O número de janeiro de 1861 da REVISTA ESPÍRITA, inclui matéria destacando o caso de um jovem de dezesseis anos que desde quatro anos antes era o epicentro de uma série de fatos perturbadores. Descrito como um rapaz de inteligência excessivamente acanhada, analfabeto e que raramente saia de casa, sempre que começava a dormir, tinha o leito em que repousava balançado violentamente; era objeto de suspensão magnética (levitação); pancadas e arranhaduras de origem desconhecida no local em que repousava; assovios; ruído semelhante ao de uma lima ou serra; arremesso de pedaços de carvão procedentes de local ignorado no cômodo em que estava deitado. Durante o sono, fala ao Espírito causador da desordem com autoridade e toma o tom de comando de um oficial superior, dado surpreendente, visto jamais ter assistido exercícios militares. Simula um combate, comanda a manobra, conquista a vitória e se julga reconhecido general em campo de batalha. Quando ordenava ao Espírito que desse uma tantas pancadas, por vezes, contrariado, o menino, no transe do sono, pergunta: -“Como farás para tirar as pancadas que deste a mais? Então o Espírito se põe a raspar, como se apagasse. Quando o menino comanda, fica numa grande agitação, por vezes, gritando tão forte que a voz se extingue numa espécie de estertor. Sob comando o Espírito produz o som de todas as marchas francesas e estrangeiras, mesmo a chinesas. Frequentemente, acontecia do menino, dizer: -“Não é assim! Recomece. E o Espírito obedecia. Durante o sono e comandando, o menino mostrava-se muito grosseiro. Certa ocasião, após cinco horas de grande agitação do rapaz, tentou-se acalmá-lo por meio de passes magnéticos, o que o enfureceu, revolvendo toda cama. Longe de se atenuarem, os efeitos se agravavam mais e mais de modo aflitivo. Tentou-se conversar com o Espírito através de outro rapaz que lhe servia como médium falante (psicofônico). Em vão, obtendo como resposta que a prece de nada lhe servia; que experimentou aproximar-se de Deus, mas só encontrou obscuridade e gelo. Mesmo as orações mentais o enfureciam. Nem o próprio pai estava livre dos assaltos do Espírito obsessor que lhe interrompia o trabalho, agredia, puxava-lhe as roupas e o beliscava até sangrar. Na reunião da Sociedade Espírita de Paris, do dia 9 de novembro passado, foram dirigidas oito perguntas a São Luiz, o dirigente espiritual das atividades sobre o problema. Entre outras informações, disse que “por ser a inteligência do moço limitada, quando o Espirito desencarnado o envolvia, ficava completamente alucinado, especialmente quanto mais mergulhado no sono, o que o expunha à turbulenta obsessão; aconselhou que quando o jovem estivesse desperto, evocasse-se bons Espíritos, a fim de com estes o por em contato e, por tal meio, afastar os maus, que o assediavam durante o sono; disse que seriam ineficazes as tentativas de doutrinar o desencarnado por serem ele e o moço, muito materializados; enalteceu o valor da prece, enfatizando, contudo ser necessária a cooperação dos pais que, todavia, não demonstravam aquela fé que centuplica as forças, não tendo, por isso, muita razão ao queixar-se de um mal contra o qual nada fazer; por fim, revelou ser o moço pouco adiantado moralmente, mas mais do que se pensa em inteligência da qual abusou em outras existências, não a dirigindo para um fim moral, mas, ao contrário, para objetivos mais ambiciosos. Acrescentou ainda encontrar-se na existência atual num corpo que lhe não permite livre curso à inteligência e o mau Espírito que o assedia aproveita sua fraqueza: deixa-se comandar em coisas sem consequência, porque o sabe incapaz de lhe ordenar coisas sérias: e o diverte. Destaca o Orientador Espiritual que a Terra formiga de Espíritos assim, em punição, em corpos humanos, razão pela qual existem tantos males de tantos matizes. Em observação adicional, Allan Kardec diz que a “observação vem em apoio a esta explicação. Durante o sono, o menino mostra uma inteligência incontestavelmente superior à de seu estado normal, o que prova um desenvolvimento anterior, mas reduzido a estado latente sob esse novo corpo grosseiro. É só nos momentos de emancipação da alma, nos quais não sofre tanto a influência da matéria, que sua inteligência se expande, e no qual também exerce uma espécie de autoridade sobre o Ser que o subjuga. Mas, reduzido ao estado de vigília, suas faculdades se anulam sob o involucro material que a comprime. Não está aí um ensino moral prático?”.
A nossa gentil e habitual colaboradora, Professora Cida Possati, do Jardim Frei Aurélio, a propósito do livro “O que é o Fenômeno Mediúnico”, que sorteamos domingo passado, pediu um comentário sobre a mediunidade na Bíblia e no Alcorão.
