Lançado no ano de 1975, o livro VIDA DEPOIS DA VIDA (edibolso), apresenta o resultado de cinco anos de pesquisa conduzida pelo médico Raymond A. Moody Jr, a respeito do que se popularizou como EQM – Experiência de Quase Morte, ou seja, daquelas pessoas que por fatores diversos, foram trazidas de volta à vida por processos naturais ou induzidos. O trabalho prefaciado, antes de ser publicado, por outra médica especialista no assunto, Elizabeth Kubler-Ross, revela informações muito interessantes, como a do paciente moribundo continuar a ter informação consciente do seu ambiente depois de ter sido declarado clinicamente morto; um flutuar para fora de seus corpos físicos; grande sensação de paz e totalidade; estarem cônscios do auxílio de outra pessoa em sua transição para outro plano de existência; a presença de pessoas amadas que tinham morrido antes, e, uma das mais instigantes é a chamada recapitulação extremamente rápida da própria vida, para alguns em ordem cronológica, enquanto para outros não. Segundo os relatos, instantânea, de uma vez, abrangendo todas as coisas só com um relance, vívida e real, cada imagem sendo percebida e reconhecida, apesar da rapidez. Surpreendentemente, Allan Kardec, nos depoimentos sobre percepções e sensações no instante da morte, selecionados para compor a segunda parte d’ O CÉU E O INFERNO, incluiu dois em que contam que “toda a minha vida se desenrolou diante de minha lembrança” (J. Sanson,) e, “senti um abalo e lembrei-me, de repente, meu nascimento, juventude, minha idade madura, toda a minha vida se retratou nitidamente em minha lembrança” (M. Jobard). Já no início do século 20, o incansável pesquisador Ernesto Bozzano, apresenta na obra A CRISE DA MORTE (feb), casos como o do juiz Peckam, “no momento da morte, revi, como num panorama, os acontecimentos de toda minha existência, todas as cenas, ações que praticara, passaram ante meu olhar”; do Dr. Horace Abraham Ackley, “logo que voltei a mim, todos os acontecimentos de minha vida desfilaram sob as vistas, como num panorama, visões vivas, muito reais, em dimensões naturais, como se meu passado se houvera tornado presente”, ou, Jim Nolam, “um pouco antes da crise fatal, minha mente se tornara muito ativa; lembrei-me subitamente de todos os acontecimentos da minha vida; vi e ouvi tudo que fizera, dissera, pensara, todas as coisas a a que estivera associado”. Em outro dos seus extraordinários trabalhos, A MORTE E SEUS MISTÉRIOS (eco), Bozzano reúne relatos de pessoas que passando por traumatizantes situações de perigo de vida, também vivenciaram experiências da visão panorâmica. Um grupo de alpinistas e turistas que sofreram quedas das montanhas, vendo a morte de perto, relataram que além de um sentimento de beatitude; ausência do tato e da dor, com a visão e audição conservando acuidade normal; extrema rapidez do pensamento e imaginação; em inúmeros casos, reviram todo o curso de sua vida passada (“vislumbrei todos os fatos de minha vida terrena que se desenrolaram diante de meus olhos em imagens inumeráveis, com extraordinária rapidez e clareza”); Alphonse Bué, vitima de queda que o fez perder a consciência durante dois ou três segundos, conta que “desenrolaram-se, clara e lentamente, no seu Espírito, cenas, brinquedos infantis, vida escolar, curso na escola militar, a vida de soldado na guerra da Itália, etc.”. Bozzano agrupa ainda casos de pessoas que passaram por asfixia por submersão (1- “vi, num vasto panorama, toda minha existência terrena, desde as recordações infantis até o momento em que nadei para o mar alto”; 2- “diante de minha visão, se sucedia, com a maior rapidez, todo o painel de minha vida, em projeção panorâmica”, 3- “no instante em que desapareci na água, se produziu em minha mente verdadeira revolução, graças à qual as menores particularidades de minha vida terrena se imprimiram em caracteres profundos em minha memória, de acordo com as épocas em que as vivi”). O riquíssimo documentário produzido através do