Especialmente quando acontecem grandes tragédias, a imprensa costuma expor depoimentos de pessoas que afirmam ter sonhado antecipadamente ou tido “insights” desses eventos tão impactantes na opinião publica. Tal fato não é peculiar de nossa época e a prova disso encontramos na seção Questões e Problemas do número de junho de 1866 da REVISTA ESPÍRITA. Nela, Allan Kardec reproduz a resposta do Espírito Dr Demeure, obtida na reunião de 13 de maio daquele ano, através do médium o Sr. Tail, à pergunta “Quando alguma coisa é pressentida pelas massas, geralmente, se diz que está no ar. Qual a origem desta expressão?”. Explica o Espírito: “- Esse pressentimento geral à aproximação de algum acontecimento grave tem duas causas: a primeira vem das massas inumeráveis de Espíritos que incessantemente percorrem o Espaço e que tem conhecimento das coisas que se preparam. Em consequência de sua desmaterialização, estão mais em condições de seguir seu desenrolar e prever seu desfecho. Estes Espíritos, incessantemente roçam a Humanidade, comunicando-lhe seus pensamentos pelas correntes fluídicas que ligam o Mundo corporal ao Espiritual .Apesar de não verdes, seus pensamentos vos chegam como o aroma das flores ocultas na folhagem e os assimilais inadvertidamente. O ar está literalmente sulcado por essas correntes fluídicas, que, por toda parte, semeia más ideias, de tal sorte que a expressão está no ar não é só uma imagem, mas positivamente verdadeira. Certos Espíritos são mais especialmente encarregados pela Providência de transmitir aos homens o pressentimento das coisas inevitáveis, visando lhes dar um secreto aviso, cumprindo essa missão espalhando-se entre eles. São como vozes íntimas, que retinem no seu íntimo. A segunda causa deste fenômeno, está no desprendimento do Espírito encarnado, durante o repouso do corpo. Nesses momentos de liberdade, se mistura aos Espíritos similares, aqueles com os quais há mais afinidade; impregna-se de seus pensamentos, vê o que não pode ver com os olhos do corpo, relata sua intuição ao despertar, como de uma ideia toda pessoal. Isso explica como a mesma ideia surge ao mesmo tempo em cem pontos diversos e em milhares de cérebros. Como sabeis, certos indivíduos são mais aptos que outros para receber o influxo espiritual, quer pela comunicação direta dos Espíritos estranhos, quer pelo desprendimento mais fácil de seu próprio Espírito. Muitos gozam, em graus diversos, da segunda vista, ou visão espiritual, faculdade muito mais comum que pensais, e que se revela de mil maneiras; outros conservam uma lembrança mais ou menos nítida do que viram em momentos de emancipação da alma. Em consequência desta aptidão, tem noções mais precisas das coisas; não sendo neles um simples pressentimento vago, mas a intuição, e nalguns, o conhecimento da própria coisa, cuja realização preveem e anunciam. Se se lhes pergunta como sabem, o maior numero deles não saberia explicar-se: uns dirão que uma voz interior lhes falou, outros que tiveram uma visão reveladora; outros, enfim, que o sentem sem saber como. Nos tempos da ignorância, e aos olhos das pessoas supersticiosas, passam por adivinhos e feiticeiros, quando são apenas pessoas dotadas de uma mediunidade espontânea e inconsciente, faculdade inerente à natureza e que nada tem de sobrenatural, mas que não podem compreender os que nada admitem fora da matéria. Essa faculdade existiu em todos os tempos, mas é de notar que se desenvolve e multiplica sob o império das circunstâncias, que dão um aumento de atividade ao Espírito, nos momentos de crise e à aproximação dos grandes acontecimentos. As revoluções, as guerras, as perseguições de partidos e seitas, sempre fizeram nascer um grande número de videntes e inspirados, qualificados de iluminados”. Num breve comentário, Kardec pondera: “-As relações do Mundo Corporal e Do Mundo Espiritual nada tem que admire, se se considerar que esses dois mundos são formados dos mesmos elementos, isto é, dos mesmos indivíduos, que passam alternadamente de um ao outro. Tal como é hoje entre os encarnados da Terra, será amanhã entre os desencarnados do Espaço, e, reciprocamente. O Mundo dos Espíritos não é, pois, um mundo à parte. É a Humanidade mesma, despojada de seu invólucro material, e que continua sua existência sob uma nova forma e com mais liberdade. As relações desses dois mundos, de contatos incessantes, fazem parte, pois, de Leis naturais. A ignorância da Lei que os rege foi a pedra de tropeço de todas as filosofias. É por falta de seu conhecimento que tantos problemas ficaram insolúveis. O Espiritismo que é a ciência, dessas relações, dá a única chave que os pode resolver”.
