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quinta-feira, 10 de novembro de 2022

PONTO DE VISTA; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Abrindo o número de julho de 1862 da REVISTA ESPÍRITA, encontramos interessante matéria intitulada PONTO DE VISTA. Allan Kardec, como sempre, surpreende pela coerência de sua análise. Merece uma reflexão sobreo tema. Diz o Codificador: “- Não há quem não tenha notado quanto as coisas mudam de aspecto, conforme o ponto de vista sob o qual são consideradas. Não só se modifica o aspecto , mas, também, a importância da coisa. Coloquemo-nos no centro de qualquer coisa, mesma pequena, e parecerá grande; se nos colocarmos fora, será outra coisa.. Quem vê uma coisa do alto de um monte a vê insignificante, mas de baixo ela parece grande. É um efeito de ótica, mas também se aplica às coisas morais. Um dia inteiro de sofrimento parecerá uma eternidade; à medida que o dia se afasta de nós admiramo-nos de haver desesperado por tão pouco. Os pesares da infância também tem uma importância relativa e, para a criança, são tão amargos quanto para a idade adulta. Por que, então, nos parecem tão fúteis? Porque não mais os sentimos, ao passo que a criança os sente completamente e não vê além de seu círculo de atividade; ela os vê do interior, nós, do exterior. Suponhamos um ser colocado, em relação a nós, na posição em que estamos em relação à criança; ele julgará as nossas preocupações do mesmo ponto de vista, e as achareis pueris(...). O Espiritismo nos mostra uma aplicação deste princípio, mas de outra importância nas suas consequências. Ele nos mostra a vida feita no que ela é, colocando-nos no ponto de vista futura; pelas provas materiais que nos oferece, pela intuição clara, precisa, lógica que nos dá, pelo exemplos postos aos nossos olhos, transporta-nos pelo pensamento: a gente a vê e a compreende; não essa noção vaga, incerta, problemática, que nos ensinavam do futuro, e que, involuntariamente, deixava dúvidas; para o espírita é uma certeza adquirida, uma realidade. Faz mais ainda: mostra-nos a vida da alma, o Ser essencial, porque é o Ser pensante, remontando no passado a uma época desconhecida, estendendo-se indefinidamente pelo futuro, de tal sorte que a vida terena, mesmo de um século, não passa de um ponto nesse longo percurso. Se vida terrena é pouca coisa comparada com a vida da alma, que serão os acidentes da vida? Entretanto o homem colocado no centro da vida, com esta se preocupa como se fosse durar para sempre. Para ele tudo assume proporções colossais: a menor pedra que o fere, afigura-se-lhe um rochedo; uma decepção o desespera; m revés o abate; uma palavra o enfurece. Com a visão limitada ao presente, àquilo que toca imediatamente, exagera a importância dos menores acidentes; um negócio de Estado; uma injustiça o põe fora de si. Triunfar é um de seus esforços, o objetivo de todas as suas combinações; mas, quanto à maioria delas, que é o triunfo? Será, se se não possuem os meios de vida, criar por meios honestos uma existência tranquila? Será a nobre emulação de adquirir talento e desenvolver a inteligência? Será o desejo de deixar, depois de si, um nome justamente honrado e realizar trabalhos úteis à Humanidade? Não. Triunfar é suplantar o vizinho, eclipsá-lo, afastá-lo, mesmo derrubá-lo, para lhe tomar o lugar. E para tão belo “triunfo”, que talvez a morte não deixe aproveitar vinte e quatro horas, quantas preocupações e tribulações!. Quanto talento por vezes despendido e que poderia ser melhor empregado! Depois, quanta raiva, quanta insônia se se não triunfar! Que febre de inveja causa o sucesso de um rival! Assim, culpam a má estrela, a sorte, a chance fatal, ao passo que a má estrela as mais das vezes é a inabilidade e a incapacidade. Na verdade dir-se-ia que o homem assume a tarefa de tornar os mais penosos possíveis os poucos instantes que deve passa na Terra e dos quais não é senhor, pois jamais tem certeza do dia seguinte. Como tudo isso muda de aspecto quando, pelo pensamento, sai o homem do vale estrito da vida terrena e se eleva na radiosa, esplendida e incomensurável vida além-túmulo?(...) Tal ponto de vista tem para o homem outra enorme consequência imediata: é a de lhe tornar mais suportáveis as tribulações da vida.


