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quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

A PREVENÇÃO TALVEZ EVITASSE; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Passava das 20:30 horas quando o interfone tocou. Do outro lado, o porteiro do edifício, visivelmente alterado, perguntava se o filho da dona do apartamento estava em casa. Ante a resposta afirmativa e a informação que havia beijado os pais, minutos antes, desejando boa noite para ir dormir, a insistência do interlocutor, por via das dúvidas, fez a mãe dirigir-se ao quarto para confirmar. Encontrando o quarto vazio, voltou ao interfone, ouvindo a sugestão para que descesse ao térreo, para, em meio à aflição e ansiedade, a terrível constatação: o rapaz atirara-se do decimo oitavo andar do prédio, estatelando-se no solo. Único filho de um casal bem sucedido e estável profissionalmente, o adolescente, deixara um bilhete aos pais expressando seu amor por eles, acrescentando que este mundo” não era para ele. Investigações encontraram em seu computador, mensagens trocadas com integrantes de um grupo social, com conteúdo assustador dentro do que se poderia considerar normal. O pior é que no decorrer da semana que se seguiu, outros três suicídios na mesma faixa etária foram registrados na maior das metrópoles da América do Sul. Tais acontecimentos, por sinal, tem aumentado sua incidência nos últimos meses, segundo estatísticas nem sempre divulgadas. O interessante é que no numero de outubro de 1866, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec reproduziu uma mensagem obtida pelo método de sonambulismo, em abril daquele ano, através de dois médiuns identificados apenas por iniciais, em que foi feita uma projeção e prognóstico dos acontecimentos que marcariam os desdobramentos futuros da etapa de transição pela qual passa o Planeta e seus habitantes. Em meio às previsões, dizem: “- E como se a destruição não marchasse bastante depressa, ver-se-ão os suicídios multiplicando-se numa proporção incrível, inclusive em crianças”. Tentando entender esse fato causador de tão lancinante dor moral no organismo social, encontramos n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, na nota à questão 685, uma pergunta lançada por Kardec, cuja resposta pode ajudar a entender a razão destes acontecimentos: “-Quando se pensa na massa de indivíduos, diariamente lançados na corrente da população, sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das consequências desastrosas desse fato?”. A predominância do materialismo, a voracidade da sociedade de consumo; a falência, o descrédito e a falta de espiritualidade das religiões, criaram a crise observável na estrutura fundamental dos agrupamentos humanos: a família. Mesmo os seguidores do Espiritismo, desconhecem o conteúdo específico de sua obra fundamental a respeito de questões relacionadas à paternidade, maternidade, os elementos que não podem ser esquecidos na formação das personalidades entregues a seus cuidados, na condição de filhos. As Casas Espíritas e seus dirigentes enfatizam muito mais temas distantes da educação moral fundamentadas na lógica dos ensinos de Jesus, ele mesmo apontado como o guia e modelo mais perfeito para nos inspirar os passos. Sem investimentos na infância, não se terá um futuro melhor. Como escreveu o Espírito da Verdade, na resposta à questão 800 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, “as ideias se modificam pouco a pouco, com os indivíduos, e são necessárias gerações para que se apaguem completamente os traços dos velhos hábitos”. Evidente que o poder de influenciação dos meios – circunscritos aos Centros Espíritas e algumas publicações - de divulgação espiritas ainda é incipiente, em grande parte pelas dissimuladas disputas internas entre lideranças que se outorgam a ilusória ideia de serem os detentores dos conhecimentos mais precisos e acertados. Enquanto isso, campeiam avassaladoramente a violência e a dor, que poderiam ser atenuadas ou evitadas, não fosse a ignorância sobre conteúdos específicos da Terceira Revelação. E, nesse sentido, a propagação do Espiritismo seria importante preventivo.

Tereza Palma, da Avenida 7 de Setembro nº 1043, em Vera Cruz, pergunta se tem fundamento o fato de se atribuir ao sangue, que Jesus derramou, o poder de salvar os homens de seus pecados, isentando-os de pagar pelos erros que cometeram.


Respeitamos, Tereza, quem acredita no resgate de nossas dívidas morais pelo “sangue de Jesus”, porque, como já dissemos inúmeras vezes por este programa, toda crença sincera é sagrada e, portanto, respeitável e inviolável. Mas, no Espiritismo, pensamos diferente. Para nós, o dogma da redenção pelo sangue decorre de interpretação de textos evangélicos ao pé da letra, sem levar em conta que Jesus se utilizou de uma linguagem figurada, alegórica, cheia de imagens e comparações, para transmitir seus ensinamentos, pois sua doutrina era toda espiritual.


