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sexta-feira, 30 de setembro de 2022

É POSSÍVEL PREVER O FUTURO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 A resposta Allan Kardec apresentou em curioso artigo na edição de maio de 1864 da REVISTA ESPÍRITA. Escreveu ele: -“Diz-se que as coisas futuras não existem; que ainda estão no nada. Então como saber se acontecerão? Contudo são muito numerosos os exemplos de predições realizadas, de onde concluir-se que aí se passa um fenômeno cuja chave não se tem, pois não há efeito sem causa. Essa causa, que tentaremos achar, ainda é o Espiritismo, também chave de tantos mistérios, que nô-la fornecerá e, além disso, mostrar-nos-á que o próprio fato das predições não sai das Leis Naturais. Como comparação, tomemos um exemplo nas coisas usuais e que auxiliará a compreender o princípio que temos de desenvolver. Suponhamos um homem colocado no alto de uma montanha, considerando a vasta extensão da planície. Nessa situação pouco será o espaço de um quilometro, e facilmente poderá ele abarcar de um golpe de vista todos os acidentes do terreno, do começo ao fim da estrada. O viajante que, pela primeira vez, percorre essa estrada, sabe que marchando chegará ao fim. Isso é simples previsão da consequência de sua marcha. Mas os acidentes do terreno, as subidas e descidas, os riachos a transpor, as matas a atravessar, os precipícios onde pode cair, os ladrões postados para o assalto, as hospedarias onde poderá descansar, tudo isto independe de sua pessoa: é para ele desconhecido o futuro, porque sua vista não vai além do pequeno círculo que o envolve. Quanto a duração, mede-a pelo tempo consumido em percorrer o caminho. Tirai-lhes os pontos de referência e apaga-se a duração. Para o homem que está na montanha e que acompanha o viajante com o olhar, tudo isto é presente. Suponhamos esse homem descendo e que diga ao viajante: -“Em tal momento encontrareis essa coisa; sereis atacado e socorrido”. Ele predirá o futuro. O futuro é para o viajante; para o homem da montanha é o presente. Agora se sairmos do circulo das cosas puramente materiais e, por pensamento, entrarmos no domicílio da Vida Espiritual, veremos esse fenômeno reproduzir-se em escala muito maior. Os Espíritos desmaterializados são como o homem da montanha; para ele apagam-se espaço e tempo. Mas a extensão e a penetração de sua vista são proporcionais à sua depuração e à sua elevação na hierarquia espiritual; em relação aos Espíritos inferiores, são como o homem armado de poderoso telescópio, ao lado do que tem os olhos nus. Nestes últimos a vista é circunscrita, não só porque dificilmente podem afastar-se do Globo a que estão ligados, mas porque a grossura de seu períspirito vela as coisas afastadas, como a garoa para os olhos do corpo. Compreende-se, pois, que, conforme o grau de perfeição, um Espírito possa abarcar um período de alguns anos, alguns séculos e, até, de milhares de anos, porque o que é um século ante a Eternidade? Ante ele os acontecimentos não se desenrolam sucessivamente, como os incidentes da estrada do viajante; vê simultaneamente o começo e o fim do período; todos os acontecimentos que, nesse período são o futuro para o homem da Terra, para ele são presente. Poderia ele, pois, vir dizer-nos com certeza: Tal coisa acontecerá em tal momento, porque vê essa coisa como o homem da montanha vê o que espera o viajor na estrada. Se não o diz, é porque o conhecimento do futuro seria nocivo ao homem; entravaria o seu livre arbítrio; paralisá-lo-ia no trabalho que deve realizar para o seu progresso. Sendo-lhe desconhecidos o Bem e o mal que o esperam, o são para a sua provação. Se uma faculdade, mesmo restrita, pode estar nos atributos da criatura, a que grau de poder deve ela elevar-se no Criador, que abarca o Infinito? Para ele o tempo não existe; o começo e o fim do mundo são o presente. Nesse imenso panorama, que é a duração da vida de um homem, de uma geração, de um povo? Contudo, como deve o homem concorrer para o progresso geral, e certos acontecimentos devem resultar de sua cooperação, em certos casos pode ser útil que pressinta esses acontecimentos, a fim de lhes preparar o caminho e estar pronto a agir quando chegar o momento. Eis porque, às vezes, Deus permite seja levantada a ponta do véu; mas é sempre com um fim útil e jamais para satisfazer uma vã curiosidade. Assim, essa missão pode ser dada, não a todos os Espíritos, pois alguns não conhecem o futuro melhor que os homens, mas a alguns Espíritos suficientemente adiantados para isto. Ora, é de notar que essas espécies de revelações sempre são feitas espontaneamente e jamais ou, pelo menos, muito raramente, em resposta a uma pergunta direta”.


