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quinta-feira, 27 de outubro de 2022

LUCIDEZ; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 As questões de ordem mental não estavam entre as prioridades da Medicina em meados do século 19. Os portadores de distúrbios nesta área eram tratados de forma desumana. N’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, questões 371 a 374, Allan Kardec argui a Espiritualidade sobre o assunto, obtendo informações interessantes a respeito da chamada idiotia, hoje classificada pela Psiquiatria como tríade oligofrênica que é caracterizada pelo menor grau de desenvolvimento intelectual, sendo incapaz de articular palavras; assimilar noções de higiene ou mesmo desenvolver pudor. O século 20 abriu campo para evoluções no conhecimento e tratamento dos portadores do chamado durante bom tempo excepcional, substituído pelo termo especial. Mas, por traz do corpo limitado por várias restrições, nem sempre somente mentais, como se encontra o Espírito dele prisioneiro. Na REVISTA ESPÍRITA de junho de 1860, seu editor incluiu interessante material em torno de uma abordagem a respeito da questão havida na reunião da Sociedade Espírita de Paris, de 25 de maio passado. Como campo de estudo, Charles de Saint-G..., um jovem idiota de treze anos, encarnado, e cujas faculdades intelectuais eram tais que nem conhecia os pais e apenas podia alimentar-se. Havia nele uma parada completa do desenvolvimento em todo o sistema orgânico. Pensou-se que poderia ser assunto interessante de estudo psicológico. Consultado, o Espírito São Luiz, responsável pelas atividades da Sociedade Espírita de Paris, respondeu afirmativamente, explicando que isso poderia ser feito a qualquer momento, pelo fato de sua alma se ligar ao corpo por laços materiais, mas não espirituais, podendo sempre desprender-se”. Cumpridos os procedimentos habituais, o comunicante começou iniciou sua manifestação dizendo ser “um pobre Espírito ligado a Terra, como uma ave por um pé”. Indagado se tinha consciência de sua nulidade no mundo, responde: -“Certamente: sinto bem meu cativeiro”. Perguntado se quando seu corpo dormia e seu Espírito se desprendia, tinha ideias tão lúcidas quanto se estivesse em estado normal, informou que “estava um pouco mais livre para se elevar ao Céu a que aspirava”. Questionado se como Espírito experimentava um sentimento penoso quanto ao seu estado corporal, respondeu que sim, “por se tratar de uma punição”. Quanto a se lembrar de sua existência anterior, disse que “sim, por ser ela a causa de seu exílio atual”. Revelou na entrevista conduzida por Allan Kardec que a encarnação onde se desencadeou sua desventura na presente existência, ocorreu ao tempo em que reinava Henrique III; que a forma como se processava seu reajuste não resultara de uma decisão sua, mas uma imposição como forma de punição; que embora parecesse nula pelas limitações em que vivia, tal existência perante as Leis de Deus tem sua utilidade; que não viveria muitos anos mais; que da existência em que gerou a desarmonia atual trezentos anos antes até a reencarnação recém-terminada, permaneceu no Plano Espiritual. Sobre se no estado de vigília tinha consciência do que se passava ao seu redor, a despeito da imperfeição dos órgãos de seu corpo físico, disse: -“Vejo, entendo, mas o corpo não compreende nem vê”. Se algo de útil poderia ser-lhe feito, afirmou que “nada”. Finalizando a entrevista, Kardec procurou ouvir de São Luiz se as preces poderiam ter a mesma eficácia que por um Espírito errante, que explicou: -“As preces são sempre boas e agradáveis a Deus. Na posição deste pobre Espírito, elas não lhe podem servir; servirão mais tarde”. Comentando a experiência daquela reunião, Kardec acrescentou: -“Ninguém desconhecerá o alto ensinamento moral que decorre desta evocação. Além disso, ela confirma o que sempre foi dito sobre os idiotas. Sua nulidade moral não significa nulidade do Espírito, que, abstração feita dos órgãos, goza de todas as faculdades. A imperfeição dos órgãos é apenas um obstáculo à livre manifestação das faculdades; não as aniquila. É o caso de um homem vigoroso, cujos membros fossem comprimidos por laços. Sabe-se que, em certas regiões, longe de serem objeto de desprezo, os cretinos são cercados de cuidados benevolentes. Este sentimento não brotaria de uma intuição do verdadeiro estado desses infelizes, tanto mais dignos de atenções quanto seu Espírito, que compreende sua posição, deve sofrer por se ver como um refugo da sociedade?”.

