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domingo, 11 de dezembro de 2022

AVERSÕES INEXPLICÁVEIS; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Quinze dias após ter sido internado para se submeter a desintoxicação alcóolica que já provocava delírio e alucinações, restabelecido, foi possível conhecer parte da história daquele caboclo forte, disposto, trabalhador, dedicado a conduzir gado pelas estradas. Casado, pai de seis filhos, dois dos quais, àquela altura, casados, dizia-se um homem econômico que jamais deixou faltar nada para os seus, inclusive educação primária, ofício para os rapazes e todas as prendas domésticas para as filhas, como era habitual na época. Durante a formação dos filhos, jamais procurou corrigi-los com castigos corporais, tampouco se lembrava de ter proporcionado à esposa momentos reprováveis pela sua conduta. Lutou enquanto os filhos cresciam para proporcionar-lhes conforto para o presente, e, se possível, evitar-lhes preocupações financeiras para o futuro. Entre as inúmeras viagens que no exercício de sua profissão, todavia, apesar da ausência, ao retornar ao lar, era tratado com frieza por todos, situação agravada nos últimos três anos, considerando suas permanências em casa serem mais frequentes. Ouvida, sua esposa não só confirmou tudo como disse sofrer muito com as atitudes dos filhos, dos quais se tornara confidente, revelando que o temiam e detestavam, a ponto de desaparecerem de casa, quando estivesse presente. O quadro se assemelha ao observado na vida de muitas famílias. O conhecimento do Espiritismo, contudo, pode auxiliar na avaliação de fatos semelhantes. Isto porque, segundo Allan Kardec em observação n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, nos programas reencarnatórios objetivando o progresso das individualidades, “o Espírito renasce frequentemente no mesmo meio em que viveu, se relaçionando com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenha feito. Explica ainda que a “sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos laços que remontam às vidas anteriores, donde decorrem as causas da simpatia entre os envolvidos e outros que parecem estranhos”. Já no século 20, através do médium Chico Xavier, o Espírito conhecido como André Luiz transferiu para nossa Dimensão, OBREIROS DA VIDA ETERNA (1946; feb), obra onde encontramos interessante ponderação de um Assistente de nome Barcelos que, entre outras coisas,diz que “em obediência às lembranças vagas e inatas, os homens e as mulheres, jungidos uns aos outros pelos laços de consanguinidade ou dos compromissos morais, se transformam em perseguidores e verdugos inconscientes entre si. Os antagonismos domésticos, os temperamentos aparentemente irreconciliáveis entre pais e filhos, esposas e esposos, parentes e irmãos, resultam de recapitulações retificadoras do pretérito distante (...). Sentem e veem na tela mental, dentro de si mesmos, situações complicadas e escabrosas de outra época, malgrado os contornos obscuros da reminiscência, carregando consigo fardos pesados de incompreensão”. E o caso apresentado no início, destacado do livro A PSIQUIATRIA EM FACE DA REENCARNAÇÃO (feesp) do médico Inácio Ferreira, diretor do Sanatório Espírita de Uberaba desde sua fundação até desencarnar nos anos 80, bem ilustra a dinâmica revelada pela Doutrina Espírita. Através da excepcional médium Maria Modesto Cravo que não apenas ajudou a construir e fundar a casa de saúde citada como era aproveitada em suas faculdades mediúnicas no socorro a muitas criaturas nela internadas. Buscando entender o fator causal do drama do paciente, viram-se diante de uma entidade espiritual ligada aos envolvidos no drama atual. Apontava a vitima de agora como um assassino e ladrão em existência pregressa na cidade Ilhéus, na Bahia. Segundo o comunicante ele pretendia casar-se com uma das filhas do doente em tratamento, intenção frustrada, a princípio por falta de recursos por não encontrar serviço compensador. O homem focalizado matou cruelmente um indivíduo, fugiu à Justiça e integrou-se a um dos muitos bandos existentes na região, dedicados a saquear e arrasar lugarejos, espalhando o terror. Retornando esporadicamente às escondidas ao seu lar, geralmente maltratando esposa e filhos, tomando conhecimento do seu interesse por sua filha, levou-a, uma noite, entregando-a a um dos componentes do seu bando, impondo a morte à esposa. O Espírito manifestante, contou ainda que conseguiu empregar-se num convento, e, diante de terrível seca que se abatia sobre a região, foi encarregado com outro funcionário de fazer compras pelas redondezas, tendo sido vitima de assalto praticado pelo bando. Seu amigo escapou, mas ele foi morto pelo “monstro” do qual queriam informações, tendo sido amarrado pelos pés e arrastado pelo cavalo que ele montava, por ter ouvido ser seu desejo vê-lo um dia, amarrado no pelourinho existente em frente ao convento. Revelou, por fim que, sua esposa, filhos e filhas atuais, são os mesmos daquela vida passada.