médium Chico Xavier, através das cartas de entes queridos,inclui inúmeras demonstrações dessa recapitulação no instante imediato à morte. O erudito e respeitado Hermínio Correia de Miranda, na obra AS DUAS FACES DA VIDA (lachâtre, 2005), no capítulo Psiquismo Biológico, recordando hipótese formulada no extraordinário A MEMÓRIA E O TEMPO (edicel,1981), de que “ao finalizar-se a existência na carne, ou mesmo ante ameaça mais vigorosa e eminente de que ela está para terminar, dispara um dispositivo de transcrição dos arquivos biológicos para os perispirituais, do que resulta aquele belo e curioso espetáculo de replay da vida, para o qual estamos propondo o nome de recapitulação. Uma vez transcrita a gravação dos tapes espirituais, o corpo físico é liberado para a desintegração celular inevitável”. Quatro décadas depois dessa suposição, conclui: “As pesquisas posteriores(...), me asseguram de que não há, ainda razões para rejeitar a hipótese, havendo, ao contrário, suportes confiáveis para ela, não apenas em textos doutrinários básicos, como em informes trazidos por André Luiz, bem como, no convincente depoimento de um confrade experimentado como Romeu do Amaral Camargo”, acrescentando: “- Assim, o Espírito pode proceder a uma reavaliação das suas vivências, ao mesmo tempo em que se prepara para novas tarefas no Mundo Espiritual e para a eventual retomada da experiência física, em outra etapa reencarnatória”..
É da Virgínia Simeão da Silva, a seguinte questão: “Quando um animal fica ferido, sem esperança de viver, costumamos sacrificar esse animal, para evitar que ele continue sofrendo. Não é natural esse sentimento de interromper a dor, para evitar que o individuo sofra? Assim, também, uma pessoa que chegou ao termo da vida, está sofrendo muito, não tem mais esperança de viver, chegou às raias do desespero, por que não interromper sua dor e a dor da família?”
A condição do animal, Virgínia, é bem diferente da condição do ser humano. E a maior diferença entre eles é que o ser humano tem autoconsciência. O homem sabe das coisas e sabe de si mesmo, busca explicação para tudo, tem sonhos e aspirações, sentimentos de justiça e, assume compromissos. Por ser autoconsciente, por tomar decisões e ter vontade própria, ele assumiu o comando de seu próprio destino, tem méritos e culpas pelo bem ou pelo mal que pratica.
Logo, a jornada espiritual do homem é muito diferente da do animal, pois eles estão em estágios diferentes de evolução. A vida moral do homem dá-lhe responsabilidade na condução de seu próprio destino; o animal é apenas guiado pelas leis da natureza. Por isso mesmo, o homem tem o mérito e a culpa de seus atos; o animal, não. No sofrimento humano existe, portanto, um componente de ordem moral, enquanto que o sofrimento do animal atende apenas às suas necessidades imediatas de evolução.
Logo, os animais não sofrem por erros cometidos, mas sofre em decorrência de suas necessidades de evolução, enquanto que o ser humano, muitas vezes, está passando por uma prova ou por uma expiação e precisa resgatar suas culpas. Eis porque não é admissível a eutanásia no ser humano, porque sua morte prematura pode interromper um processo de resgate. Como os animais não carregam culpas, ele não precisam resgatar nada, razão pela qual o que é admissível para o animal ( no caso, a eutanásia), não é admissível para o homem.
É claro, Virginia, que é natural que nos condoemos do sofrimento alheio. Aliás esta é uma condição significativa para o exercício de nossa sensibilidade. Quando nos comparecemos de alguém que sofre cabe-nos fazer o possível para aplacar-lhe as dores – sejam físicas ou morais. Compete-nos atuar sempre pelo bem-estar do próximo, fazendo o máximo ao nosso alcance. Mas sempre no sentido de preservar a vida – e não de abreviá-la. Abreviar uma vida humana pode significar, algumas vezes, eliminar momentos que seriam de grande utilidade para o seu crescimento espiritual.
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