Conhecido apresentador e humorista da televisão brasileira, em recente programa de entrevistas dedicado a ele, questionado sobre o que pensa sobre a morte, respondeu “que nada, considerando ser uma perda de tempo este tipo de preocupação visto ela representar o fim”. Reconhecido por sua inteligência e cultura, a personalidade tipifica a maior porcentagem da intelectualidade do nosso mundo, focado exclusivamente na realidade material. Na verdade, o interesse pela morte não deve se transformar em prioridade nas cogitações dos seres humanos, mas, sim, o seu significado no contexto da vida, cuja finalidade, por sinal, deveria merecer reflexões mais amplas e profundas em face da multiplicidade de informações a respeito disponíveis na atualidade. Lamentavelmente tal assunto só é pensado quando o afastamento da “zona de conforto” leva as pessoas a tentar entender os “porquês”. O grande educador oculto no pseudônimo Allan Kardec, escreveu interessante texto incluído na edição da REVISTA ESPÍRITA, de julho de 1862, adequado para dissipar a ignorância dominante sobre o sentido da vida, a razão de vivermos, a partir das revelações de que foi Codificador, apresentando a proposta conhecida como Espiritismo. Diz ele: -“A vida corpórea é necessária ao Espírito, ou à alma, o que é a mesma coisa, para que possa realizar neste mundo material as funções que lhe são designadas pela Providência: é uma das engrenagens da harmonia Universal. A atividade que é forçado a desenvolver nas funções que exerce sem o suspeitar, crendo agir por si mesmo, ajuda o desenvolvimento de sua inteligência e lhe facilita o adiantamento. A felicidade do Espírito na vida espiritual é proporcional ao seu progresso e ao bem que pôde fazer como homem, do que resulta que, quanto maior importância adquire a Vida Espiritual aos olhos do homem, mais sente este a necessidade de fazer o que é necessário para se garantir o melhor possível. A experiência dos que viveram vem provar que uma vida terrena inútil ou mal empregada não tem proveito para o futuro, e que aqueles que não buscam aqui senão as satisfações materiais as pagam muito caro, que por sofrimentos no Mundo dos Espíritos, que pela obrigação em que se acham de recomeçar sua tarefa em condições mais penosas que as do passado, e tal é o caso dos que sofrem na Terra. Assim, considerando as coisas deste mundo do ponto de vista extracorpóreo, longe de ser estimulado à despreocupação e à ociosidade, o homem compreende melhor a necessidade do trabalho. Partindo do ponto de vista terreno, essa necessidade é uma injustiça aos seus olhos, quando se compara aos que podem viver sem nada fazer: tem-lhes ciúmes e inveja. Partindo do ponto de vista espiritual, essa necessidade tem uma razão de ser, uma utilidade, e ele a aceita sem murmurar, pois compreende que sem o trabalho ficará indefinidamente na inferioridade e privado da facilidade suprema a que aspira e que não poderá alcançar se se não desenvolver intelectual e moralmente. A esse respeito parece que muitos Monges compreendem mal o objetivo da Vida Terrena e, ainda menos, as condições da vida futura. Pelo isolamento, privam-se dos meios de se tornarem uteis aos seus semelhantes e muitos dos que se acham no Mundo dos Espíritos confessam-nos que se enganaram redondamente e que sofrem as consequências de seu erro. Tal ponto de vista tem para o homem outra enorme consequência imediata: tornar mais suportáveis as tribulações da vida. É muito natural, e ninguém o proíbe de procurar o bem-estar e a sua existência terrena ser o mais agradável possível. Mas, sabendo que aqui está apenas momentaneamente, que um futuro melhor o aguarda, pouco se atormenta com as decepções que experimenta; e, vendo as coisas do alto, recebe os revezes com menor amargor; fica indiferente às embrulhadas de que é vítima, por parte dos ciumentos e invejosos; reduz a seu justo valor os objetos de sua ambição e coloca-se acima das pequenas suscetibilidades do amor-próprio. Liberto das preocupações criadas pelo homem que não sai da esfera estreita, pela perspectiva grandiosa que se desdobra aos seus olhos, é, ao contrário, mais livre para se entregar a um trabalho proveitoso para si próprio, e para os outros. Os vexames, as críticas severas, as maldades de seus inimigos não lhe são mais que nuvens imperceptíveis num imenso horizonte; não se inquieta por elas mais do que pelas moscas que zumbem aos ouvidos, pois sabe que em breve estará livre. Assim, todas as pequenas misérias que lhe suscitam deslizam por ele como água pelo mármore. Colocado do ponto de vista terreno irritar-se-ia e talvez se vingasse; do ponto de vista extraterreno, ele as despreza como os salpicos de lama de um caminhante inadvertido (...). Tal, o resultado da diferença, do ponto de vista sob o qual se encara a vida: um, nos dá balbúrdia e ansiedade; outro, a calma e a serenidade”.
