-“Aquele a que é confiado o trabalho de revelar uma coisa oculta pode recebê-la, independentemente de sua vontade, como inspiração pelos Espíritos que a conhecem; então a transmite maquinalmente, sem se dar conta. Além disso, sabe-se que, quer durante o sono, quer em vigília, no êxtase da dupla vista, a alma se desprende e possui em grau mais ou menos grande as faculdades do Espírito livre. Se for um Espirito adiantado, se, como os profetas, tiver recebido a missão especial para esse efeito, goza, nesses momentos de emancipação da alam, da faculdade de abarcar, por si mesmo, um período mais ou menos extenso e vê, como presentes, os acontecimentos desse período. Então pode revela-los, imediatamente, ou lhes conservar a memória ao despertar. Se os acontecimentos devem ser mantidos em segredo, ele perderá a sua lembrança ou conserva apenas uma vaga intuição, suficiente para o guiar instintivamente. É assim que se vê essa faculdade desenvolver-se providencialmente em certas ocasiões, nos perigos iminentes, nas grandes calamidades, nas revoluções e que a maioria das seitas perseguidas tiveram numerosos videntes; é ainda assim que se veem grandes capitães marchar resolutamente contra o inimigo, com a certeza da vitória; homens excepcionais, como, por exemplo, Cristóvão Colombo, perseguir um objetivo, por assim dizer predizendo o momento de o atingir. É que viram esse objetivo, que não é desconhecido para seu Espírito. Todos os fenômenos cuja causa era desconhecida foram reputados maravilhosos. A Lei segundo a qual estes se realizam, uma vez conhecida, os colocaram na ordem das coisas naturais. O dom da predição não é sobrenatural, como não o são muitos outros fenômenos: repousa nas propriedades da alma e na Lei das relações entre os mundos visível e invisível, que o Espiritismo vem dar a conhecer. Mas como admitir a existência de um Mundo Invisível, se não se admitir a alma, ou se se não admitir sua individualidade após a morte? O incrédulo que nega a presciência é consequente consigo mesmo. Resta saber se o é com a Lei Natural. A Teoria da Presciência talvez não resolva de modo absoluto todos os casos que a previsão do futuro possa apresentar, mas, não se pode desconsiderar que ela estabelece o seu princípio fundamental. Se se não pode tudo explicar é pela dificuldade, para o homem. De colocar-se nesse ponto de vista extraterrestre; por sua inferioridade, seu pensamento, incessantemente arrastado para o caminho da vida material, muitas vezes é impotente para se destacar do solo. A esse respeito muitos homens são como as aves novas, cujas asas, demasiadamente fracas, não lhes permitem elevar-se no ar, ou como aqueles cuja vista é demasiado curta para ver ao longe, ou, enfim, como aqueles a quem falta um sentido para certas percepções. Entretanto, com alguns esforços e o hábito da reflexão, lá chegam: os Espíritas, mas facilmente que os outros, porque , melhor que os outros, podem identificar-se com a Vida Espiritual, que compreendem. Para compreender as coisas espirituais, isto é, para fazer delas uma ideia tão clara quanto a que fazemos de uma paisagem que está aos nossos olhos, falta-nos, realmente, um sentido, exatamente como a um cego falta o sentido necessário para compreender os efeitos da luz, das cores e da visão à distância. Assim, só por um esforço da imaginação é que o conseguimos, auxiliados por comparações tiradas das coisas familiares. Mas, as coisas materiais, só ideias muito imperfeitas nos podem dar das coisas espirituais. É por isso que não se deveriam tomar essas comparações ao pé da letra e, por exemplo, crer, no caso de que se trata, que a extensão das faculdades de perspectiva dos Espíritos depende de seu elevação efetiva, e que eles necessitem estar numa montanha ou acima das nuvens, para abarcar o tempo e o espaço. Essa faculdade é inerente ao estado de espiritualização ou, se se quiser, de desmaterialização. Por outras palavras, a espiritualização produz um efeito que se pode comparar, embora muito imperfeitamente, ao da visão de conjunto do homem sobre a montanha. Esta comparação apenas objetivava mostrar que acontecimentos que estão no futuro para uns, está no presente para outros e, assim, podem ser preditos, o que não implica que o efeito se produza da mesma maneira. Para gozar dessa percepção o Espírito não precisa, então, transportar-se para um ponto qualquer no espaço; o que está na Terra, ao nosso lado, pode possuí-la em sua plenitude, como se estivesse a milhares de quilômetros, ao passo que nada vemos fora do horizonte visual. Não se produzindo a visão nos Espíritos da mesma maneira e com os mesmos elementos que no homem, seu horizonte visual é bem outro. Ora, aí está precisamente o sentido que nos falta para o conceber; ao lado do encarnado, o Espírito é como um vidente ao lado de um cego”.