Conheço pessoas que levam uma vida tranquila, sem grandes problemas, enquanto outras mal saem de um problema e já aparece outro. Acredito que Deus não seria justo em proteger uma e abandonar outra, porque, afinal, para quê ele nos criou! Acho que não é por causa dos pecados que cometemos nesta vida, porque nem sempre aquele que sofre mais é uma má pessoa; pelo contrário, às vezes, é uma excelente pessoa. Quero saber se essa diferença depende dos pecados que cometeram em outra encarnação. (Wilma Fabiana Borges -Marília)


Wilma, você tem razão quando diz que Deus é justo e que, portanto, as causas de nosso sofrimento não podem provir simplesmente de sua vontade. É precisamente isso que o Espiritismo afirma. Cada um constrói o seu próprio caminho. Mas o caminho, Wilma, não começa com o nascimento e tampouco termina com a morte. Se tivéssemos apenas uma única vida, estes poucos anos que aqui permanecemos ( e alguns bem pouco mesmo: quantos morrem na juventude ou na infância!) , não teria como entender a Justiça de Deus, uma vez que cada um faz a sua própria trajetória de vida.


Por outro lado, há pessoas que têm uma vida muito atribulada. Parece que nasceram marcadas para sofrer. Enquanto outras parecem agraciadas por uma vida aparentemente tranqüila, sem maiores problemas. É claro que essas pronunciadas diferenças entre elas não podem ser obra de Deus. Quanto a isso, antes de qualquer tentativa de explicação, vamos lhe indicar uma leitura muito oportuna e importante: é o capítulo 5 de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO de Allan Kardec. O título desse capítulo é: “Bem-aventurados os Aflitos”.


Ali, Kardec classifica os sofrimentos humanos em duas categorias. Primeiro, aqueles que têm causas nesta mesma encarnação e que, por sinal, são os mais freqüentes. A segunda categoria é dos sofrimentos que resultam de vidas passadas. Kardec enfatiza bem que, primeiramente, precisamos procurar se o sofrimento, pelo qual estamos passando, tem causa na vida presente. A maioria tem. Resulta, muitas vezes, da falta de conhecimento e de habilidade para viver. Quando não sabemos nos relacionar bem com as pessoas, por exemplo, sofremos decepções. Quando nos propomos a fazer o que não sabemos, sofremos frustrações, e assim por diante.


Conta-se que o feiticeiro de uma tribo levou um jovem a uma floresta para iniciá-lo nas lições de vida. Ao adentrar a densa mata, o feiticeiro ia à frente célere, saltando e desviando de obstáculos, enquanto o jovem ia atrás tropeçando, caindo e xingando o tempo todo. Quando chegaram a uma imensa clareira e o jovem pensava que iam descansar, o feiticeiro simplesmente fez meia volta e disse que deviam retornar. O jovem se revoltou, disse que até ali só tinha sofrido, que não aprendera nada e que não agüentava mais. O feiticeiro voltou-se e disse que, de fato, só soubera reclamar e chorar todo o tempo, não perguntara nada, não prestara atenção no caminho, e não fora suficientemente humilde para aprender para superar os obstáculos. Assim somos nós, muitas vezes, na estrada da vida.


Não basta querer viver bem: é preciso saber como. E, para aprender, precisamos, pelo menos, de duas coisas: de humildade e de paciência. Muita gente sofre muito porque não presta atenção no caminho que percorre, quer fazer as coisas à sua maneira, não busca ajuda, não ouve outras opiniões, não procura aprender coisas novas e não se melhora. De maneira que vivem tropeçando nos próprios erros e acabam sacrificando sua felicidade, quando não, importunando os outros. A vida é uma escola, Wilma. Não basta viver, não basta sofrer: é preciso aprender a viver bem e para isso é preciso aprender a lidar com o sofrimento. Esta é uma das razões porque reencarnamos muitas vezes.


Todavia, Wilma, há causas de aflições que não estão na vida presente - quando apesar da humildade e da paciência, ainda assim o caminho é espinhoso, então, com certeza, nosso problema vem do passado, de outras encarnações. Ainda nesses casos, não basta apenas olhemos para trás: o passado não volta, não podemos mais modificar o que passou Precisamos nos fixar no presente, fazer o melhor ao nosso alcance com humildade e paciência; e, daqui pra frente, aceitarmos os revezes da vida com resignação e coragem, sem desistir, mas sobretudo procurando manter a consciência tranquila e a certeza na continuidade da existência além do tempo que nos resta na Terra.



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