O assunto, de que vamos tratar agora, foi sugerido pelo nosso ouvinte, Nelson Carvalho, e diz o seguinte: “Vejo que a ciência está cada vez mais materialista. Será que, um dia, a ciência vai descobrir Deus?”


A ciência, Nelson, surgiu da necessidade de o homem resolver problemas práticos e imediatos do dia-a-dia, e não de buscar o significado mais profundo da vida. Por exemplo: se houver um problema elétrico em sua casa, você vai procurar um eletricista; ele vem e resolve o problema, e você fica satisfeito. Quem descobriu as leis que regulam os fenômenos elétricos, foi a ciência. Logo, descobriu como utilizar a eletricidade em nosso benefício. Se você sentir um mal-estar, procurará um médico, e é bem provável que ele recomendará o uso de um medicamento que vai livrá-lo desse incômodo. Quem estuda o corpo humano e a causa das doenças é a medicina, e com isso ela contribui para resolver grande parte dos problemas de saúde.


Logo, a ciência investiga as leis da natureza – ou seja, como que as coisas funcionam. Descobrindo essas leis, o homem é capaz de inventar instrumentos pelos quais pode resolver muitos de seus problemas e facilitar sua vida. É assim que vem se dando o progresso material e intelectual da humanidade ao longo dos séculos e é por isso que hoje, século 21, alcançamos um considerável grau de desenvolvimento, melhorando muito nossa vida. Gozamos de mais conforto hoje do que em qualquer outra época da história. Desse modo, o máximo que a ciência pode descobrir é como funcionam determinadas leis naturais. Este é seu objeto de estudo e é nisso que se concentra sua preocupação.


Mas não é objeto da ciência descobrir de onde vieram essas leis, se elas têm ou não têm um autor, porque este tipo de investigação não está ao alcance de seus métodos e também não é a sua finalidade. Estudar a causa das causas, ou a causa primeira ainda pertence ao campo da filosofia, e não da ciência. Por mais que ela busque explicações para os fenômenos, sempre estará vasculhando o campo material desses fenômenos, aos quais atribuirá uma infinidade de causas. Por exemplo: a ciência saberá dizer quais os agentes que determinaram o surgimento de uma doença grave e fatal numa pessoa, mas não é de sua competência explicar qual o significado espiritual dessa doença, qual o significado mais profundo da vida dessa pessoa.


A filosofia, Nelson ( diferentemente da ciência) não atua diretamente no campo material: ela busca razões, não as razões imediatas ( que é papel da ciência), mas as razões mais profundas, as causas, a origem e a finalidade de tudo. Ela procura desvendar as causas primeira, como o sentido da vida, porquê de nossa existência, o Bem, a Verdade, a Justiça, a Beleza – que são valores abstratos, não passíveis de serem avaliados ou medidos, nem tampouco estudados em laboratório. Assim, a filosofia interessa-se principalmente em explicar as causas primárias, a razão de nossa existência, o princípio do princípio – que não pode ser alcançado apenas por meros experimentos. Portanto, Deus é objeto de estudo da filosofia e não da ciência.


A religião também cuida de Deus, mas a religião trata de Deus apenas sob o ponto de vista da fé, ou seja, do fato de a pessoa acredita ou aceitar como verdade sem precisar de provas, porque a religião fala mais ao sentimento que à razão. Para que o conhecimento humano sobre a vida possa ser mais abrangente – mais amplo e mais profundo - precisamos unir a ciência, a filosofia e a religião ( a razão e o sentimento)e, então, teremos o que a Doutrina Espírita procura atingir, a síntese de todos os campos de conhecimento que a humanidade conseguiu reunir até hoje, para que o homem entenda o seu verdadeiro papel no mundo.


Quanto à existência de Deus, Nelson, trata-se ainda de uma convicção de cada pessoa, utilizando o conhecimento que já adquiriu, seja esse conhecimento religioso, filosófico ou científico - ou os três ao mesmo tempo. Por isso, você vai encontrar cientistas que não acreditam em Deus (por uma série de razões), como existem aqueles que trazem consigo uma firme convicção na existência de um Ser Perfeito e causador de tudo que existe, ficando essa questão, por enquanto, no campo das experiências e das especulações pessoais. Mas, precisamos considerar que, se Deus não está ao alcance da ciência, é provável que no futuro ela vem vislumbrar a existência do Espírito


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