Em primeiro lugar precisamos esclarecer os ouvintes de MOMENTO ESPÍRITA que a Bíblia é o livro sagrado dos cristãos. Seus cinco primeiros livros, que estão no Antigo Testamento, constituem a Torá, escritura sagrada dos judeus. Já os cristãos, por iniciativa da Igreja, a partir do século IV, adotaram livros do Antigo e todos os que formam o Novo Testamento..
O Alcorão é o livro sagrado dos mulçumanos ou islâmicos. A Bíblia, no antigo testamento, narra a história do povo hebreu, desde cerca de 1.800 anos antes de Cristo, as revelações divinas recebidas através de Moisés e dos profetas que vieram depois dele. No novo testamento, encontramos a revelação através de Jesus de Nazaré e de seus apóstolos.
Na antiguidade (isto é, nos períodos históricos de mais ou menos mil e trezentos anos para trás), a religião ocupava o ponto máximo do saber e tudo, que acontecia na vida das pessoas, das comunidades e de cada povo, girava em torno de suas crenças religiosas. Todos os povos, de todas as partes do mundo, assim como os índios brasileiros, tiveram alguma religião. Como diz Kardec, “nunca houve um povo ateu”. Neste lado ocidental do planeta Terra, das grandes religiões tivemos o judaísmo, que deu origem ao cristianismo. No Oriente tivemos o hinduísmo, o bramanismo, o xintoísmo e, depois, o budismo. Em geral, as grandes religiões do mundo tiveram seus mestres e seus livros sagrados.
A Bíblia reúne escritos e depoimentos sobre a história milenar dos hebreus e foi escrita por inúmeros autores em momentos e lugares diferentes. Nela, como em outros livros sagrados ( assim como o Alcorão da religião islâmica, cujo chefe maior é o profeta Maomé) encontramos narrativas de fatos maravilhosos, levados a conta de milagres. Assim, são relatadas aparições de anjos ou entidades celestiais, manifestações do próprio Deus ou Iavé, voz direta, fenômenos de pirogenia (fogo espontâneo), fenômenos luminosos, materializações ( hoje conhecidas por ectoplasmia), curas, premonições ou profecias, e muitos outros.
É claro que, naquela época, por se saber muito pouco da natureza, tudo que não pudesse ser explicado pelas leis conhecidas era tido como sobrenatural. Com o tempo, a partir do desenvolvimento da ciência (depois do século XVI, portanto) é que se verificou que muito do que se atribuía ao sobrenatural pode ser perfeitamente explicado por leis descobertas pelos cientistas.
Entretanto, mesmo com o apogeu da ciência e com o extraordinário desenvolvimento tecnológico do século XX, muita coisa ainda continua, sob o ponto de vista científico, sem explicação. Contudo, o Espiritismo, a partir da metade do século passado (1857), já vinha mostrar que, de fato, existem fenômenos além das leis conhecidas pela ciência e que o universo é muito mais amplo e complexo do que se imagina. Há uma ordem de fenômenos que têm origem numa dimensão ainda desconhecida, que chamamos de mundo espiritual. A vida, no seu sentido amplo de manifestação inteligente, transcende à matéria, mas esse é um capítulo ainda desconhecido da ciência.
É o que acontece, por exemplo, com os fenômenos mediúnicos. Chamamos de mediúnicos os fenômenos, que não se explicam apenas pelas leis físicas conhecidas, e que requerem a participação de uma ou mais pessoas, a quem damos o nome de médiuns. Médium quer dizer intermediário. Logo, o médium é aquele que serve de mediador para os Espíritos desencarnados. Nem mesmo os fenômenos mediúnicos são considerados sobrenaturais pelo Espiritismo. Para a Doutrina Espírita, a não ser Deus, tudo o mais é criação e, portanto, tudo é natural (inclusive o Espírito) e tudo está submetido a lei de causa e efeito: logo, os fenômenos mediúnicos são naturais e passíveis de explicação.
Os fenômenos mediúnicos se manifestam das mais variadas formas – pela fala, pela clarividência, pela clariaudiência, pela premonição, por fatos físicos aparentemente inexplicáveis. Na Bíblia – como dissemos – encontramos inúmeras aparições inesperadas de entidades espirituais ( a que se deu o nome de anjos), manifestações psicofônicas como a de Samuel para Saul, materializações como a de Moisés e Elias para Jesus e o próprio Jesus se manifestando várias vezes após sua morte ( no episodio conhecido por ressurreição), os sonhos premonitórios de José para o Faraó do Egito, a transfiguração de Jesus no Monte Tabor, a visão que Saulo teve de Jesus na Estrada de Damasco, as diversas curas realizadas por Jesus e seus seguidores, as várias manifestações de Espíritos perversos ou obsessores.
No Alcorão, também percebemos diversos fenômenos, aparentemente inexplicáveis, mas a principal delas é a manifestação do anjo Gabriel ao profeta Maomé, cuja revelação deu origem ao livro, ponto máximo do Islamismo. Há algumas obras que abordam com detalhes este assunto, professora Cida Possati, dentre elas A GÊNESE de Allan Kardec, na parte referente aos milagres.
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