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quarta-feira, 29 de junho de 2022

FATALIDADE: O QUE DIZ O ESPIRITISMO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Estarão os acontecimentos mais marcantes de nossa vida realmente marcados para acontecer? Quase um ano após o lançamento d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS, no número de março de 1858 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui a matéria A FATALIDADE E OS PRESENTIMENTOS, nascida da dúvida levantada por um correspondente sobre experiência pessoal na qual escapara de morrer mais de uma vez testemunhando, entretanto, desfecho trágico para quatro das pessoas – entre os quais dois religiosos -, que com ele viajavam, enquanto ele e outros três sobreviveram. Revelando ter escapado seis ou sete vezes da morte propôs algumas questões, respondidas por São Luiz, um dos orientadores do trabalho da Codificação Espírita: 1- Quando um perigo iminente ameaça alguém, é um Espírito que dirige o perigo, e quando dele escapa, é outro Espírito que o afasta? – Quando um Espírito se encarna, escolhe uma prova; elegendo-a, estabelece-se uma espécie de destino que não pode mais conjurar, uma vez que a ele está submetido; falo das provas físicas. Conservando seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, o Espírito é sempre senhor de suportar ou de repelir a prova; vendo-o fraquejar, um Espírito bom pode vir em seu auxílio, mas não pode influir sobre ele de maneira a dominar sua vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe ou exagerando um perigo físico, pode abalá-lo e apavorá-lo, mas nem por isso a vontade do Espírito encarnado fica menos livre de qualquer entrave. 2. Quando um homem está na iminência de perecer por acidente, parece-me que o livre-arbítrio nada vale. Pergunto, pois, se é um Espírito mau que provoca esse acidente; se, de alguma sorte, é o seu agente; e, caso se livre do perigo, se um Espírito bom veio em seu auxílio? – Os Espíritos bons e maus não podem sugerir senão pensamentos bons ou maus, conforme sua natureza. O acidente está assinalado no destino do homem. Quando tua vida é posta em perigo, é uma advertência que tu mesmo desejaste, a fim de te desviares do mal e de te tornares melhor. Quando escapas a esse perigo, ainda sob a influência do perigo que correste, pensas mais ou menos vivamente, segundo a ação mais ou menos forte dos Espíritos bons , em te tornares melhor. Sobrevindo o Espírito mau – e digo mau, subentendendo o mal que nele ainda persiste – pensas que igualmente escaparás a outros perigos, e deixas, de novo, tuas paixões se desencadearem. 3. A fatalidade que parece presidir aos destinos materiais de nossa vida também é resultante do nosso livre-arbítrio? – Tu mesmo escolheste a tua prova. Quanto mais rude ela for e melhor a suportares, tanto mais te elevarás. (...). 4. Compreendemos perfeitamente essa doutrina, mas isso não nos explica se certos Espíritos exercem uma ação direta sobre a causa material do acidente (...)? – Quando um homem passa sobre uma ponte que deve cair, não é um Espírito que o leva a passar ali, é o instinto de seu destino que o conduz a ela. 5. Quem fez a ponte desmoronar? – As circunstâncias naturais. A matéria tem em si as causas da destruição. No presente caso, tendo o Espírito necessidade de recorrer a um elemento estranho à sua natureza para movimentar forças materiais, recorrerá de preferência à intuição espiritual. (...) O Espírito, digamos, insinuará ao homem que passe por essa ponte, em vez de passar por outro local. Tendes, aliás, uma prova material do que digo: seja qual for o acidente, ocorre sempre naturalmente, isto é, por causas que se ligam às outras e o produzem insensivelmente.



O Cristiano Ricardo Alves, de Vera Cruz, mandou-nos um ‘e-mail’, pedindo um comentário sobre os itens 19, 20 e 21 do capítulo 10 d’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Esses três itens respondem à seguinte pergunta: “È permitido repreender os outros?” A questão colocada pelo Cristiano é interessante e muito importante. Quem atende Kardec é o Espírito São Luiz. Os que tiverem curiosidade, devem ler, reler e refletir sobre as respostas ali apresentadas.


A palavra “repreender” tem duas conotações: a de censurar ou reprovar, e a de advertir ou alertar. Foi o que Jesus fez não só com seus discípulos, mas também e principalmente com os fariseus – censurar e advertir. O problema da censura e da advertência não está no ato em si, mas nas intenções que existem atrás do ato, ou seja, no motivo que leva a pessoa a praticá-lo. Por exemplo: os pais em relação aos filhos. Seria possível educar uma criança sem censurá-la ou sem adverti-la? E o que leva uma mãe ou um pai a censurar e advertir seus filhos, senão o amor que têm por eles, o cuidado que têm em relação à sua segurança e bem-estar?


Jesus valorizou a intenção mais do que o ato em si – prestem atenção nisso! Uma pessoa pode cometer um erro, sem intenção de errar; é diferente daquela que pratica o mal movido pelo desejo de prejudicar. É claro que a primeira, embora errando, não pode ter o mesmo grau de culpa que a segunda. No direito, o crime sem intenção é culpa; o crime premeditado é dolo. Há uma diferença fundamental entre eles: e embora os dois devam ser censurados pelos erros que cometeram, o primeiro só pode ser advertido quanto à sua ignorância ou sua negligência.


São Luiz responde a Kardec que a regra de nossa conduta deve a ser a caridade; caridade, no sentido de indulgência – ou seja, de compreensão em relação à limitação dos outros. Desse modo, quando uma pessoa comete um erro somente contra si mesma; se ela não estiver prejudicando ninguém, esse erro jamais deve ser divulgado. No entanto, sabendo disso, temos o dever de assisti-la, de ajudá-la para que não se prejudique. Mas nunca devemos sair por aí divulgando seu problema, criticando-a abertamente e falando aos outros sobre sua vida – seria falta de caridade, falta de indulgência.


Mas, se a conduta de alguém pode prejudicar outras pessoas, então é nosso dever moral proteger suas vítimas; se preciso, denunciando essa pessoa. Essa situação se enquadra perfeitamente no princípio do amor ao próximo, pois, segundo São Luiz, é preferível que um seja prejudicado do que muitos serem prejudicados por ele. Jesus foi um exemplo desse tipo de comportamento. Embora proclamasse bem alto que devemos nos respeitar e nos amar uns aos outros, ele não deixou de tornar público o mal que os fariseus praticavam contra o povo.

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