírito modificar esta forma à sua vontade, torna-la visível, palpável ou impalpável. O períspirito é, para o Espírito, o que o perisperma é para o germe do fruto. A amêndoa, despojada do seu invólucro lenhoso, encerra o germe sob o involucro delicado do perisperma”. No ano de 1994, num comentário inserido no livro IMAGENS DO ALÉM (ide), Chico Xavier analisando um desenho do Pavilhão do Restringimento elaborado pela também médium Heigorina Cunha que, em desdobramento espiritual teria visitado alguns setores da Colônia Nosso Lar, afirma que “na reencarnação compulsória, o processo é mais lento, levando mais de um ano para se completar o chamado restringimento, e que assim que se inicia a fase do sono letárgico, o corpo espiritual vai se despojando da matéria grosseira, ficando o períspirito sutil, sem trazer-lhe prejuízo algum, matéria grosseira que é enterrada em lugar próprio”. A instigante observação levou alguns pesquisadores ao capítulo 12 do livro EVOLUÇÃO EM DOIS MUNDOS (1958,feb), obra que marca a mudança de Chico de Pedro Leopoldo para Uberaba, ambas no Estado de Minas Gerais. No referido capítulo, o Espírito André Luiz minudencia detalhes interessantes da dinâmica dos processos reencarnatório / desencarnatório. Entre outras informações diz ele: -“Assimilando recursos orgânicos com o auxílio da célula feminina, fecundada e fundamentalmente marcada pelo gene paterno, a mente elabora, por si mesma, novo veículo fisiopsicossomático, atraindo para os seus moldes ocultos as células físicas a se reproduzirem por caricionese, de conformidade com a orientação que lhes é imposta, isto é, refletindo as condições em que ela, a mente desencarnada, se encontra. Plasma-se-lhe, desse modo, com a nova forma carnal, novo veículo ao Espírito, que se refaz ou se reconstitui em formação recente, entretecido de células sutis, veiculo este que evoluirá igualmente depois do berço e que persistirá depois do túmulo”. O intrigante da redução do períspirito no início do processo gestacional é esclarecido no capítulo 29 do livro ENTRE A TERRA E O CÉU (1954, feb), em que o Instrutor Clarêncio vincula este efeito “à influência de fortes correntes eletromagnéticas liberadas pela matriz geradora do corpo feminino, impondo a redução automática, liberando para o plano etéreo toda matéria que não sirva ao trabalho fundamental de refundição da forma”.
Eu, que já tenho idade avançada, sempre ouvi falar do castigo eterno, desde criança. Meus pais, como outros pais também - e mais os padres e até as professoras - punham medo nas crianças, quando falavam do capetinha que tentava e que queria levar as almas para o inferno. Hoje não vejo mais essa história de inferno. Será porque as pessoas não mais acreditam nisso? (ouvinte anônima)
Isso se deve à evolução do pensamento humano, cara ouvinte, - principalmente nesses últimos 30 anos. As idéias mudam com o tempo ( é a lei da evolução) e as religiões também são forçadas a isso. A Doutrina Espírita, por exemplo, tem um papel importante nessas mudanças, porque – como você sabe - o Espiritismo não adota essas concepções de céu e inferno, mas a da reencarnação, e suas idéias se expandiram muito nos últimos anos. Mas não podemos ignorar que o pensamento científico tem contribuído muito para isso.
Aos poucos, vamos saindo de um tipo de mentalidade – que o educador Paulo Freire classifica de “ingênua” – para uma mentalidade, que ele chama de “crítica”. A mentalidade ingênua é a maneira de pensar das pessoas de boa-fé, que aceitam verdades sem analisá-las e sem questioná-las; preferem se acomodar na fé, como se a fé pudesse subsistir sem a razão. Contudo, o ser humano tem sido exigido, cada vez mais, a usar o raciocínio (uma prerrogativa que Deus lhe deu), a compreender antes de aceitar, de modo que essa nova mentalidade vem se implantando aos poucos na sociedade.
Assim, a doutrina das recompensas e das penas eternas, aos poucos, vai caindo em desuso. Pouco lembrada e menos ainda considerada, ela vai se distanciando da concepção de vida do homem do século XXI, até cair no completo esquecimento, porque, hoje em dia, com os conhecimentos que já temos, ela não pode explicar mais a Justiça de Deus, com a reencarnação explica. É claro que ela teve sua época, quando a humanidade era mais atrasada, acreditava mais e questionava menos. Não mais hoje, quando estamos avançando para um conhecimento racional da vida, em plena era científica e tecnológica.
É claro que todos nós também estamos expostos ao materialismo, mas o materialismo surge como uma reação natural ao religiosismo, que prega a fé cega e comete toda espécie de abusos, até mesmo assustando as crianças com a idéia de inferno. Daqui para a frente, no entanto, vamos ter enfrentar uma fase de conflitos – entre o crer e o não-crer, entre os que negam o espírito e os que proclamam o sentido espiritual da vida. Mas esse conflito faz parte do processo natural de nossa evolução e, com certeza, nos levará a uma outra fase, em que o Espiritualismo ( ou seja, as religiões), quando se assentarem sobre valores da razão e da fé, acabarão por prevalecer, construindo uma fé mais sólida e mais vigorosa, capaz de melhorar o comportamento humano.
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