CONSEQUÊNCIAS DO SUICÍDIO - Li o livro “MEMÓRIA DE UM SUICIDA” , afirma a ouvinte Inês Magnólia da Silva, aqui do Labienópolis - e fiquei muito impressionada com o que acontece com as pessoas que se suicidam. Acho que a leitura desse livro pode ajudar muita gente que está pensando na morte como uma saída para seus problemas, mas pode também deixar as pessoas muito impressionadas.
MEMÓRIAS DE UM SUICIDA, Inês, é um marco na literatura espírita brasileira. Recebida pela médium, Yvonne Pereira, é o relato da difícil experiência pela qual passou o escritor português, Camilo Castello Branco, no mundo espiritual, depois que se suicidou. Trata-se, evidentemente, de um depoimento que deve servir de alerta a todos. Sabemos que preservar a própria vida é o primeiro dever do Espírito encarnado, pois a vida na Terra, por mais difícil que seja, é o seu maior instrumento de progresso espiritual.
O livro realmente impressiona pelas descrições que apresenta. Mas já impressionou muito mais no passado, quando se alimentava muito preconceito contra as obras que tratam do assunto. Hoje, já caminhamos um pouco mais, e falar de morte ou de suicídio já não soa de forma tão terrível quanto antes. Aliás, morte era uma palavra que muita gente tinha medo de pronunciar. E quando isso acontece, o medo da morte aumenta mais ainda. As obras espíritas contribuíram muito para que se vencesse essa barreira e se passasse a tratar de morte ou de suicídio como se trata de qualquer outro assunto.
Falando especificamente de suicídio, devemos dizer que, segundo o pensamento espírita, não são as dificuldades que deveriam nos fazer desistir da vida. Pelo contrário, as dificuldades são nossos principais instrumentos de aprendizado. Deveriam servir de estímulo para todos nós. Como num jogo, em que buscamos os caminhos para vencer a partida ( e isso nos estimula mais a jogar), os obstáculos são nossos desafios. Ninguém aprende com facilidades: uma vida muito fácil seria improdutiva e inútil para o Espírito que, no fundo, busca seu crescimento através do trabalho e da agitação natural da vida.
Entretanto, Inês, cada caso é um caso, com características próprias. Não existem dois casos iguais. E por desconhecermos os motivos, que levam pessoas a se suicidar, nunca devemos julgar. Um livro como “MEMÓRIAS DE UM SUICIDA”, de Yvonne Pereira, é uma boa leitura para nos fazer desviar de qualquer pretensão – mesmo que remota – de acabar com a vida antes do tempo aprazado. Mas, a experiência do autor espiritual é apenas uma experiência. Não é a única experiência para quem recorre ao suicídio, pois as conseqüências do suicídio – segundo a questão nº 957 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS – são as mais diversas, dependendo de cada caso e das causas que levaram ao suicídio.
Falamos isso, principalmente para aqueles que sofreram o impacto do suicídio na família, principalmente as mães que perderam filhos nessas circunstâncias. Essas famílias, muitas vezes, entram em desespero. Inconformadas, aflitas, sentem-se culpadas pelo trágico acontecimento, passando a buscar em si mesmas motivos que determinaram a morte desses entes queridos de forma tão prematura e violenta. Elas imaginam que eles estariam vivendo um verdadeiro inferno por sua causa, quando nem sempre é a realidade; e ainda não sabem como poderiam ajudá-los, se isso for possível.
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