A Historia oficial dos líderes, povos, países, governantes, ao longo de grande parte da evolução da Humanidade, foi sempre escrita sob encomenda, registrando dados e passagens que nem sempre expressam os fatos integralmente. Num país, por exemplo, apenas as ocorrências desenroladas no centro do poder, envolvendo personagens mais diretamente a ele ligados, são preservados. O que acontece no interior, raramente é contado. O Antigo Testamento, em vários de seus escritos, mostra a dependência de Reis, Faraós e Soberanos de oráculos e pitonisas que lhes decifravam sonhos, pressentimentos ou até mesmo a influência dos Astros, diante de decisões a serem tomadas. O tempo foi, aparentemente, afastando uns e outros, minimizando essa influência. Allan Kardec na edição de março de 1864 da REVISTA ESPIRITA, incluiu interessante matéria intitulada UMA RAINHA MÉDIUM, construída a partir de notícias veiculadas em vários jornais da época como Opinion Nationale e Siècle, veiculados em 22 de fevereiro do mesmo ano. Tais escritos fazem referência à fatos envolvendo a Rainha Vitória, que durante sessenta e quatro anos esteve à frente do trono da Inglaterra. Ela, cujo nome completo era Alexandrina Vitória Regina, era erudita, amante das letras, apreciava as artes, tocava piano e praticava a pintura. Marcou a historia daquele país de tal forma que seu reinado é denominado Era Vitoriana, por uma série de ações na área sócia,l como a abolição da escravatura no Império Britânico; redução da jornada de trabalho para dez horas; instalação do direito ao voto para todos os trabalhadores; expansão das Colônias; grande ascensão da burguesia industrial, entre outros feitos. Assumindo o trono aos 18 anos, teve nove filhos com o primo e Príncipe Alberto, com quem, por um amor profundo casou aos 21. Enviuvou aos 42 anos, conservando luto até sua morte, quatro décadas depois. Comentando a citada notícia, diz Kardec: “Uma carta de pessoa bem informada revela que, recentemente, num conselho privado, onde fora discutida a questão dinamarquesa, a Rainha Vitória declarou que nada faria sem consultar o príncipe Alberto( morrera). E com efeito, tendo-se retirado por um pouco para seu gabinete, voltou dizendo que o “príncipe se pronunciava contra guerra. Esse fato e outros semelhantes transpiraram e originaram a ideia de que seria oportuno estabelecer uma regência”. Seguindo o Codificador acrescenta: “-Tínhamos razão ao escrever que o Espiritismo tem adeptos até nos degraus dos tronos. Poderíamos ter dito: até nos tronos. Vê-se, porém, que os próprios soberanos não escapam à qualificação dada aos que acreditam nas comunicações de Além-túmulo(...). O Journal de Poitiers, que relata o mesmo caso, o acompanha desta reflexão: Cair assim no domínio dos Espíritos não é abandonar o das únicas realidades que tem de conduzir o mundo?”. Até certo ponto concordamos com a opinião do jornal, mas de outro ponto de vista. Para ele os Espíritos não são realidades, porque, segundo certas pessoas, só há realidade no que se vê e se toca. Ora, assim, Deus não seria uma realidade e, contudo, quem ousaria dizer que ele não conduz o mundo? Que não há acontecimentos providenciais para levar a um determinado resultado? Então, os Espíritos são instrumentos de sua vontade; inspiram os homens, solicitam-nos, mau grado seu, a fazer isto ou aquilo, a agir neste sentido e não naquele, e isto tanto nas grandes resoluções quanto nas circunstâncias da vida privada. Assim, a esse respeito, não somos da opinião do jornal. Se os Espíritos inspiram de maneira oculta, é para deixar ao homem o livre-arbítrio e a responsabilidade de seus atos. Se receber inspiração de um mau Espírito, pode estar certo de receber, ao mesmo tempo, a de um bom, pois Deus jamais deixa o homem sem defesa contra as más sugestões. Cabe-lhe pesar e decidir conforme a sua consciência. Nas comunicações ostensivas, por via mediúnica, não deve mais o homem abnegar o seu livre-arbítrio: seria erro regular cegamente todos os passos e movimentos pelo conselho dos Espíritos, por que há os que ainda podem ter ideias e preconceitos da vida. Só os Espíritos Superiores disso estão isentos(...). Em princípio os Espíritos não nos vem conduzir; o objetivo de suas instruções é tornar-nos melhores, dar fé aos que não a tem e não o de nos poupar o trabalho de pensar por nós mesmos”.
