A morte que todos inevitavelmente encontraremos em algum momento do futuro breve não opera milagres. Sentir-nos-emos e veremos tal como aqui. O caso que apresentaremos a seguir demonstra isso. Envolve alguns dos poucos amigos e admiradores de Chico Xavier, à época um médium conhecido e procurado por poucos, ao contrário do que se observa na fase vivida em Uberaba. O calendário marcava o ano de 1948 e alguns dos que privavam de sua amizade se reuniam para uma reunião mediúnica prevista para marcar a inauguração da sede de uma fazenda na cidade Esmeraldas, a noroeste de Belo Horizonte. Chico, atrasado por ter sido reconhecido no caminho por várias pessoas que faziam parar o carro que o conduzia, aos quais atendia carinhosamente, finalmente chega. Após abraçar aos que ansiosamente o aguardavam, dirige-se nominalmente a alguém que ninguém vê, chamando-o João Rosa, abraçando-o carinhosamente, demonstrando alegria por encontra-lo ali. Um dos presentes, José Costa, caçoa e, imperturbável Chico, retruca: - Perdão, João Rosa é desencarnado. Mais tarde, já no ambiente em que se desenvolveria a reunião mediúnica, o coordenador sugere seja retirada uma cadeira vaga, ponderando: - Não é bom deixar cadeira vaga à mesa de reunião, ouvindo Chico, delicadamente, discordar: - A cadeira não está vaga. Ocupa-o um irmão desencarnado. Iniciados os trabalhos, após a prece, leitura e comentários sobre o texto d’ O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Chico pede a palavra e esclarece: - O irmão João Rosa, a quem cumprimentei ainda há pouco, lá fora, pediu e obteve permissão da Assistência Espiritual para participar desta reunião. Neste momento, está sentado na cadeira aparentemente vaga. Vejo, no espaço, um quadro dramático, diga-se trágico, emocionante. João Rosa, que era viúvo, ao desencarnar, passa a sofrer o assédio da ex-esposa, que o tortura, mostrando-se-lhe vestida com o véu tinto de piche, disposta a vingança implacável! Ante a admiração dos demais, prossegue: - João Rosa, visivelmente traumatizado, nos diz que seu casamento foi um fracasso; jamais conseguiu harmonizar-se com a esposa, vivendo o casal sob o impacto permanente do fogo cruzado decorrente do desajuste conjugal, até que a morte os separou. Retomando a descrição do quadro percebido pela sua vidência, Chico relata: - João Rosa diz que, ao comprar os aviamentos para a mortalha na loja de José Costa, em Sabará, indagou-lhe como proceder com o véu nupcial que a falecida guardava como preciosa relíquia. Ouvindo do outro que ‘deveria pichá-lo e com ele envolver o corpo da morta’, recebendo do mesmo, de presente, uma lata de piche, seguiu à risca o macabro conselho. Agora, desencarnado há 25 anos, arrosta, no Espaço, terrível confronto; pois ambos, vivendo em zona trevosa, dão prosseguimento ao conflito doméstico, sob insuportável clima de ódio e ressentimento. E atenção, caros irmãos: o acaso não existe. Não foi à toa que João Rosa veio até nós, externando seu pedido de socorro. E só há uma maneira infalível de se por termo a tal discórdia entre duas almas predestinadas: o perdão recíproco. Eu pediria então, ao querido companheiro José Costa, que orasse o Pai Nosso, rogando a misericórdia de Jesus, no sentido de conceder-lhe o necessário perdão pelo gesto leviano e impensado que ingenuamente praticara, com mau conselho e invigilância. Detalhe interessante é que José Costa, autor da lamentável sugestão, quando a fez não era espírita e a inspirada solicitação de Chico, objetivava neutralizar os efeitos gerados anos antes, destruindo a causa e, quem sabe, induzindo a reconciliação do casal. Sensibilizado, rosto banhado de lágrimas, José Costa ora fervorosamente, voz embragada, palavras sinceras brotando do âmago do coração. Retomando a palavra, Chico descreve: - As lágrimas de nosso irmão José Costa, subiram ao Céu, retornando em cascatas cintilantes. Luz bendita que, projetando-se sobre o casal e incidindo sobre o véu negro de rancorosas vibrações, transformam-no em manto angelical, qual veste nupcial, com a alvura do lírio. Agora, reconciliados, ambos se abraçam, selando com um beijo a nova aliança, na catedral da alma, entre rosas e lírios, ante a amplidão infinita.
Quando Jesus disse em João 10:16, que haverá um só rebanho para um só pastor, ele queria dizer que haverá uma única religião e todas as outras religiões desaparecerão da Terra? Que religião seria essa? (Maria Luzia Paes)
As religiões, cara ouvinte, são meras criações humanas. Toda vez que alguém resolve interpretar de maneira própria algum texto na Bíblia, funda uma nova religião e sai a procura de seguidores. E é por isso que, no mundo, existem tantas e não pára de surgir outras mais, todos os dias. Jesus, porém, não veio fundar mais uma religião e nem se preocupou em introduzir novos rituais celebrativos e deveres de adoração, como faziam seus contemporâneos fariseus, que viviam soprando nos ouvidos das pessoas a necessidade de seguirem os preceitos rigorosos da tradição religiosa.
Jesus veio ensinar a doutrina do amor; e amor está acima de todas as religiões, acima de todas as doutrinas que existem na Terra. Analise bem os evangelhos e você não vai encontrar um só momento em que Jesus se entregou a uma celebração religiosa. Religião, para ele, era o amor vivido no dia-a-dia, em relação ao próximo. Por isso, ele fez questão de desvalorizar as figuras do sacerdote e do levita na parábola do Bom Samaritano, onde mostrou que a prática do bem pode não ter nada a ver com religião, ao mesmo tempo em que o fato de uma pessoa ser religião não quer dizer que ela ame o próximo.
O que Jesus mais exaltou foi o amor e o que ele mais criticou foi a hipocrisia dos que ostentam o rótulo de religiosos mas que, na verdade, segundo ele, são túmulos caiados – bonitos por fora, mas cheios de podridão por dentro. Não poderia haver uma imagem mais adequada para simbolizar a hipocrisia. Religião para Jesus, portanto, é seguir os preceitos do bem, é fazer o bem quanto possa, servir quanto possa, lutando contra o orgulho e contra o egoísmo. Ele sabia que, um dia, o mundo se aproximaria dessa condição ideal de vivencia do amor, fazendo do amor uma linguagem universal entre os homens.
Eis o rebanho único a que ele se referia, rebanho dos que se respeitam e dos que se amam de verdade, independente de um ter uma religião e o outro ter outra, independente de raça, de cor, de sexo, de idade, de partido político, de condição social ou de qualquer outro fator que diferencia as pessoas. O amor está acima de todas as diferenças humanas; é a força que congrega e unifica todas as forças da Terra, todas as religiões do mundo, uma espécie de ecumenismo que alguns religiosos mais abertos hoje estão defendendo.
Assim, cara ouvinte, não podemos esperar que haja uma só religião, mas podemos lutar para que as diferentes religiões – antes de pensarem em se digladiarem – se esforcem para falar a mesma linguagem do amor, onde há chance para todos e por onde caminharemos sob o comando de Jesus.
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