Segundo a visão espírita, os evangelhos ou quaisquer outros escritos da antiguidade – portanto, muito distantes de nós e com valores muito próprios das culturas da época – precisam ser analisados, partindo do geral para o particular. Isto é, quando falamos de Jesus – antes mesmo de querermos interpretar versículos isolados dos evangelhos – precisamos partir do sentido amplo de sua doutrina, ou seja, qual a sua finalidade. Ora, o novo mandamento que Jesus trouxe foi o amor ao próximo e, conseqüente, o amor a Deus. É disso que devemos partir.


Sendo o amor a finalidade de tudo, é para o amor que - eu, você... - todos existimos e é, portanto, para o amor que fomos criados. Deus é amor. Logo, vivenciar o amor é vivenciar Deus no coração. Quando Jesus recomenda “Sede Perfeitos, como vosso Pai Celestial é perfeito”, ele está nos concitando a amar o próximo como devemos amar a nós mesmos e, ao mesmo tempo, afirmando que caminhamos para a perfeição, e este caminho (que é cumprimento de seu mandamento) é o caminho do aperfeiçoamento constante.


Isso quer dizer, é claro, que somos imperfeitos, que erramos, que ainda praticamos o mal e é por isso que precisamos nos aperfeiçoar. No entanto, esta condição é transitória, passageira, porque à medida que vivemos, vamos nos aperfeiçoando, sempre respondendo pelos atos que praticamos. Quando ele afirma “a cada um segundo as suas obras” é nesse sentido. Logo, não há remissão do pecado, a não ser pelo pagamento da dívida moral que contraímos. Não basta ter fé, não basta se arrepender: é indispensável consertar o erro ou reparar o mal que causou.


Seria absurdo alguém pagar pelo erro do outro. Nem a justiça humana aceita essa regra. É por isso que no Direito Penal até mesmo a confissão não é prova suficiente da autoria do crime, porque aquele que confessou pode estar tentando proteger o verdadeiro criminoso e isso, às vezes, acontece. O ato, que fere a lei, é inteiramente pessoal; a culpa é intransferível, não passa de uma pessoa para outra. Ninguém responde por ninguém; cada um responde sempre pelos próprios atos. Isto é um princípio básico de justiça, Tereza, e não poderia ser diferente.


Ora, até podemos afirmar que Jesus sofreu por nós – isto é, pelo nosso bem, pela nossa felicidade – assim como um pai ou uma mãe se sacrificam pelo bem-estar de seus filhos. Mas eles sofrem para ajudá-los, eles não podem sofrer em seu lugar, pois isso seria injusto e, na Lei de Deus, não há injustiça. Imagine um individuo que a vida toda só fez o mal, praticou violência, causou sofrimento em muita gente e, de repente, sentindo-se ameaçado pela condenação eterna, resolve acreditar em Deus e – só por que se entrega a alguns atos de adoração – tem todos os seus pecados perdoados.


Então perguntamos: Como é que ficam suas vítimas? Será que elas vão perdoá-lo simplesmente? E essas vítimas se salvarem e forem para o céu, como se comportarão diante daquele que as maltratou, se o encontra lá? Pior que isso: e a consciência do culpado, ao despertar, ficará quites consigo mesma, apenas porque foi perdoada? E o mal que fez? E o sofrimento que causou? Ora, Tereza, a Doutrina Espírita considera que todos somos responsáveis pelos nossos atos e vamos prestar contas de um por um, até alcançarmos o estado de harmonia conosco mesmos.


A missão de Jesus foi realmente o de salvar a humanidade. Não com uma salvação mágica, que passa por cima dos erros cometidos e finge que todo mundo é bom, mandando-os para o céu. Mas, sim, da salvação do egoísmo e do orgulho, as duas grandes chagas da humanidade, que Jesus mais combateu, quando nos ensinou a solidariedade, a tolerância, o respeito, a compreensão e o perdão. Este é o caminho da verdadeira salvação, porque o céu, Tereza, não é propriamente um lugar de delícias e ociosidade, mas um estado de alma em que a pessoa se sente feliz consigo mesma e com os irmãos de humanidade.


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