Gostaria de entender a fala de Jesus ao homem rico que o procurou, quando disse: “Vende tudo o que tem, dê aos pobres e siga-me.” Acho que foi essa frase que leva muita gente a se isolar do mundo, como os eremitas que foram morar no deserto, porque é impossível viver neste mundo sem nada e, além disso, aqueles que têm pouco ou nada, pouco ou nada podem dar a quem precisa.

Primeiramente, precisamos entender que a fala usada por Jesus é cheia de figuras de linguagem ou comparações. Muito comum nas suas afirmações as metáforas e alegorias, como, por exemplo, quando ele diz: “eu sou a luz do mundo” (referindo aos seus ensinamentos) ou, então, “este é o meu corpo” (mostrando o pão), “este é o meu sangue” (mostrando vinho). Esta forma de ensinar era comum na época, pois tornava seu ensino mais concreto e facilitava a memorização dos ouvintes.

Um outro aspecto que ressalta na sua forma de falar é o uso de figuras fortes, figuras de impacto, chegando ao exagero, e que servem para chamar a atenção dos ouvintes e provocar questionamentos, admiração e até contestações: “Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos? Minha mãe e meus irmãos são todos os que fazem a vontade de meu Pai.” Pai, aqui, é Deus – também uma figura de linguagem, para que seus ouvintes aprendessem por comparação entre Pai celestial e pai humano.

Na passagem do homem rico, a quem Jesus recomendou vendesse o que tinha e desse aos pobres, também precisamos buscar o sentido mais profundo dos seus ensinos. Ao que tudo indica, ele estava testando o homem quando à sua capacidade de se desapegar dos bens terrenos, pois, sendo rico, com certeza, sempre colocava o interesse econômico acima de tudo. Neste caso, Jesus quis mostrar que, acima dos bens materiais, estão os bens espirituais.

Hoje em dia, nenhum de nós faria o que Jesus propôs. Primeiro porque não estamos vivendo no seu tempo e tampouco numa missão de tamanha envergadura espiritual como a dele e seus apóstolos. Em segundo lugar, conforme sustenta Kardec, a vida era extremamente simples e, portanto, era possível a pessoa viver com tão pouco ou quase nada, principalmente quando se entregava a uma missão espiritual. Por último, porque já é possível agir com caridade (com benevolência, indulgência e perdão), sem abrir mão do mínimo necessário.

A grande lição que Jesus quis transmitir naquela ocasião foi, portanto, a do desapego aos bens materiais, e isso é perfeitamente válido – seja naquela época, seja hoje em dia. Embora a sociedade nos empurre, cada vez mais, para um regime consumista ( onde ter é mais importante que ser, onde as pessoas mais consideradas são as que têm mais posses), para vivenciar o espírito da caridade temos que colocar o interesse espiritual acima do interesse material, as pessoas acima das coisas, o interesse social acima do interesse pessoal.

O capitalismo que hoje vivemos não impede que o poder econômico se coloque a serviço do bem social – ou seja, aquele que mais tem, que sabe administrar seus bens com responsabilidade, além de contribuir para o progresso da sociedade, pode muito bem atuar em regime de cooperação com as classes menos favorecidas, impedindo a pobreza e a miséria. O problema da ambição desenfreada e da ganância está no homem, que precisa descobrir a felicidade não propriamente no prazer de possuir muitos bens e de ostentar poder, mas o de ser útil e colaborar para a felicidade de todos.

Assim, quando Jesus fala que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”, ele está se referindo à dificuldade que as gananciosos têm em se libertar da escravidão da riqueza, pois, enquanto permanecem vivendo para ela e em função dela, não conseguem se livrar da condenação da consciência culpada, o que equivale a dizer que não podem ser felizes com seu egoísmo e com seu orgulho

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