– Gostaria de fazer uma pergunta que é importante para mim. Um homem viveu o tempo todo, mais de 60 anos, numa religião. Ele acreditava em Deus, no céu e o no inferno, mas não era uma pessoa religiosa. Dizia que fazia suas orações e que isso bastava. Nunca soube que fez mal a ninguém, mas também não se preocupava em fazer o bem. Vivia para ele e para sua família, procurando cumprir suas obrigações. Como todo mundo, acertou e errou: nada mais que isso. Minha pergunta é a seguinte: Será que ele aproveitou alguma coisa desta vida? Como vai ser sua vida no mundo espiritual?
Para a Doutrina Espírita o mais importante não é o fato de a pessoa professar uma determinada religião – seja ela qual for a religião – mas, sim, a sua conduta diante do próximo e de si mesma. É claro que a religião é importante, mas o papel da religião é justamente o de contribuir para melhorar a conduta de seus fiéis, de modo que aqueles que dizem professar uma religião, mas não se esforçam por viver conforme a religião ensina, nada estão acrescentando à sua vida; antes, estão desperdiçando uma grande oportunidade.
Por outro lado, existem pessoas que revelam uma boa conduta, sem estarem filiadas a qualquer religião. São Espíritos, que já gozam de um certo amadurecimento espiritual que trouxeram de outras vidas. Ao invés de precisarem da religião, a religião é que precisam delas, justamente para servirem de exemplo diante dos outros. Desse modo, cara ouvinte, o fato de a pessoa não ser religiosa, mas ter uma boa conduta, é um sinal positivo. Porém, se elas professassem uma religião, com certeza, seriam mais úteis.
No Brasil, especificamente, por ser uma nação historicamente católica, muitas pessoas não-religiosas se declaram católicas quando consultados pelos pesquisadores do censo, talvez a grande maioria, pois os que praticam de fato a religião são bem poucos. Todavia, do ponto de vista espiritual, o que vai pesar de fato em sua vida não é a religião em si – como já dissemos – mas como a pessoa vem de conduzindo moralmente ao longo da vida. O que mais Jesus combateu foi a hipocrisia religiosa.
Há pessoas que fogem da religião para não assumir compromissos de ordem moral; elas preferem continuar como são, pois, na verdade, só acreditam mesmo em vantagens imediatas. Outras têm medo de Deus, querem estar longe da moderação e da disciplina. No fundo, aceitam o que a religião ensina, mas não se propõem a vivenciar seus ensinamentos, porque lhes custaria abrir mão de muita coisa. É claro que é um tipo de conduta nada recomendável, porque, mais cedo ou mais tarde – mais cedo, quando acontece nesta vida e mais tarde quando acontece na outra – elas vão se deparar, não com o dedo de Deus, mas com a própria consciência apontando para o seu comodismo.
Nós não temos o diireito de julgar ninguém, até porque não estamos preparados para nos julgar nem a nós mesmos – mas sabemos o quanto vai pesar para cada um de nós a omissão diante do que poderíamos ter feito e não fizemos, uns diante dos outros. Ao contar a parábola do bom samaritano, que encontramos nos evangelhos, Jesus exaltou a conduta do homem que não frequentava o templo, mas que cultivava a solidariedade.
Para o Espiritismo não existem inferno nem sofrimento eterno, mas existem outras oportunidades de reabilitação, expressão da justiça e da misericórdia de Deus. Quando o desencarnado toma consciência de seu estado na vida espiritual, dependendo de seu nível de discernimento, ele pode se decepcionar consigo mesmo, pelo que fez e pelo que deixou de fazer. Mas, certamente, se for um Espírito que aprecia os bons princípios, ele terá ao seu lado amigos que o ajudarão a se recompor e a assumir outros compromissos que o ajudarão a superar-se espiritualmente.
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