Vamos comentar, agora, um assunto muito oportuno, enviado pelo Antenor e que diz o seguinte: “Existem muitas religiões, porque existe muita gente buscando salvação. As pessoas não vão à igreja porque amam a Deus ou ao próximo, mas porque elas querem se salvar. Isso pra mim é puro egoísmo. Não parece que foi isso que Jesus ensinou. Ele mandou amar o próximo como a si mesmo. Ou estou errado?

Você não está errado, Antenor. O que pode estar errado é justamente a interpretação que muita gente dá às palavras de Jesus, muitas vezes decorando essas palavras, mas deixando de estudá-las e compreendê-las com mais profundidade. Veja que Jesus ensinou um Deus de amor e misericórdia, e não um deus carrancudo, nervoso e vingativo. No entanto, aquela mensagem anterior, de que Deus punia os desobedientes e que, sem piedade, mandava para o inferno os pecadores, ainda é levada em conta, embora não seja mais de nosso tempo

Allan Kardec, analisando a palavra, afirma que a palavra “religião” vem do latim “religare”, quer dizer, “religar”, ligar de novo. Religião seria a prática pela qual podemos nos religar a Deus. Religar, porque fomos criados por Deus, estivemos nele e com ele, e agora nos compete, pela nossa evolução espiritual, voltar a Deus, no dia a dia de nossa vida, mas através de nossos atos, da nossa conduta, praticando a justiça e o amor.

Logo, religião, no seu sentido mais amplo, deveria ser a prática do bem ao próximo, o exercício incondicional do amor e não apenas a frequência a determinada igreja. Ora, foi justamente essas práticas antigas e ultrapassadas que Jesus criticou nos fariseus, o fato de apenas se entregarem a cultos e celebrações ruidosas, pois, na vida prática, essas pessoas viviam em completa desarmonia com o princípio do respeito e do amor ao próximo. Veja que ele mandou amar até mesmo os inimigos, que é sem dúvida a expressão mais pura do amor.

Não foi por outro motivo que Jesus chamou os fariseus de hipócritas, de pessoas fingidas, que os comparou a túmulos caiados ( belos por, mas podres por dentro), que sempre trazem Deus nos lábios (nas orações), mas não O trazem no coração, pois quem traz Deus no coração são aqueles que se esforçam para amar, para praticar o bem, em relação a todos que os cercam, usando daqueles preceitos que Jesus deixou bem claro no sermão da montanha, onde exaltou a compreensão e o perdão.

Fora disso, não há verdadeira religião, mas apenas e tão somente um simulacro ou imitação de religião. Foi por isso que Jesus exaltou a atitude nobre do samaritano ao socorrer o desconhecido, que compreendeu a situação da mulher adúltera prestes a ser apedrejada, que recebeu de coração a acolhida da meretriz que veio saudá-lo, que visitou a casa de Zaqueu (um homem mau visto) e que enalteceu o malfeitor que foi crucificado ao seu lado. Amar o próximo, para Jesus, é considerar que todos somos irmãos, todos somos filhos de Deus e o Pai nos ama a todos.

Como podemos amar a Deus, a quem não vemos, se não amamos o próximo a quem vemos? - questionou João mais tarde. Essa fala de João é muito significativa (poucos se detém nela), pois, na verdade, o que sabemos de Deus? No entanto, Jesus deu a fórmula ideal para amar a Deus, pois quem ama o filho ama o Pai: AMAR A DEUS, EM ÚLTIMA INSTANCIA, É AMAR AQUELES COM QUEM CONVIVEMOS OU AQUELES COM QUEM NOS DEPARAMOS NOS CAMINHOS DA VIDA.

Religião é isso. Ela serve para nos salvar, mas para nos salvar do egoísmo, para nos salvar do orgulho, para nos salvar da perversidade, da ganância, e de tudo que concorre para nos afastar dos nossos irmãos de humanidade, porque são esses sentimentos doentios que nos levam ao inferno do sentimento. Desse modo, você tem razão, caro ouvinte, devemos procurar Deus na pessoa do próximo – não propriamente para nos salvar – mas para ajudar a todos a caminhar em direção à sua felicidade. Professar uma religião apenas porque busca a própria salvação é expressão de puro egoísmo, que vai contra os ensinos e o ideal de Jesus.



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