Se Jesus disse que não é para ficar repetindo as palavras, quando se fala com Deus, será que as pessoas repetem as orações porque não têm fé?
Acreditamos que não. O hábito que as pessoas têm de repetir orações, na grande maioria das vezes, provém da forma como a oração lhes foi ensinada pela corrente religiosa que seguem, e não propriamente por iniciativa delas. Na história das religiões, que remonta à antiguidade, sempre se acreditou que a quantidade e a forma de orar eram mais importantes na adoração. Jesus, porém, mostrou o contrário, deixando claro que o mais importante, quando oramos, é a qualidade, não propriamente a qualidade das palavras que empregamos ou da forma como oramos, mas de nosso pensamento, de nosso sentimento.
“Quando orais – disse ele, conforme lemos em Mateus – não haveis de ser como os hipócritas ( aqui, ele está se referindo aos fariseus), que gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens; em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Mas, quando orares – dizia para a multidão – entra no teu quarto e, fechada a porta, ora a teu pai em segredo (ou, em silêncio); e teu Pai, que vê o que se passa em segredo, te atenderá”. E é, então, que ele completa, dizendo: “ E, quando orais, não faleis muito como os gentios ( gentios eram os estrangeiros que tinham outros deuses, outras religiões), que pensam que é pelo muito falar que serão ouvidos. Não queirais, portanto, parecer-vos com eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes mesmo que lhe peçais”.
Analisando essa interessante orientação de Jesus, percebemos clareza e objetividade em suas palavras, que não deixam nenhuma dúvida a respeito do que ele queria transmitir. Parece que, realmente, não fica nenhuma dúvida que a oração ou prece é uma manifestação de nossa intimidade, sobre a qual ninguém precisa ficar sabendo. É portanto, a expressão secreta de nossos pensamentos que, realmente, chega a Deus e retorna para nós. É interessante observar que os judeus – povo e religião a que Jesus pertencia – estavam acostumados a fazer da adoração um ato cerimonioso, cheio de rituais, ofertas e sacrifícios (como o jejum, por exemplo), inclusive o de andar quilômetros de distância para ir ao Templo de Jerusalém, pelo menos, uma vez ao ano, onde se acreditava estar Deus.
No entanto, Jesus vinha com uma proposta nova: a da oração secreta e simples. Ele deve ter notado que, naquele momento, as pessoas se sentiram um tanto perdias, pois não sabiam orar de outro jeito que fosse a forma cerimoniosa estabelecida pela tradição de muitos séculos. Foi então que, a pedido ou não de pessoas presentes, ele deu um exemplo claro e simples e oração, quando proferiu o Pai Nosso. O Pai Nosso é a oração mais breve que existe, tão curta e simples, que qualquer um, até uma criança, pode decorar. Mas não basta recitá-la; apenas dizer o Pai Nosso, como o temos de memória, não é suficiente. Jesus deixou claro que a verdadeira prece parte do coração; se o coração não estiver nela – ou seja, ela não estivar eivada do mais puro sentimento – não atingirá seu objetivo.
Tanto assim que, ante a preocupação dos judeus de ir ao templo orar (era o que eles sabiam fazer), Jesus deixou claro que, mais importante que a oferta diante do altar, é o coração isento de mágoa e de ódio. “Quando vos puseres em oração – disse ele – se tens alguma coisa contra alguém, perdoa-lhe, para que Vosso Pai te perdoe; porque, se não perdoares, também Vosso Pai não te perdoará os pecados”. Nesta recomendação, percebemos que, para se chegar a Deus, é preciso limpar o coração, procurando ver o ofensor como irmão, uma vez que o ódio nos isola de Deus, comprometendo a qualidade de nossa prece.
Retornando à pergunta de nosso ouvinte, podemos lhe dizer, portanto, que a qualidade da prece está no sentimento que manifestamos ao proferi-la. Isso é que é importante. Não é a quantidade de palavras, não é esta ou aquela oração, nem tampouco a forma como oramos, que nos garante a eficácia da prece, mas o verdadeiro sentimento que colocamos nela, reconhecendo que um Amor supremo regula toda a vida e, para contar com esse poder em nosso favor, precisamos compartilhar desse amor em nosso coração.
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