Uma ouvinte de nosso programa questiona a atuação de grupos religiosos que pregam a chamada “teologia da prosperidade”, incentivando os fiéis a buscar vantagens financeiras e sociais através de sua crença e do culto a Deus. Ela não só não concorda com esse tipo de aliciamento religioso, que dá falsas esperanças aos seus seguidores, como condena também a forma como esses grupos arrecadam dinheiro em nome de Deus.
Primeiramente, precisamos considerar que a exploração da fé é tão antiga quanto a humanidade. Desde a antiguidade, a religião serviu mais aos seus chefes e líderes do que ao interesse e necessidades do povo. Isso é o mesmo que dizer que ela foi usada para atender a uma minoria de privilegiados, que sempre se manteve no poder, gozando de vantagens e regalias, que nada tinham de espiritual.
Desse modo, a fé simples e natural daqueles, que sempre sonharam com a glória eterna, acabou servindo aos dominadores, criando uma classe de exploradores da boa fé, a que Jesus chamou de hipócritas ou túmulos caiados. Quando ele se manifestou contra os fariseus - que se diziam adoradores de Deus, mas que na verdade eram defensores de seus interesses mesquinhos – foi no sentido de alertar o povo para não continuar caindo nessa armadilha.
Portanto, cara ouvinte, abra os evangelhos e veja como Jesus ficou indignado diante de tamanha falsidade e covardia por parte daqueles que viviam louvando a Deus e falando dos deveres sagrados, mas que por trás eram oportunistas de mau caráter à procura de vantagens imediatas. Por outro lado, Jesus falava com autoridade moral, porque ele mesmo nasceu pobre, viveu na pobreza, e trouxe para junto de si homens tão simples e tão pobres quanto ele mesmo.
A riqueza para Jesus, em todos os lances de seus ensinamentos, como é fácil ver nos evangelhos, não era o acúmulo de bens e vantagens materiais, mas a conquista das virtudes morais. Jesus entendia que o homem apegado aos bens materiais torna-se seu escravo e se corrompe. “De que vale ao homem ganhar o mundo, se perder a sua alma? – questionou. E noutra ocasião: “Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração” – referindo-se ao Reino dos Céus – ou seja, ao reino interior do espírito, o único capaz de nos levar à felicidade aqui e no mais além.
Quando o moço rico quis segui-lo, episódio que todos nós conhecemos, Jesus o aconselhou: “Vende tudo o que tens e dê aos pobres”. Repare que ele não disse, “venda o que tens e me traga o dinheiro, porque precisamos dele”. Não. Ao dizer “vende o que tens”, ele estava ensinando o desapego aos bens terrenos, aos valores materiais transitórios, e ao dizer “dê aos pobres”, ele estava ensinando a benevolência para com o próximo, o que deveria nos proporcionar a mais elevada sensação de paz e felicidade.
Portanto, cara ouvinte, a verdadeira religião – ou aquela que podemos afirmar seguramente que segue Jesus – só pode ser a que ensina a prática do bem e a convivência fraterna. Assim como Jesus jamais arrecadou dinheiro ou pediu bens em troca, porque sua doutrina é exatamente o contrário de tudo isso, a verdadeira religião cristã é a que ensina que a nossa real prosperidade não é a conquista de bens terrenos, mas a conquista de bens espirituais.
Evidentemente não somos contra as riquezas, mas somos contra aqueles que as amontoam desonestamente e delas se utilizam para enganar e explorar o povo. Quem só acredita nesta vida curta e incerta, que vivemos aqui na Terra, certamente vai achar que só aqui poderá ser feliz com os bens que puder conquistar. Mas quem crê na continuidade da existência, que sabe que daqui partiremos e não levaremos conosco nem mesmo o nosso corpo, tem certeza de que sua única e verdadeira riqueza, seu único e verdadeiro tesouro, é o bem que vez e amor que semeou entre seus irmãos de humanidade.
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